Antes mesmo da pandemia se tornar uma realidade, a OMS (Organização Mundial da Saúde) já tinha declarado que 2020 era o Ano do Enfermeiro e da Parteira. Agora que esses profissionais ganham ainda mais visibilidade e reconhecimento no combate ao novo coronavírus – e considerando que dia 12 de maio é comemorado o Dia Internacional da Enfermagem –, a Organização segue incentivando o enfoque a essa importante força de trabalho da saúde.
Em relatório (3), a OMS revela que convivemos, atualmente, com um déficit global de 5,9 milhões de enfermeiros, sendo que os piores cenários estão em países da África, do sudeste Asiático e da região oriental do Mediterrâneo, além de alguns locais da América Latina. Em um momento de superlotação dos hospitais, de colapso dos sistemas, essa carência torna-se ainda mais visível.
Até mesmo pelo fato de que se já faltavam enfermeiros para atender, de forma igualitária e justa, toda a população, agora que temos muitos desses profissionais infectados afastados do trabalho por pelo menos 14 dias, a situação fica ainda mais sensível.
Infelizmente não há um controle global sobre a quantidade de profissionais de saúde acometidos pela COVID-19, o que não nos permite ter noção da realidade enfrentada por esses profissionais. Mas, somente na China, segundo divulgado pela OMS (4), uma publicação do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) declarava que, até 17 de fevereiro, eram 44.672 os casos de profissionais de saúde (classe abrangente, não somente de enfermeiros) com diagnóstico confirmado de infecção pelo novo coronavírus. Na Itália, em 10 de abril, um outro relatório registrava 15.314 profissionais de saúde infectados, o que seria 11% de todas as pessoas doentes naquele momento no país.
No Brasil, a enfermagem conta com informações compartilhadas pelo COFEN (Conselho Federal de Enfermagem) que lançou nesta semana o Observatório da Enfermagem (5), um portal responsável por atualizar constantemente as informações sobre o impacto do novo coronavírus na classe brasileira de enfermeiros.
Segundo o portal, já são mais de 10 mil casos de profissionais possivelmente infectados com COVID-19 reportados, sendo que no momento contabiliza-se 88 óbitos de enfermeiros a uma taxa de letalidade próxima de 3%. Desse montante, o Brasil tem 9.778 enfermeiros em quarentena, sendo que 2.441 tiveram a confirmação do diagnóstico. São 10 mil profissionais afastados de suas atividades, lutando contra a doença que ajudam a combater no dia a dia.
A contaminação
O caminho natural da infecção por COVID-19 nesses profissionais que diariamente estão na linha de frente do combate está em seus ambientes de trabalho – hospitais e clínicas que recebem dezenas de pessoas doentes todos os dias – mas há quem seja infectado também na comunidade, por membros da família doentes ou durante sua locomoção de casa para o trabalho.
Segundo relatório da OMS publicado em 11 de abril, nos serviços de saúde esses profissionais tendem a se infectar principalmente devido a:
- Identificação tardia de casos suspeitos de COVID-19
- Atuação em setores de alto risco
- Jornadas prolongadas
- Baixa adesão a práticas fundamentais como a de higienização das mãos
- Falta ou uso inadequado dos equipamentos de proteção individual
Entre tantos questionamentos feitos pela comunidade científica diante de uma doença nova e, portanto, estudada há pouco tempo está se o nível de carga viral a que o paciente está exposto tem interferência direta na gravidade da doença que o acometerá. A resposta ainda não é conclusiva.
As divergências quanto a essa questão são retratadas na literatura. Na China, enquanto um estudo (6) sugere que não há relação entre a quantidade de vírus a que a pessoa está exposta e a gravidade da sua doença; outro (7) observa que pacientes com sintomas mais leves têm menos carga viral no organismo. Esse conhecimento permitiria uma melhor compreensão sobre o impacto na atuação dos profissionais dentro de hospitais que recebem pacientes infectados pelo novo coronavírus.
O mundo precisa de mais enfermeiros
Na Inglaterra, por exemplo, segundo o Royal College of Nursing (1), o governo investiu em medidas emergenciais para expandir a força de trabalho de enfermagem durante a pandemia de COVID-19. Visando ampliar a capacidade de gerenciamento da crise, o país convocou enfermeiros que estavam afastados a voltar às atividades, convidou profissionais que não atuavam mais na área clínica à voltarem aos atendimentos, e permitiu que os estudantes de enfermagem pudessem realizar os seis últimos meses de sua graduação desempenhando uma posição clínica.
Como está a saúde mental desses profissionais?
Para auxiliar essa importante força de trabalho durante uma crise como a de COVID-19, o Royal College of Nursing (2) também listou dicas valiosas para seus enfermeiros que abordam desde cuidados pessoais até sugestões para aumentar o bem-estar e auxílio para lidar com situações difíceis enfrentadas nas intensas jornadas de trabalho. Entre as dicas estão: buscar fontes confiáveis para se informar e limitar a exposição às redes sociais caso identifique que isso aumenta a ansiedade; cuidar da saúde física dando atenção à rotina de sono e de descanso para se prevenir durante as jornadas estendidas; e usar aplicativos de saúde mental para ampliar o bem-estar e melhorar a qualidade de vida no momento de turbulência.
Referências:
(1) COVID-19: actions announced to expand the nursing workforce
(2) COVID-19 (Coronavirus) and your mental wellbeing
(3) State of the Worldʼs Nursing 2020 – Investing in education, jobs and leadership
(4) Coronavirus disease 2019 (COVID-19) – Situation Report – 82
(5) Observatório da enfermagem – COFEN
(6) Temporal dynamics in viral shedding and transmissibility of COVID-19
(7) Viral dynamics in mild and severe cases of COVID-19
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