Avaliando quase 3 mil pacientes em radioterapia com gerenciamento totalmente remoto, estudo analisa a telessaúde em termos de satisfação e segurança
A telessaúde tem se tornado cada vez mais rotineira em diferentes partes do mundo. Assim como qualquer novidade que surge, é preciso avaliar sua eficiência, eficácia e como os pacientes têm se sentido para fazer os ajustes e melhorias necessários. Em junho deste ano, o JAMA Network publicou o maior estudo de coorte realizado até hoje sobre a satisfação dos pacientes em radioterapia cujo gerenciamento médico foi 100% remoto. A pesquisa também investigou se esse formato virtual estava associado a eventos de segurança, implicações financeiras e consequências ambientais.
Foram analisados mais de 2.800 pacientes do Memorial Sloan Kettering Cancer Center que optaram pelo gerenciamento remoto do tratamento oncológico entre 1º de outubro de 2020 e 31 de outubro de 2022, ou seja, nota-se que a adesão ao acompanhamento virtual foi naturalmente impulsionada pela pandemia de covid-19. Eram predominantemente casos de metástases ósseas e não ósseas, câncer de próstata ou geniturinário, e câncer de mama.
Satisfação e segurança dos pacientes quanto à telessaúde
Os resultados foram surpreendentemente positivos e seguros. Além de 98% das avaliações sobre satisfação dos pacientes terem sido apontadas como boas ou muito boas (coletadas por mensagem de texto e respondidas por 31% dos participantes), 99% dos eventos de segurança identificados não chegaram a acometer os pacientes ou, se acometeram, não geraram danos. Entre todos, o caso mais grave foi de um paciente que teve uma convulsão durante o tratamento, o que exigiu a chamada do atendimento de emergência. Fora isso, foram casos de atraso na entrega, erro de agendamento, de coleta de consentimento, problemas na descrição da radioterapia e problemas com o equipamento.
Satisfação da gestão de saúde no uso da telessaúde
Do ponto de vista do gerenciamento do serviço de saúde, os achados também foram bons: com o acompanhamento remoto, a economia foi de aproximadamente US$ 612 mil, o que significa uma redução de custos de US$ 466 por paciente, e houve redução da emissão de gases do efeito estufa, já que o deslocamento tanto de médicos quanto de pacientes foi reduzido.
Importância do estudo e detalhes relevantes sobre telessaúde
Esse estudo tem grande importância para países continentais como o Brasil, onde existem diversos vazios assistenciais que deixam a população descoberta. Sabendo que o gerenciamento remoto é seguro e eficiente, o acesso pode ser ampliado para as regiões onde há menos especialistas disponíveis.
Porém, é necessário frisar que o acompanhamento remoto não atende absolutamente a todos os perfis de pacientes. No caso do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, por exemplo, eram elegíveis apenas aqueles pacientes onde a disponibilidade para consultas era maior do que sete dias, aqueles que preferiam realizar as sessões em locais diferentes do local onde o médico oncologista atendia (principalmente devido à distância), aqueles que tinham planos de tratamento com número limitado de radiação e sem quimioterapia, e aqueles que eram declarados como alfabetizados em telessaúde.
Fora isso, é preciso adequar, também, a dinâmica das equipes. Muito do sucesso desse estudo pode estar atrelado à rotina dos profissionais que, no início do programa, faziam reuniões semanais para revisar número de pacientes, diagnóstico, tempo de espera para o procedimento, horários, erros de documentação e eventos adversos graves.
Conforme comenta do Dr. Lucas Zambon, “este é um excelente exemplo de projeto que envolve tanto mais de uma dimensão da qualidade do cuidado, uma vez que endereça redução de desperdícios (eficiência), quanto segurança do paciente, quanto uma agenda ESG, principalmente no que tange a questão ambiental”. “Muitas vezes achamos que isso é difícil de fazer na área da saúde, mas este case mostra que com movimentos disruptivos é possível criar resultados positivos para o paciente e para a sociedade”, complementa o Diretor Científico do IBSP.
Referências:
(1) Patient Safety and Satisfaction With Fully Remote Management of Radiation Oncology Care
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