De acordo com as evidências disponíveis hoje na literatura, a cultura de segurança – que envolve percepções, crenças, valores, atitudes e competências – pode ter um efeito benéfico não apenas nos resultados dos pacientes, mas também no bem-estar dos profissionais de saúde.
Isso porque um ambiente de trabalho repleto de tensão, cobrança e esgotamento torna a assistência insegura e, ao mesmo tempo, em um serviço de saúde onde há altas taxas de eventos adversos e de mortalidade, há também medo entre as equipes e sensação de insatisfação com o trabalho.
Como resolver essa via de mão dupla? A instituição do Núcleo de Segurança do Paciente, implementando protocolos e estratégias para incentivar a cultura de segurança, parece ser o caminho mais inteligente.
De acordo com um estudo (1) realizado em Taiwan (e um dos poucos que buscam compreender a relação entre cultura da segurança e bem-estar das equipes), quando profissionais de saúde passam a identificar muitas falhas em sua atuação – que muitas vezes são causadas por questões sistêmicas, e não particulares – há uma queda na qualidade de vida profissional, o que pode, ainda, desencadear quadros de depressão e de burnout. Consequentemente, profissionais de saúde esgotados e desanimados, elevam os riscos de erros futuros.
Quais seriam as ações capazes de melhorar esse cenário?
De acordo com o estudo que solicitou a 3.232 profissionais atuantes no Hospital da Cidade de Taipei, em Taiwan, responderem a um questionário com 55 questões entre perguntas demográficas, sobre cultura de segurança, burnout e equilíbrio entre vida pessoal e profissional, a cultura de segurança do paciente é um valioso recurso de trabalho capaz de proteger o bem-estar das equipes, reduzindo o esgotamento.
Assim, nutrir a cultura de segurança institucional contribui para a manutenção de uma força de trabalho saudável e resiliente. Um ponto importante é que o estudo envolveu equipes multidisciplinares e essa conclusão serve para todas as especialidades, independentemente de características demográficas e profissionais.
Trazendo para a prática dentro de cada instituição, a ideia seria começar com o fortalecimento contínuo da cultura de segurança através do apoio das lideranças e dos gestores, com investimento na melhoria das condições de trabalho, treinamento das equipes para a atuação em conjunto e a colaboração profissional. Paralelamente, também deveria se reconhecer a importância da capacitação profissional, da aquisição de novos equipamentos e sistemas de informação, e da melhoria das falhas de comunicação.
Considerando que o mundo ainda vive sob as demandas da covid-19, o estudo também sugere que nesse momento pós-pandemia as instituições invistam na reelaboração de suas estratégias para a construção desse ambiente seguro tanto para o paciente quanto para os trabalhadores. Entre as sugestões, por exemplo, está o direcionamento de recursos para auxiliar os trabalhadores a lidarem com o estresse e o esgotamento gerado pela alta demanda de atendimentos em decorrência de infecções pelo novo coronavírus.
Referência:
(1) Patient Safety and Staff Well-Being: Organizational Culture as a Resource
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