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Experiência clínica X assistência de qualidade

Experiência clínica X assistência de qualidade
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Estudo de Harvard aponta que maior experiência tem relação negativa com excelência neste quesito

 

A qualidade na assistência em saúde tem sido amplamente discutida há mais de uma década. Isso porque grande parte das evidências aponta que a o nível máximo de excelência só é atingido em metade das oportunidades. A diferença entre o que é feito e o que se deve fazer virou tema de palestras e discussões de profissionais que são referência em segurança do paciente, como é o caso do Dr. Robert Wachter.

O médico é a figura central no processo de assistência e, portanto, o alvo principal para se verificar a qualidade neste atendimento, especialmente aqueles com pouco treinamento e baixo volume de atendimentos diários. Por outro lado, os médicos com mais experiência costumam ser vistos pelos pacientes como capazes de fazer uma assistência melhor, o que não é exatamente uma regra. Se por um lado podemos assumir que o tempo de prática clínica leva a um acúmulo de conhecimentos e habilidades, por outro, médicos mais experientes que não buscam novos conhecimentos podem se tornar defasados com o passar dos anos.

Conheça todas as dimensões da qualidade na assistência

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Para averiguar esta hipótese, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Harvard tentaram estabelecer uma  relação entre experiência clínica e a qualidade da assistência médica. Para isso eles fizeram uma revisão sistemática de publicações que relacionaram a experiência clínica  com 4 campos da qualidade na assistência: conhecimento médico (como, por exemplo, saber as indicações para transfusão de sangue), adequação a padrões de investigação diagnóstica ou preventiva, adequação a padrões de tratamento de doenças, e desfechos como mortalidade).

Do total de estudos, 52% demonstrou que há queda de performance para todos os itens avaliados à medida que a experiência aumenta, e 21%   para parte dos itens. Ou seja, 73% teve queda total ou parcial na qualidade assistencial à medida em que a experiência aumenta. Em apenas 4% houve melhora.

No campo de conhecimento, o resultado foi negativo em 100% dos estudos, enquanto na adequação em investigação diagnóstica ou preventiva 63% demonstrou que, quanto maior o tempo de prática, menor são as chances de adesão a diretrizes com esse objetivo. Em 74% dos estudos, o aumento da experiência tem relação negativa também na adequação ao tratamento.  Por fim, no campo de desfechos, 57% dos estudos demonstrou que maior experiência se relaciona a maior mortalidade, ou a maior tempo de internação, sendo que nos outros 43% não foi apontada melhora, nem piora .

Isso pode ser um sinal de que os médicos mais velhos têm dificuldade em se manter atualizados  Ou ainda, que são mais resistentes a mudanças. Além disso, o estudo do processo de assistência, a atenção maior para a qualidade, para a segurança do paciente, e conceitos como os de governança clínica são recentes no meio da saúde.

As mudanças na área médica nos últimos anos foi imensa, com uma incorporação enorme de novas tecnologias e opções. Isso inclui um aumento considerável na quantidade de modalidades terapêuticas (novos medicamentos, equipamento para cirurgias, etc) e até mesmo na forma de diagnosticar doenças, o que torna inviável que qualquer profissional saiba tudo a todo tempo.  Outra questão a se considerar é a forma como é feita a atualização do conhecimento. O meio digital ganhou espaço por ser mais dinâmico em comparação à leitura de livros ou a ida a congressos. Por exemplo, uma conduta que se vê hoje descrita em um livro, ou toma-se conhecimento por meio de um congresso, pode cair por terra a qualquer momento. Os médicos mais novos, por serem de uma geração diferente, tendem a ser mais conectados e preparados a adaptações.

Porém, há de se refletir sobre como enquadrar os médicos mais antigos para que se obtenha a performance esperada. É preciso criar avaliações periódicas e padrões desejáveis mensuráveis de assistência como metas a serem atingidas, fornecendo os meios para atualização e cobrando resultados. Não é uma receita de bolo, mas é necessário dar o primeiro passo para resolver este importante tema envolvido na segurança do paciente.

 

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