O ano de 2021 segue desafiador para toda a saúde global. Ainda vivenciando as mazelas da pandemia de COVID-19, instituições e trabalhadores da saúde precisam, a cada dia, de mais estratégias para vencer os diversos entraves que surgem tanto relacionados às infecções pelo novo coronavírus quanto à outras vertentes que nunca deixaram de existir enquanto o globo lutava para vencer os surtos que se espalhavam em alta velocidade.
Considerando todo esse cenário e analisando as principais publicações científicas da atualidade, listamos quatro principais questões relativas à segurança do paciente que o setor deve ficar atento ao longo deste ano.
Escassez dos profissionais de saúde – A pandemia de COVID-19 – que ampliou drasticamente a demanda por atendimento – trouxe ainda mais luz à escassez de profissionais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) há um déficit de 18 milhões de trabalhadores no mundo (1), especialmente em países de baixa e média renda.
Recentemente, uma publicação norte-americana (2) revelou que 22% dos hospitais dos EUA não tinham a quantidade necessária de recursos humanos para suprir os atendimentos diante da pandemia. No Brasil, o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) revelou em 2020 que faltam 17 mil enfermeiros e técnicos de enfermagem no país (3).
Esse gargalo, além de complicar o acesso da população ao atendimento de qualidade, prejudica a segurança daqueles pacientes que estão hospitalizados e carecem da dedicação de equipes suficientes para atender a grande quantidade de leitos ocupados. Estudo publicado pelo Annals of Intensive Care (4) avaliou o impacto da alta carga de trabalho dos enfermeiros das unidades de terapia intensiva e sugere que pacientes gravemente enfermos têm redução substancial nas chances de sobrevivência diante de profissionais extremamente atarefados.
Foram analisados 845 pacientes internados e o estudo aponta que a taxa de 95% de sobrevivência até a alta hospitalar é mais provável de ocorrer quando um limite de carga de trabalho é respeitado. Paralelamente, uma chance de mais de 95% de morte quando essa carga ultrapassa a proporção adequada.
Burnout – Somado à escassez dos profissionais, o Burnout gerado pela pressão e pelo aumento da carga horária daqueles que permaneceram atuantes durante toda a crise também compromete a força de trabalho da saúde. Estudo do último trimestre de 2020 (4) sugere que um em cada três médicos está sofrendo de Burnout, o que interfere em seu próprio bem-estar, mas, também, na qualidade da assistência prestada.
>> Burnout dos profissionais e os impactos na segurança dos pacientes
Dessa forma, segue como um grande desafio de 2021 prover suporte aos profissionais que estão exaustos, garantindo melhores fluxos de trabalho e implementando alternativas de cuidado para que esses trabalhadores mantenham a saúde mental em dia. Recentemente publicamos uma matéria que menciona técnicas de positividade, meditação e produtividade para reduzir a sensação de esgotamento. Clique AQUI para acessar.
Represamento de diagnósticos durante a pandemia – O medo de contaminação somado às estratégias globais para focar esforços às pessoas infectadas pelo novo coronavírus gerou um represamento de atendimentos e diagnósticos relacionados à outras doenças. No Brasil, por exemplo, segundo dados da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), o número de mamografias realizadas entre março e agosto de 2020 no sistema de saúde suplementar do país caiu 46,4% no comparativo com o mesmo período de 2019 (6). Na rede pública o cenário é similar: entre janeiro e junho de 2019 foram realizados 180.093 exames. Nesses meses de 2020 foram feitos apenas 131.617.
Todas as cidadãs que deixaram de fazer seus exames preventivos estão mais expostas à descoberta tardia do câncer de mama, neoplasia maligna mais incidente em mulheres na maior parte do mundo (7). Como consequência, podem ter impactos extremamente negativos em seus tratamentos, visto que o Instituto Nacional do Câncer (INCA) afirma que, se detectado precocemente, o câncer de mama chega a 95% de chances de cura.
Esse represamento não afetou apenas a oncologia, mas todas as especialidades. Na cardiologia, dados revelados no Portal da Transparência (8), sistema abastecido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) em parceria com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), entre março e dezembro de 2020 foram computadas 81.502 mortes por causas cardiovasculares inespecíficas. Nesse mesmo período de 2019 foram 60.508. Aumento de 34,6%.
Infecções associadas aos cuidados de saúde (IACS) – Divulgada pelo Becker’s Hospital Review, uma pesquisa da Association for Professionals in Infection Control and Epidemiology (APIC) revelou que os profissionais de saúde observaram aumento nas IACS em suas unidades de atendimento desde o início da pandemia (9). O estudo mostra crescimento de 27,8% nas infecções de corrente sanguínea associadas ao cateter; 21,4% nas infecções do trato urinário também associadas ao cateter; e 17,6% em pneumonia associada à ventilação.
Importante enfatizar que entre as ações de emergência tomadas pelos Estados Unidos para priorizar os atendimentos relativos à COVID-19, o Centers for Medicare & Medicaid Services (CMS) dispensou os requisitos de relatórios de IACS até junho de 2020 (10), o que pode ter favorecido menor vigilância dessas infecções dentro das instalações de saúde. Não é possível descartar, também, o impacto da sobrecarga de trabalho nos cuidados aos pacientes com COVID-19, dificultando a adesão às medidas de prevenção.
Outro estudo (11), dessa vez publicado pelo American Journal of Infection Control, observou a evolução das infecções associadas aos cuidados de saúde durante a pandemia em dois hospitais. Apontou, assim, aumento de 420% na taxa de infecção de corrente sanguínea associadas à cateter no primeiro hospital e aumento de 327% no segundo. Considerando que essas infecções são um grave problema para a segurança dos pacientes, já que têm alta morbimortalidade, é importante que ao longo de 2021 os cuidados sejam retomados e redobrados para evitar um cenário mais preocupante.
Referências:
(1) Health Workforce – Organização Mundial da Saúde (OMS)
(2) Hospitals Can’t Go On Like This
(3) Levantamento revela déficit de 17 mil enfermeiros e técnicos de enfermagem
(5) Burnout in Healthcare Workers: Prevalence, Impact and Preventative Strategies
(6) Mamografias caem 46,4% durante a pandemia
(7) A situação do câncer de mama no Brasil: Síntese de dados dos sistemas de informação
(9) National Survey Shows Healthcare Facilities Implementing PPE Crisis Standards of Care
(10) COVID-19 Emergency Declaration Blanket Waivers for Health Care Providers
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