Instituto internacional listou os principais pontos de atenção e quais as ações necessárias para tratá-los
O Emergency Care Research Institute (ECRI) publicou uma lista com as 10 principais preocupações atuais com a segurança do paciente, tema que vale a pena ser debatido pelas equipes multidisciplinares. Segundo o Instituto, o foco está naqueles riscos que podem ter maior impacto nos pacientes. Além de listar os problemas, o documento sugere ações para solucioná-los. Confira, abaixo, em detalhes!
1- Saúde mental pediátrica
Os problemas de saúde mental entre crianças e adolescentes foram agravados com a covid-19, sendo que houve aumento de 29% na taxa de pacientes entre 3 e 17 anos que apresentavam ansiedade e de 27% naqueles com sintomas de depressão no ano de 2020.
O ponto principal do debate está no fato que apenas metade das crianças e jovens com depressão grave são diagnosticados e, dos diagnosticados, apenas 40% recebem tratamento. A crise se dá, principalmente, pois doenças mentais iniciadas na infância e não tratadas tendem a ser mais frequentes na fase adulta.
Para melhorar a saúde mental de crianças e jovens, o Instituto sugere ações como formar equipes estratégicas para avaliar o atendimento dos pacientes pediátricos, encaminhar para a assistência psicológica os pacientes nos quais são identificadas preocupações com a saúde mental durante avaliações, formar equipes de resposta a emergências e verificar se os protocolos estão atualizados com base nas novas evidências, treinando as equipes sobre a implementação deles.
2- Violência física e verbal contra profissionais de saúde
Seja advinda de pacientes ou de colegas de trabalho, a violência física ou verbal no ambiente de saúde infelizmente é uma realidade, tanto que alguns profissionais acabam aceitando um determinado nível de agressões como se essas atitudes fizessem parte da rotina de trabalho.
No âmbito organizacional, o relatório sugere ações como a formalização de um programa contra a violência no local de trabalho, desenvolvida por meio de um comitê, e o incentivo a denúncias. Entre as equipes, sugere inclusive a implementação de um alarme de pânico e a criação de uma resposta rápida pós-incidentes. Na parte cultural, além de ofertar treinamento para prevenção, sugere uma revisão dos incidentes relatados para a criação de ações de melhorias específicas para cada instituição. Entre pacientes, o foco seria puramente educacional.
3- Medicina materno-fetal em tempos de incertezas
Nesse tópico, entram questões relativas ao aborto, um assunto bastante delicado com tratamento totalmente diferente em cada país. No Brasil, por exemplo, o tema tem sido constantemente debatido no congresso nacional, porém sem grandes mudanças legislativas nos últimos anos. Assim, o aborto é legalizado em casos de gravidez por consequência de estupro, de anencefalia do feto, ou quando há risco à vida da gestante.
Recomenda-se, então, atenção a qualquer alteração na legislação, o monitoramento de eventos de segurança do paciente, a criação de materiais educativos, o apoio a profissionais que podem se sentir pressionados ou desgastados ao lidar com questões clínicas de gestantes e recém-nascidos, e o compartilhamento de conhecimento.
4- Impacto da atuação além do escopo de trabalho
A sobrecarga dos profissionais de saúde oferece risco à segurança do paciente, cenário que tende a ocorrer principalmente diante de emergências de saúde pública. Em 2022, uma pesquisa norte-americana sugeriu que 26% dos enfermeiros passaram a atender em áreas fora de suas competências e 46% deles declararam não ter recebido nenhum tipo de treinamento antes da transferência.
Para melhorar esse cenário, é preciso identificar as condições inseguras e implementar melhorias. Além disso, o documento do ECRI sugere a criação de conselhos de pacientes para feedback sobre a assistência, a otimização da comunicação entre as equipes e os pacientes, o incentivo para que os profissionais de saúde relatem suas dificuldades e o investimento no desenvolvimento profissional em todos os seus aspectos.
5- Detecção precoce e tratamento da sepse
Todos os anos, cerca de 1,7 milhão de norte-americanos adultos desenvolvem sepse, sendo que 30% deles não sobrevivem. Aqueles que vencem a condição, acabam apresentando sintomas que reduzem a expectativa de vida e pioram as funções física e cognitiva. Detecção precoce (por meio de testes sensíveis e com alto valor preditivo) e tratamento ágil são fundamentais. Estudos sugerem que a administração de antimicrobianos na primeira hora após o reconhecimento da infecção está associada a uma taxa de sobrevivência de quase 80%.
Assim, é necessário, então, definir metas de segurança, estipular protocolos simples que exijam pouco conhecimento técnico, educar pacientes e familiares, e implementar técnicas de detecção precoce da sepse no setor laboratorial.
6- Consequências da baixa qualidade da assistência em pacientes complexos
Nos EUA, 60% dos adultos têm doenças crônicas, o que representa um custo de US$ 3,6 trilhões ao ano para o país, ou seja, 90% dos custos totais com saúde. Pacientes com múltiplas doenças crônicas experimentam mais transições de cuidado e acabam por sofrer mais eventos adversos.
Melhorar a coordenação de cuidados pode ser o caminho para mitigar esses riscos. Entre as ações sugeridas estão o uso de conselhos clínicos para o desenvolvimento de indicadores de desempenho, a criação de equipes multidisciplinares com enfermeiros, farmacêuticos, assistentes sociais e agentes de saúde, o envolvimento do paciente para a tomada de decisão compartilhada, o incentivo a estratégias colaborativas para a construção de relações de confiança entre prestadores de serviços, e o uso de dados para estratégias de melhorias.
7- Segurança medicamentosa
Os “5 certos” da administração medicamentosa – que, no Brasil, foram transformados em “9 certos” – é um dos principais protocolos de segurança nesse segmento. Porém, é preciso ir além para, de fato, garantir a eficácia e evitar riscos.
O ECRI, inclusive, diz que reconhecer as limitações dos “5 certos” pode melhorar a segurança dos pacientes. Além disso, sugere a implementação de novas tecnologias, o incentivo à notificação, o envolvimento do paciente no autocuidado como recurso valioso para a identificação de falhas, a implementação de uma cultura não-punitiva, e a utilização das falhas como ponto de partida para mudanças nos processos.
8- Erros de medicação por falhas de comunicação
Baixo conhecimento ou falhas nos registros médicos causam cerca de metade dos erros de medicação nos hospitais dos EUA. Outro problema grave está na reconciliação de medicamentos como omissão, doses ou medicamentos errados. Revisar os processos, identificar lacunas e buscar oportunidades de melhoria é o melhor caminho para evitar esses casos.
Entre as sugestões de ações estão a padronização dos processos de conciliação medicamentosa, a identificação de fatores organizacionais que colaboram para falhas, a educação dos pacientes para que sempre mantenham suas listas de medicamentos atualizadas, a garantia de um ambiente livre de distrações para a execução dos processos medicamentosos por parte dos profissionais de saúde, e o treinamento das equipes multidisciplinares.
9- Administração acidental de bloqueadores neuromusculares
Durante a ventilação mecânica, o uso equivocado de agentes bloqueadores neuromusculares pode levar à morte. Em uma análise de eventos adversos, pesquisadores identificaram que em metade dos 154 eventos avaliados, o medicamento adequado não era um bloqueador neuromuscular. Esses erros ocorrem, principalmente, por conta de confusão de embalagens semelhantes, falta de rótulos, seringas mal identificadas, armazenamento inadequado, pedidos errados e confusão de doses.
Para evitar esses episódios, é preciso implementar uma cultura justa evitando a culpabilização dos profissionais de saúde. Além disso, o ECRI sugere a criação de comitês de segurança, a avaliação dos fluxos de trabalho para identificar gaps que desencadeiam falhas, e a revisão de informações úteis sobre segurança medicamentosa.
10- Danos evitáveis por omissão de cuidados
A omissão de cuidados é falha comum em todo o mundo. Entre os fatores desencadeantes mais recorrentes estão quantidade insuficiente de profissionais de saúde, aumento da carga de trabalho, ambiente de trabalho ruim, falta de experiência, baixo conhecimento e treinamento, falhas de comunicação, equívocos durante a transição, e deficiências no trabalho em equipe.
Para evitar que pacientes não tenham os cuidados necessários, o ECRI sugere a análise de produtividade das equipes, a busca pela qualificação profissional, realização de rondas para envolvimento de pacientes, realização de reuniões diárias para tratar de necessidades de segurança, e análise dos prontuários eletrônicos para identificar em que setores estão as principais omissões e, então, tomar as medidas cabíveis.
Por fim, nota-se que em praticamente todos os 10 principais desafios, temos ações semelhantes que rondam segmentos como o envolvimento do paciente em todas as etapas do cuidado, o fortalecimento de uma cultura não-punitiva que incentive a notificação de incidentes, o treinamento contínuo dos profissionais de saúde, a criação de comitês para troca de informações e planejamento de melhorias e a utilização de dados e estatísticas internas para a criação de metas e objetivos.
Referências
(1) Top 10 Patient Safety Concerns 2023 Special Report
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