Criada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), a campanha Setembro Amarelo (1) trata da prevenção ao suicídio e desenvolve ações para evitar os mais de 12 mil suicídios registrados anualmente no nosso país. Pensando na segurança do paciente atrelada a essa campanha, é preciso falar sobre suicídio nos serviços de saúde.
Quando se trata de pessoas já diagnosticadas e hospitalizadas em unidades psiquiátricas, a literatura científica considera como suicídio do paciente internado qualquer ação tomada durante o tratamento, seja dentro do hospital, seja durante suas licenças, saídas ou mesmo fugas.
Um estudo (2) publicado em 2019 na Índia mostra que há variação nas percepções de suicídio de país para país, ou seja, não há um padrão universal. Em algumas nações mulheres parecem mais suscetíveis, em outras não. Em determinados locais, o enforcamento é o método mais comum para cometer um atentado contra a própria vida, em outros pular de lugares altos é mais prevalente. Isso mostra a necessidade de cada país entender sua população, seu perfil, seus números e, principalmente, seus fatores de risco.
Por mais que a porcentagem de suicídios durante a internação seja pequena, estudos reforçam a importância da criação de um ambiente seguro e que saiba identificar os riscos. Outro estudo (3), dessa vez canadense, reforça que as unidades hospitalares que não são psiquiátricas normalmente não estão preparadas para receber esses pacientes considerados de alto risco. Dessa forma, há uma certa falta de cuidado com itens apontados como potencialmente perigosos como cordas, sacos plásticos e objetos perfurocortantes.
Há, inclusive, nessa revisão, um relato de um paciente admitido no pronto-socorro para avaliação de uma overdose combinada com álcool que estava sob os olhares atentos da equipe de enfermagem. Porém, em um determinado momento, ao encerrar seu turno, uma das enfermeiras notou que ele tinha fechado as cortinas em torno de seu leito e, ao se aproximar, o encontrou enforcado com a bata hospitalar.
Cenário no Brasil
Publicada em 10 de setembro – data que marca o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio – pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Nota Técnica 09/2020 (4) traz práticas seguras para prevenção de suicídio do paciente e de danos autoinfligidos em serviços de saúde.
Segundo a publicação, há falhas na detecção de riscos, visto que a maioria dos pacientes que cometem suicídio passaram pela atenção primária e por consultas com médicos de diversas especialidades, porém 50% deles nunca foram enquadrados em diagnósticos relativos à saúde mental. Assim, a Agência sugere a necessidade de melhorar a detecção precoce de ideação suicida ao longo do atendimento de saúde para que esses pacientes possam receber o suporte adequado.
A nota da Anvisa também relata que 75% dos suicídios ocorridos nos serviços de saúde entre 1995 e 2005 foram efetivados por enforcamento no banheiro, no quarto ou no armário. Como ações de prevenção, o documento enfatiza a avaliação dos ambientes, screening, desenvolvimento de planos conforme o grau de risco de cada paciente avaliado, estabelecimento de políticas internas e treinamento das equipes.
O monitoramento de atentados contra a própria vida nos estabelecimentos de saúde é frequente e rotineiro, sendo compulsória a notificação de suicídio de paciente, tentativa de suicídio ou dano autoinfligido tanto ao Núcleo de Vigilância Epidemiológica das Secretarias de Saúde quanto ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), no Notivisa. Entre junho de 2019 e maio de 2020, foram recebidas 66 notificações dessa categoria, o que representa 1,84% do total de notificações never events no período.
Orientações gerais
A nota técnica da Anvisa orienta gestores e administradores dos serviços de saúde e os núcleos de segurança do paciente quanto ao cumprimento das legislações vigentes e a tomada de ações que promovam a cultura de segurança, a educação continuada dos profissionais envolvidos no atendimento e o monitoramento de indicadores, entre outros tópicos.
Mas foca, também, na atuação dos profissionais da assistência, instruindo-os quanto à identificação e avaliação de risco de suicídio dentro dos serviços de saúde e às medidas gerais para minimização desse risco.
Há um alerta principal quanto a três grupos de pacientes admitidos tanto nas unidades gerais quanto nas psiquiátricas: pacientes que se recuperam de tentativas de suicídio; pacientes com delírios ou demência associada à agitação e impulsividade, além daqueles usuários de drogas psicoativas; pacientes com doenças crônicas e em uso de medicamentos que podem desencadear ideação suicida, além daqueles diagnosticados com doenças graves ou incuráveis.
Dessa forma, os pacientes devem ser avaliados e enquadrados em três categorias: risco baixo, risco moderado e risco alto. Para aqueles pacientes com risco de moderado à alto, há uma série de medidas preventivas eficientes para que a segurança dessas pessoas seja mantida durante toda a sua permanência nos serviços de saúde.
Referências:
(1) Setembro Amarelo – Prevenção ao Suicídio
(3) Preventing Suicide Among Inpatients
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