As infecções causadas pelo novo coronavírus dominaram todos os debates da saúde e tomaram ainda mais relevância no Brasil desde meados de fevereiro, quando foi identificado o primeiro paciente com COVID-19 em território nacional. Porém, profissionais da saúde reforçam que é preciso priorizar as diretrizes que prezam pela segurança do paciente mesmo diante da crise. O assunto foi abordado pelos doutores Renato Vieira, médico e diretor do Hospital Infantil Sabará, e Viviane Cordeiro Veiga, médica e especialista em UTI na BP, em um webinar realizado pelo IBSP dia 28 de maio (clique AQUI para assistir).
Na apresentação, Vieira enfatizou a amplitude dos assuntos relacionados à segurança do paciente durante a pandemia. “Quando falamos sobre segurança em época de COVID-19, vemos que é um tema multifacetado. Podemos falar da segurança do paciente infectado, mas também do paciente que não está com COVID-19 e precisa frequentar o hospital; do paciente que tinha uma cirurgia eletiva que foi desmarcada; do que precisa manter as consultas médicas e não mantém por medo do vírus; além de termos, também, os eventos que continuam ocorrendo dentro do ambiente hospitalar”, explicou.
Para Viviane, esse é um momento difícil, mas também de muito aprendizado. “Nunca aprendemos tanto em tão pouco tempo”, comentou. A especialista falou sobre o fato de que muitas instituições tiveram que focar todos seus esforços no atendimento à pacientes infectados pelo novo coronavírus e acabaram deixando alguns protocolos e questões de segurança em segundo plano. “É um processo difícil que venho pensando nos últimos dias. De repente parece que não há mais nada além da COVID-19. TEV (Tromboembolismo Venoso), por exemplo, era uma das maiores causas de óbito nas instituições de saúde. E agora? Não temos mais esse cenário? Ou será que temos, mas não estamos dando a atenção devida?”, pontuou.
A segurança do paciente fora do hospital também foi debatida. “Temos muitos pacientes morrendo em casa vítima de AVC e de infarto, por exemplo, que não procuraram atendimento por medo da COVID-19. Isso é uma preocupação”, disse Vieira ao lembrar que o apelo ao “fique em casa” também precisa ser ponderado para que a população se sinta segura em buscar auxílio em casos como esse e, até mesmo, para que a sociedade considere a realidade de cidadãos que têm comorbidades, não tem acesso e até mesmo se encontram em uma idade avançada e acabam deixando de sair para buscar suas medicações rotineiras, ou para fazer as compras adequadas e se alimentar bem pelo medo da pandemia. “O quanto isso trará impacto no longo prazo?”, questionou.
Retomada e divisão de atendimentos
Segundo a doutora, retomar esse direcionamento dependerá principalmente da maturidade das unidades hospitalares, do apoio que os gestores darão aos profissionais que estão na ponta e da serenidade para afirmar, a todos, que a instituição está preparada para atender os casos suspeitos de COVID-19 mas se mantém um ambiente seguro também para outros atendimentos. “Temos que olhar para TEV, para sepse, para uma cirurgia segura. É um novo processo de construção. Acredito que vamos retroceder para depois engatinhar, e essa velocidade de retomada vai variar”, disse Viviane. “Eclipsamos nosso olhar para o novo coronavírus, mas temos que recomeçar a construção”, complementou Vieira.
Viviane também falou, durante webinar, sobre a organização da BP nos fluxos de atendimentos. Segundo a especialista, eles estão retomando gradualmente os atendimentos eletivos, estabelecendo processos de segurança para cirurgias, consultas e exames. “Temos processos e áreas separadas para garantir o máximo de segurança ao paciente que chega para uma cirurgia eletiva ou por qualquer outra situação que não esteja relacionada à COVID-19”, declarou enfatizando a importância desse paciente se sentir seguro quando dentro da instituição.
Desgaste dos profissionais de saúde
Este é um momento de muito aprendizado, como enfatizou Viviane, mas também de muita pressão sobre os profissionais de saúde. Primeiro para que se mantenham atualizados com uma enorme quantidade de artigos que são publicados dia após dia. Segundo pelo receio de lidar com algo ainda pouco conhecido de fato. “Temos que trabalhar em um ritmo elevado, por mais horas, com uma carga emocional muito forte, já que há também a questão do medo de se infectar, de infectar os familiares”, disse.
Para a especialista, tudo isso também impacta na segurança dos pacientes, visto que muitos profissionais chegaram a pensar em se afastar do trabalho por conta de todo esse cenário. “Vencer esse medo foi um processo difícil, que vem melhorando com o passar dos meses”, comentou.
Interações medicamentosas
Viviane relembrou que um dos palcos principais da segurança do paciente está nas interações medicamentosas ao enfatizar que muitos profissionais de saúde receberam pacientes na UTI que já haviam, inclusive, utilizado por conta própria medicamentos como hidroxicloroquina e azitromicina.
“Eles chegam com uma doença que ainda conhecemos pouco, tomando medicamentos sem evidência e com vários potenciais eventos adversos. É uma situação grave”, disse ao enfatizar que, nesse momento, cabe ao profissional de saúde manter a postura ética de fortalecer a busca pelas melhores práticas, mesmo quando o paciente chega ao hospital solicitando esse ou aquele medicamento devido à repercussão que essas drogas ganharam na mídia.
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