Saúde Baseada em Valor (SBV) tem sido tema frequente dos debates sobre maneiras de melhorar a assistência e, ao mesmo tempo, enxugar os custos dos sistemas. A literatura científica atual é escassa em dados sobre a implementação da SBV na América Latina. Porém, uma pesquisa publicada em junho deste ano entrevistou executivos de cinco países da região a fim de compreender em qual estágio da implementação de estratégias de saúde baseada em valor essas nações estavam.
O Brasil foi analisado, ao lado de Argentina, Chile, Colômbia e México. Como resultado, o estudo sugere uma grande variação na definição e compreensão da SBV e no nível de implementação das iniciativas.
Separamos os apontamentos mais relevantes e que podem contribuir com as estratégias das organizações de saúde brasileiras.
- Quando questionados sobre o significado de SBV, 24% dos executivos entrevistados mencionaram equação de valor, definindo-a como “valor x custo”, “medicamento x custo”, “valor x custo individual”, “melhor atendimento possível x custo”, “resultado ou experiência x custo do paciente”, “qualidade do cuidado percebida pelo paciente x custo”, “qualidade x custo” e “resultado x preço”.
- Os resultados relatados pelos PROMS (Patient-Reported Outcome Measure, ou, em português, desfechos medidos pelos pacientes) foram medidos por 41,4% dos entrevistados, mas em apenas 8,5% das vezes essa informação foi utilizada para dar feedback às equipes. Em 10 organizações brasileiras, os PROMS foram coletados para insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral e osteortatrite de quadril e joelho como parte de uma iniciativa da Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP).
- 24,3% das organizações mensuram o custo da condição clínica, porém somente 2,9% medem o custo do ciclo de cuidado completo.
- Nenhuma organização adotava modelo de pagamento baseado em desempenho e desfecho clínico.
- 94% das organizações contavam com prontuário eletrônico, porém apenas 40% tinham sistema de inteligência capaz de integrar dados clínicos, despesas e resultados.
- 81,4% das organizações apontaram 179 iniciativas alinhadas à SBV, porém, na realidade, somente 1/3 delas estavam de fato alinhadas à temática. Dessas iniciativas, 56,9% eram sobre organização da prestação de cuidados, 22,4% sobre medição de custos e 10,3% sobre pacotes de pagamentos.
- Entre os desafios mencionados, a maioria estava relacionada à indisponibilidade de informações significativas e acionáveis (34%), seguida pela adesão das partes interessadas (22%) e compensação (17%).
Lucas Zambon, diretor científico do IBSP, acredita que a Saúde Baseada em Valor (SBV) ainda é tema em amadurecimento no mercado da saúde. “O conceito de SBV ainda não circula de forma homogênea entre a alta liderança das organizações de saúde, o que traz dificuldade em perceber estratégias alinhadas de forma equilibrada com o tema. Além disso, a pauta das organizações, muito influenciadas pela pandemia, ainda é dar foco ao denominador da equação do valor, que é o custo. Pesa, ainda, que os modelos de pagamento na área da saúde não premiam resultados de valor para pacientes, sendo que em muitos lugares, sequer houve uma superação do tradicional ‘fee-for-service’, diz o médico. “Os próximos anos ditarão se de fato seremos capazes de tirar o conceito de SBV do papel para a forma de trabalhar de fontes pagadoras e prestadores de serviço na área da saúde”, conclui.
Referências:
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