Ensaio clínico randomizado conduzido na Europa apresenta ferramenta capaz de melhorar a prescrição e, assim, contribuir com a luta contra a resistência antimicrobiana
Uma das grandes preocupações da saúde mundial está em combater a resistência antimicrobiana desencadeada pelo uso inapropriado – ou exagerado – de antibióticos. Essa deve ser, inclusive, uma atitude adotada pelos médicos prescritores e também pelas instituições de saúde. Tanto que há, no Brasil e em outros diversos países, projetos de Stewardship para melhor gerenciamento do uso de antimicrobianos.
Como exemplo de como os hospitais podem agir, temos um ensaio clínico randomizado conduzido com mais de mil idosos de quatro países europeus (Polônia, Holanda, Noruega e Suécia) que avaliou se é possível melhorar a prescrição de antibióticos para pacientes acima dos 70 anos com suspeita de infecção do trato urinário adotando um modelo de intervenção multifacetada.
Esse modelo consistia em uma ferramenta para a tomada de decisão desenvolvida por uma equipe internacional de especialistas e congruente com as diretrizes de tratamento mais recentes, capaz de induzir a uma prescrição de antibióticos mais adequada. Como apoio a essa ferramenta, os profissionais contavam com diversos materiais educativos, desde cartões de bolso, folders e cartazes, e, também, com treinamentos sobre o diagnóstico da infecção do trato urinário e reuniões que estimulavam a reflexão sobre o atual cenário.
Dos 1.041 envolvidos, 799 não receberam antibióticos para suspeita de infecção do trato urinário durante o período avaliado. Duzentos e quarenta e dois receberam cerca de 1,4 prescrições cada. Os pacientes – que tinham 86,3 anos em média e muitos apresentavam comorbidades como doença cardiovascular – foram divididos em dois grupos. Como resultado, durante o período de acompanhamento:
- No grupo de intervenção foram anotadas 54 prescrições de antibióticos para 202 pessoas por ano, o que leva a uma taxa de 0,27 prescrições por pessoa por ano
- No grupo de controle, foram observadas 121 prescrições para 209 pessoas por ano, o que leva a uma taxa de 0,58 prescrições por pessoa por ano
Com isso, notamos que os participantes incluídos no processo de implementação de um modelo de intervenção multifacetada, receberam menos antibióticos. E, dando sequência ao acompanhamento, o estudo sugere que não houve diferença significativa na incidência de complicações, volume de internações e mortalidade.
Dessa forma, se a instituição reduz a administração de antibióticos e não tem, como reflexo, uma piora dos pacientes, entende-se que aquelas prescrições poderiam ser desnecessárias. Portanto, entende-se que adotar essa prática auxilia os idosos frágeis a receberem um volume de antibióticos que seria, de qualquer maneira, ineficaz para a melhora do seu quadro clínico.
De acordo com Lucas Zambon, diretor científico do IBSO, “muitas organizações têm dificuldade em colocar em prática um gerenciamento apropriado do uso de antimicrobianos”. O executivo complementa: “O que pode ser feito na prática é escolher um nicho em específico e atuar nele, assim como demonstra este estudo, focado em infecções urinárias em idosos. Inclusive, este tipo de ação pode ser desenvolvida em unidades de atenção primária e prontos-socorros, locais que tendem a gerar muitas prescrições desnecessárias de antibióticos”.
Referências:
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