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Revisão sistemática sugere que programas de segurança medicamentosa reduzem prescrições inadequadas em idosos

Revisão sistemática sugere que programas de segurança medicamentosa reduzem prescrições inadequadas em idosos
Segurança medicamentosa em idosos
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Intervenções envolvendo farmacêuticos, geriatras, educação médica e sistemas informatizados mostraram impacto significativo na segurança

Uma revisão sistemática (1) e meta-análise envolvendo 25 estudos e mais de 44 mil pacientes idosos sugere que determinadas intervenções de segurança medicamentosa em serviços de emergência podem reduzir a prescrição de medicamentos potencialmente inapropriados (MPIs), um problema crescente em uma população marcada por polifarmácia, múltiplas comorbidades e maior vulnerabilidade a eventos adversos.

A análise reuniu pesquisas publicadas entre 2009 e 2024 e mostra que abordagens multidisciplinares, especialmente as que envolvem farmacêuticos clínicos, geriatras e sistemas informatizados de apoio à decisão clínica, são promissoras para qualificar o cuidado no pronto-socorro.

No Brasil, temos cerca de 23 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que representa 11% da população, porém, a expectativa é que até 2050, esse percentual chegue a quase 30%.

Em geral, segundo dados globais, idosos representam mais de 20% das visitas anuais ao pronto-socorro (no Brasil, estudos (2) indicam um percentual levemente inferior, chegando a 13%) e quase metade recebe ao menos um novo medicamento na alta, segundo dados citados pelos autores do estudo. Diante desse cenário, o uso de MPIs tornou-se um marcador relevante de segurança, uma vez que está associado ao aumento de eventos adversos, quedas, hospitalizações evitáveis e declínio funcional.

Intervenções que funcionam para segurança medicamentosa

A revisão analisada aponta que a avaliação medicamentosa realizada por farmacêuticos clínicos reduziu, em média, 32% o uso de MPIs na alta hospitalar. Embora o impacto em desfechos como internação ou tempo de permanência não tenha sido consistente, a capacidade desses profissionais de identificar riscos e remover medicamentos desnecessários da prescrição realizada se mostrou decisiva para a segurança medicamentosa.

Outra estratégia eficaz identificada foi a teleconsulta geriátrica. No único estudo que avaliou esse modelo, pacientes que passaram pela avaliação remota de um geriatra receberam menos medicamentos inadequados e tiveram mais ajustes de dose e suspensões apropriadas. Para instituições sem equipes geriátricas presenciais, esse formato pode representar um caminho acessível para qualificar o cuidado.

Em paralelo, programas de capacitação das equipes do pronto-socorro também demonstraram impacto positivo significativo. No conjunto dos estudos analisados, intervenções como detalhamento acadêmico e feedback individualizado reduziram em cerca de 19% a taxa de prescrição inadequada para idosos. Embora dependam de adesão e continuidade para manter resultados, esses programas reforçam a importância da educação continuada na emergência.

Os sistemas informatizados de apoio à decisão clínica apareceram como uma das soluções mais eficazes e escaláveis. Em quatro estudos, esses sistemas reduziram prescrições inadequadas em até 40% e diminuíram pela metade a taxa de eventos adversos a medicamentos quando comparados ao cuidado padrão. Por exigirem menos recursos humanos e se integrarem ao prontuário eletrônico, os CDSS surgem como ferramentas de alto impacto para serviços que buscam padronizar a tomada de decisão e reduzir a variabilidade clínica.

Resultados heterogêneos em prevenção de quedas

Já os ensaios clínicos voltados à revisão de medicamentos associados ao risco de quedas apresentaram resultados mais discretos, porém ainda interessantes. Embora não tenham reduzido a recorrência de quedas em 12 meses, intervenções baseadas em entrevista motivacional conduzida por farmacêuticos diminuíram retornos ao pronto-socorro relacionados a quedas, sugerindo benefício em subgrupos específicos.

Para os autores, o conjunto de evidências indica que a combinação de equipes multiprofissionais, apoio tecnológico e educação continuada pode transformar o manejo medicamentoso de idosos no pronto-socorro. No entanto, eles reforçam que ainda faltam estudos capazes de demonstrar impacto direto em desfechos clínicos mais robustos, como mortalidade, hospitalizações e eventos adversos graves.

Referências:

(1) Emergency Department Programs to Support Medication Safety in Older Adults – A Systematic Review and Meta-Analysis
(2) Perfil da população atendida em uma unidade de emergência referenciada

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