Engajamento da alta gestão nos temas relacionados à segurança do paciente e qualidade está cooperando para colocar em prática as seis metas de segurança, para realização do mapeamento de riscos e para a implantação dos protocolos no Hospital Angelina Caron, na região metropolitana de Curitiba, no Paraná
O tema de segurança do paciente não é novo se observarmos as várias tendências de implantação de politicas que contribuem à prevenção e mitigação dos eventos dentro das instituições de saúde. Podemos citar, por exemplo, a necessidade de implantação dos Serviços de Controle de Infecção Hospitalar em 1998. “Contudo, apenas em 1999, após a publicação do livro “Errar é Humano”, pelo Institute of Medicine (IOM), que apontou que cerca de 44.000 a 98.000 pessoas morreram, por ano, nos hospitais dos Estados Unidos da América (EUA), vítimas eventos adversos, ou seja, de eventos que ocasionaram dano aos pacientes, que a comunidade médica iniciou essa discussão”, comenta Priscilla A. Cunico, coordenadora dos Núcleos de Segurança do Paciente e de Qualidade Hospitalar do Hospital Angelina Caron.
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No Brasil, o tema tornou-se amplamente discutido em 2013, com a implantação da RDC 36 e da Portaria 529, o qual dispõe das boas práticas de saúde além da implantação de um plano de segurança do paciente nas instituições de saúde. “O Sudeste e Sul do Brasil são pioneiros nesse processo e acabam sendo vitrine para as demais regiões”, acredita Priscilla.
IBSP – Como você está o cenário da segurança do paciente atualmente no Sul no Brasil?
Priscilla A. Cunico – Aqui no Paraná ainda temos dificuldades de encontrar cursos de capacitações presenciais, principalmente, com alto grau de certificação, entretanto vários cursos à distância têm suprido a demanda. Além disso, a ampla discussão entre hospitais, com a criação de grupos de reuniões a cerca do tema, e de congressos promovidos pelo Estado, tem auxiliado na troca de experiências (brainstorming) para a implantação dos planos de ações em cima das seis metas estipuladas pelo Ministério da Saúde.
IBSP – Quais os principais desafios de implementar as políticas de segurança do paciente localmente?
Priscilla A. Cunico – O principal desafio é a mudança de cultura dos trabalhadores de saúde, bem como da comunidade como um todo. Precisamos compreender que os Núcleos de Segurança precisam observar além do dano, ou seja, além do evento já ocorrido e identificar os riscos que toda a assistência e o complexo hospitalar podem oferecer ao paciente. Além disso, precisamos interiorizar a cultura de segurança em todos os trabalhadores das instituições de saúde, e utilizar suas ferramentas de mapeamento de erro de processos (como as notificações) como algo benéfico a cada instituição. Ou seja, identificar falhas nos processos e, com isso, consequentemente, otimizar o trabalho de todos e não utilizar tal método como mecanismo de punição individual. Por isso, a aplicação de uma cultura justa também é um desafio.
IBSP – O Hospital Angelina Caron iniciou com um pronto-socorro para atendimento de vítimas graves de trauma, em decorrência dos acidentes na BR-116. Como foi a evolução para hoje contar com avançado centro oncológico e de transplantes de medula óssea?
Priscilla A. Cunico – A evolução ocorre de uma necessidade do público atual, bem como de uma nova conformidade das doenças vigentes em toda a população. Com o aperfeiçoamento das tecnologias de saúde e do o envelhecimento da comunidade, outras comorbidades acabam prevalecendo, como os quadros crônicos e oncológicos. Em cima disso, O Hospital Angelina Caron investiu em tecnologia, bem como em profissionais capacitados para atender tal demanda. Com aquisição de novas máquinas e tratamentos, por exemplo, em oncologia e nas equipes multiprofissionais, além de estrutura e equipamentos, para a realização dos transplantes, trazendo maior esperança aos pacientes do hospital. Acompanhar esta realidade faz não só com que o Hospital Angelina Caron esteja atualizado assim como se torne referência em várias áreas.
IBSP – Qual a receptividade por parte dos colaboradores do Hospital Angelina Caron diante da implantação da cultura da qualidade e segurança do paciente?
Priscilla A. Cunico – Ainda estamos engatinhando nesse processo. Dizem que para mudarmos realmente a cultura de uma instituição se leve por volta de dez anos. Além disso, dentro da área da saúde precisamos contar com o turnover, ou seja, alta rotatividade, o que faz com que a informação e a capacitação constante dos profissionais em torno do tema sejam um desafio às instituições. Podemos ainda refletir que, além da capacitação, os núcleos de segurança e qualidade devam ser verdadeiros instigadores, os quais levem os trabalhadores à reflexão de suas atividades. No HAC, possuímos o Núcleo de Segurança do Paciente desde 2015, e os desafios ainda são imensos.
IBSP – Qual a importância de ter uma área dedicada à qualidade? Quais as principais atribuições atuais de vocês e quais os desafios?
Priscilla A. Cunico – Acredito que ter uma área dedica exclusivamente à qualidade auxilia o HAC a instigar e a refletir sobre suas reais ações junto à comunidade, ou seja, quais os reais objetivos e ganhos que queremos contribuir para os pacientes dentro de nossa instituição. Traçar os riscos e conscientizar os trabalhadores para esta lógica faz com que haja naturalmente uma melhoria nos processos de saúde e de assistência. No mês de julho/2017, iniciamos a criação do Escritório de Qualidade, sendo as principais atribuições: a implantação/consolidação das seis metas do Ministério da Saúde; a administração dos documentos internos, ou seja, controle, padronização e desenvolvimento de documentos, manuais e protocolos; acompanhamento das comissões e novos projetos e, futuramente, a possibilidade de passar por um processo de acreditação hospitalar.
IBSP – O que tem dado certo em termos de segurança do paciente no Hospital Angelina Caron?
Priscilla A. Cunico – O engajamento da alta gestão dentro do tema faz com que o assunto de segurança seja algo amplamente discutido entre os trabalhadores do hospital e as demais lideranças. Optamos, por exemplo, por implantar as seis metas do Ministério da Saúde por meio de Grupos de Trabalhos, os quais indicaram líderes (responsáveis) pelo mapeamento dos ricos e processos, bem como pela implantação dos protocolos. Isso tem sido uma experiência gratificante, pois vemos o comprometimento dos envolvidos no projeto.
IBSP – Dos 370 mil atendimentos ao ano, 90% é via SUS. Como garantir qualidade e segurança do paciente atuando na saúde pública?
Priscilla A. Cunico – Trabalhando com seriedade e atenção plena a todos os pacientes que necessitam dos nossos serviços. Desde a criação do Hospital, juntamente com os valores de seus fundadores, dizemos que não há distinção entre os pacientes aqui tratados, pois devemos ter o mesmo olhar a todos com humanização, uso de tecnologia, segurança e qualidade na assistência prestada. Esse é o lema do Hospital Angelina Caron.
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