Com envolvimento da equipe multidisciplinar, conciliação medicamentosa contribui com a qualidade do cuidado e com a redução de falhas e danos
Os erros associados a medicamentos, que afetam mais de um milhão de pessoas anualmente somente nos Estados Unidos, são uma preocupação global por trazerem impactos significativos tanto para os pacientes, que sofrem com administração incorreta, doses inadequadas e interações medicamentosas que não foram previstas, quanto para os sistemas de saúde que se deparam com altas despesas. Tanto é que, entre os norte-americanos, o custo estimado em decorrência desses erros é de US$ 42 bilhões ao ano.
Considerando que muitos desses erros podem ser evitados, aumentando a segurança dos pacientes, cada vez mais estudos são publicados buscando entender como e onde eles ocorrem para uma listagem de princípios que possam preveni-los.
Com comunidades envelhecendo e, assim, somando novas doenças crônicas às já existentes, os profissionais de saúde se deparam com uma crescente complexidade de regimes terapêuticos (normalmente polifarmácia) que, combinados à pressão sobre os serviços que sofrem muitas vezes com escassez de profissionais, leva ao aumento do risco de falhas. Isso sem falar na dificuldade que essa população idosa tem em descrever todas as medicações que estão em uso, o que pode desencadear equívocos importantes.
Publicado em 2022, um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros abordou a conciliação de medicamentos na admissão hospitalar para a segurança do paciente, ou seja, processo formal capaz de sistematizar os procedimentos nos variados pontos de transição de cuidados visando a prevenção de falhas relacionadas a medicamentos e garantindo a continuidade do tratamento farmacoterápico.
A revisão reforça que por mais que a equipe multidisciplinar tenha alta importância, os farmacêuticos têm papel fundamental nesse processo, que é considerado a base para a transferência precisa de informações sobre os medicamentos que o paciente está utilizando em casa e posterior redução das discrepâncias com aqueles administrados na unidade hospitalar.
Conciliação medicamentosa no ambiente hospitalar
A conciliação medicamentosa envolve três etapas: verificação com coleta de informações sobre os medicamentos em uso domiciliar; confirmação sobre doses, indicações, efetividade e segurança desses medicamentos; e conciliação, onde é feito um comparativo entre a lista de medicamentos utilizados em casa com a prescrição solicitada durante a internação.
É justamente na fragilidade da transição do cuidado – tanto na admissão quanto na alta – que diversos erros de medicação ocorrem, muitas vezes pelo acelerar do processo e por falhas na comunicação entre os profissionais de saúde envolvidos e os pacientes. Segundo o estudo, a transição do cuidado é responsável por 46% dos erros com medicamentos.
Já na internação, o aumento do número de profissionais envolvidos no atendimento aos pacientes também configura um risco. Tanto que, nos Estados Unidos, 75% dos erros relacionados ao uso de medicamentos ocorrem no âmbito hospitalar: cerca de 67% dos pacientes vivenciam ao menos um erro durante a internação, 60% deles com relevância clínica.
Entre os erros, destaque para falhas na atividade profissional, nos procedimentos, e na comunicação; falta de informações sobre o paciente; violação de regras, deslizes, lapsos de memória e erros de transcrição; falhas na interação com outros serviços e na conferência de doses; problemas relacionados às bombas e dispositivos de infusão de medicamentos; problemas no monitoramento do paciente, no armazenamento das medicações e na dispensação; além de erros de preparo e falta de padronização.
Onde os erros acontecem
As diferenças identificadas entre o tratamento anterior e o atual durante a transição de cuidados são definidas como “discrepâncias”. Isso inclui modificações, adições ou omissões de medicamentos, e todas essas falhas contribuem para a ocorrência de danos e impactos negativos na segurança dos pacientes.
Intencionais ou não intencionais, documentadas ou não, essas discrepâncias ocorrem com frequência. Nas omissões – não intencionais -, 86% pacientes são colocados sob algum tipo de dano. Mas há, também, situações em que o médico opta por adicionar, alterar ou suspender algum medicamento propositalmente.
E como as falhas não intencionais ocorrem? De acordo com os pesquisadores, 50% de todos os erros de medicação no âmbito hospitalar (e 80% dos graves) estão relacionados a falhas na comunicação. Por isso é fundamental que os serviços de saúde desenvolvam métodos para barrar esses erros.
Entre os métodos possíveis estão a padronização das prescrições, o empoderamento do paciente e de seus familiares, e a utilização de mnemônico como o SBAR (Situação, Breve Histórico, Avaliação e Recomendação).
Na admissão, por exemplo, é fundamental levantar um resumo do quadro clínico do paciente, uma avaliação do problema de saúde e de sua gravidade, um plano de ação a ser cumprido, um plano de contingência, o histórico de alergias, os medicamentos em uso, os exames laboratoriais mais atualizados, os dados vitais do paciente e a lista de sinais e sintomas que demandam atenção especial.
Porém, nada disso será eficiente se a equipe multidisciplinar envolvida naquele cuidado não estiver alinhada e totalmente a par de todos esses dados, o que possibilita a troca de conhecimentos e aumenta a segurança daquele paciente.
Referência
(1) Conciliação de medicamentos na admissão hospitalar para a segurança do paciente: uma revisão
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