Comunicação é um dos pilares da assistência segura. Os profissionais de saúde precisam saber se comunicar entre si e com pacientes e familiares para garantir o entendimento de todos os processos, quadros, situações e necessidades e, assim, entregar um atendimento de qualidade. Porém, há um percalço: a literacia (ou falta dela) em saúde.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) (1), a literacia em saúde exige um certo nível de conhecimento, habilidades pessoais e confiança para agir em prol da melhoria da saúde comunitária. Para a população geral, isso significa muito mais do que apenas saber ler informativos e agendar consultas. A OMS sugere que se deve aumentar o acesso das pessoas às informações e a sua capacidade de utilizá-las de forma efetiva. Assim, a literacia se torna passo fundamental para o empoderamento do paciente, fazendo com que os cidadãos possam assumir um papel ainda mais forte no autocuidado.
Tendo em mente esta questão da necessidade de literacia em saúde, e considerando que erros de comunicação desencadeiam eventos adversos como falhas na administração medicamentosa, atrasos em procedimentos, erros na compreensão da condição clínica e dificuldades na adesão aos planos de tratamento, a Faculdade de Medicina de Wisconsin investiu em um estudo dedicado à melhor compreensão desse cenário.
Identificando eventos de segurança relacionados à literacia, o estudo (2) conduzido nos Estados Unidos – onde 90 milhões de adultos têm baixa alfabetização em saúde – descreve o impacto da comunicação na segurança do paciente e ajuda organizações a priorizar práticas que levem à almejada literacia em saúde.
Para iniciar, lista os dez atributos da boa literacia em saúde:
- Ter uma liderança que torna a literacia em saúde parte integrante de sua missão, estrutura e operações.
- Integrar a literacia em saúde no planejamento, medidas de avaliação, segurança do paciente e melhoria da qualidade.
- Preparar a força de trabalho para ter literacia em saúde e monitorar o progresso.
- Incluir populações atendidas na concepção, implementação e avaliação de informações e serviços de saúde.
- Atender às necessidades das populações com uma variedade de habilidades de literacia em saúde, evitando a estigmatização.
- Usar estratégias de literacia em saúde nas comunicações interpessoais e confirmar a compreensão em todos os pontos de contato.
- Fornecer fácil acesso a informações de saúde e dar assistência à navegação.
- Criar e distribuir conteúdo impresso, audiovisual e de mídia social que seja fácil de entender e colocar em prática.
- Abordar a alfabetização em saúde em situações de alto risco, incluindo transições de cuidados e comunicações sobre medicamentos.
- Comunicar claramente o que os planos de saúde cobrem e o que os indivíduos terão que pagar pelos serviços.
O estudo utilizou, como base, um hospital infantil que realiza cerca de 70 mil atendimentos de emergência ao ano e tem 298 leitos disponíveis. Ao longo de nove meses de acompanhamento, foram identificados 152 eventos relacionados à literacia em saúde que envolviam principalmente pacientes internados, mas também ambulatoriais e aqueles do departamento de emergência. Isso significa que pelo menos quatro vezes por semana havia algum evento que poderia ter sido evitado com a literacia em saúde.
A maioria (91%) foram eventos com dano mínimo ou nenhum dano detectável, porém houve também os chamados “near-miss” (7%) e poucos eventos (2%) que resultaram em dano de moderado a grave.
Os 152 eventos estavam relacionados à:
- Medicamentos – 53%
- Processos do sistema de saúde – 27%
- Alta ou transição do cuidado – 20%
Erros de medicação
A literatura científica conta com diversos estudos mostrando a relação entre a baixa literacia em saúde e o aumento do risco de erros em medicação, incluindo dificuldade de compressão dos nomes dos medicamentos, instruções, indicações de dosagem, entre outros.
Como exemplo vindo do estudo, de um evento relacionado à medicação durante processo de alta, temos um caso pediátrico no qual foi planejado um aumento de medicação para convulsão após a hospitalização, porém os pais não receberam um cronograma claro para aumentar a dose e a alta foi dada com a dosagem prescrita no frasco.
Por fim, o estudo conclui que a falta de projetos dedicados à literacia em saúde afeta a segurança do paciente e que as organizações devem revisar e abordar esses eventos adversos para evitar danos futuros, já que existem muitas oportunidades para melhorar esse cenário.
Referências:
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