Estudo avalia percepção de profissionais de saúde sobre a segurança do paciente
A pandemia de covid-19 impactou o comportamento do ser humano em diferentes aspectos. Considerando que a crise de saúde global gerou desafios bastante importantes para os serviços de saúde que se viram obrigados a atender um número altíssimo de pacientes contaminados com uma doença amplamente contagiosa, um estudo de método misto avaliou quais as transformações da covid-19 no clima de segurança dos centros cirúrgicos, ambientes altamente especializados e com altas taxas de incidentes.
Importante lembrar que entre as consequências da crise sanitária estavam o adiamento de cirurgias, o aumento das complicações clínicas em decorrência desses adiamentos, a necessidade de novos protocolos de biossegurança e a modificação dos fluxos de trabalho. Em paralelo, houve aumento da carga de trabalho, da complexidade dos cuidados de saúde, estresse, pressão de tempo, limitação de recursos, risco de transmissão do novo coronavírus durante procedimentos médicos, além da necessidade de maior conscientização sobre o uso racional dos recursos e dos equipamentos de proteção individual.
As avaliações qualitativas e quantitativas foram realizadas em um hospital universitário de grande porte do Rio de Janeiro com 525 leitos e atendimento a pacientes para cirurgias de amplo espectro, como cardíacas, transplantes, redesignação sexual, neurocirurgia, pediatria, ortopedia e cirurgia vascular e torácica.
O estudo, então, contou com a participação de 145 trabalhadores da saúde (anestesiologistas, cirurgiões, enfermeiros e técnicos de enfermagem) integrantes de equipes multiprofissionais que atuavam direta ou indiretamente no centro cirúrgico. Eles apresentaram suas percepções de segurança no local antes da pandemia (anterior a março de 2020) e durante a pandemia (entre novembro de 2020 e maio de 2022). Tudo isso fundamentado em seis pilares:
- Percepção da comunicação no centro cirúrgico
- Evolução da cultura de segurança
- Visão geral da gestão e implementação de protocolos
- Cultura organizacional justa
- Percepção do estresse devido à covid-19
- Percepção do desempenho profissional devido à covid-19
Segurança no centro cirúrgico
Entre os destaques do estudo sobre as mudanças da cultura de segurança no centro cirúrgico, os resultados de domínios como “percepção de estresse” e “condições de trabalho” reforçam que a pandemia de covid-19 de fato gerou impactos nesses ambientes. Isso significa que é preciso investir em estratégias para melhorar o ambiente de trabalho, como aumento da disponibilidade de recursos materiais e de equipamentos de proteção individual, treinamento e definição de horários adequados das jornadas.
E, por mais incoerente que possa parecer, a percepção das condições de trabalho acabou melhorando durante a pandemia, quando a gestão corporativa se viu obrigada a investir nessas condições criando, inclusive, novas rotinas e oferecendo atualizações constantes para aprimorar o conhecimento das equipes sobre a covid-19.
Enquanto isso, no domínio “percepção de estresse”, fica nítido que aspectos importantes da pandemia como, por exemplo, desconhecimento da doença e número alto de mortes entre pacientes e profissionais, impactou a saúde mental das equipes, gerando impacto também na rotina profissional. Em contrapartida, há, no estudo, uma percepção de que a redução das cirurgias eletivas acabou minimizando o estresse das equipes que tiveram de se dedicar apenas aos atendimentos aos pacientes infectados.
Interessante notar, também, que somente o domínio “comunicação no centro cirúrgico” teve média positiva nos dois períodos, ou seja, com pontuação acima de 75, apontando que as informações compartilhadas entre os profissionais contribuíam com a garantia de um ambiente seguro tanto para os pacientes quanto para os trabalhadores. E essa descoberta é de suma importância, visto que a comunicação eficaz favorece o amadurecimento da cultura de segurança e as falhas na comunicação são a principal causa de erros e incidentes.
Em paralelo, o domínio “percepção do desempenho no trabalho” obteve média negativa, inferior a 50 pontos, mostrando que fadiga e sobrecarga impactam diretamente o desempenho dos trabalhadores e, consequentemente, a segurança no ambiente cirúrgico, sendo necessário intervir para minimizar a fragilidade das instituições.
Referência
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