Higiene das Mãos é Essencial
Embora a higiene das mãos seja uma medida simples, infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) afetam centenas de milhões de pessoas no mundo. “Isso ocorre porque a contaminação das mãos dos profissionais de saúde se dá durante a assistência, por meio do contato com o paciente e com superfícies, que pode ocorrer de forma direta ou indireta”, afirma a médica Gláucia Varkulja, infectologista pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas e membro do IBSP – Instituto para Segurança do Paciente. “Diversos microrganismos, inclusive bactérias multirresistentes podem passar a fazer parte da flora transitória das mãos dos profissionais, e quando a higienização das mãos não é feita, ou é feita de forma inadequada, as mãos permanecem contaminadas, podendo transmitir esses microrganismos para outros pacientes e superfícies”, explica.
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Em entrevista exclusiva ao site do IBSP, Gláucia reforça o papel de uma assepsia correta das mãos e elenca as vantagens e desvantagens de cada tipo de produto para a higienização.
IBSP – Qual a importância da higiene das mãos para controlar a infecção hospitalar?
Gláucia Varkulja: A higiene de mãos é a medida mais importante na prevenção das infecções relacionadas à assistência à saúde, pois data de meados do século 19 o início da associação de mãos contaminadas com infecções desenvolvidas pelos pacientes.
IBSP – O que deve ser usado para lavar as mãos e minimizar as infecções em ambientes hospitalares?
Gláucia Varkulja: Para higienizar as mãos, podemos utilizar produtos que dispensam o uso de água, como produtos alcoólicos, seja em apresentação espuma, gel, spray; água e sabão líquido; ou sabão com produto antisséptico.
IBSP – Água com sabão é suficiente? Álcool em gel é uma alternativa segura?
Gláucia Varkulja: O produto alcoólico é considerado o padrão ouro pela Organização Mundial de Saúde: é mais eficiente que higienizar as mãos com água e sabão, por se tratar de produto com ação antisséptica, ou seja, é maior a redução da carga microbiana presente nas nossas mãos com produto antisséptico do que com água e sabão comum.
IBSP – Qual o tempo que o profissional leva para higienizar as mãos?
Gláucia Varkulja: Com a solução alcoólica, é menor a necessidade de tempo para realizar a higienização das mãos comparada a lavá-las na pia (20 a 30 segundos com álcool versus 40 a 60 segundos na pia).
IBSP – Qual é menos agressivo?
Gláucia Varkulja: O produto alcoólico é menos agressivo à pele por conter substâncias emolientes que ajudam a preservar a integridade da pele. Além destes pontos, devemos considerar a disponibilidade de acesso: dispensadores de produto alcoólico podem ser instalados no ponto de assistência, que é aonde estão presentes três elementos: o paciente, o profissional da saúde e um cuidado a ser realizado.
IBSP – Em que momento a solução alcoólica deve ser usada?
Gláucia Varkulja: Sempre, até quando as mãos não estiverem visivelmente sujas.
IBSP – Quais as vantagens da solução alcoólica em relação ao álcool gel?
Gláucia Varkulja: São quase o mesmo produto, porém em diferentes apresentações. As vantagens são as detalhadas anteriormente, mais fácil disponibilização no ponto de assistência, é menos prejudicial à pele que sabonete, é mais rápido e mais prático na sua utilização, além da já mencionada eficácia antimicrobiana. Ainda que haja necessidade de maiores estudos para evidenciar qual apresentação é superior (há estudos com resultados controversos), considero que dispor do produto alcoólico, independentemente da sua apresentação, mas que esta seja bem aceita pela equipe assistencial, é um dos maiores ganhos para garantirmos cuidado limpo e seguro.
IBSP – Existem desvantagens da solução alcoólica?
Gláucia Varkulja: Consideraria apenas vantagens do produto alcoólico, em que pese a maior adesão à prática de higiene de mãos com este produto, principalmente pela rapidez no uso e facilidade de acesso. Contudo, podemos citar alguns pontos de atenção: quando usamos luvas talcadas, o resíduo do talco em contato com produto alcoólico pode formar uma espécie de “pasta”, de textura bastante desagradável e que pode facilitar desenvolvimento de dermatites. E ao cuidarmos de paciente com Clostridium difficile (que é uma bactéria que pode causar quadros diarreicos a colite fulminante, principalmente associados ao uso de antimicrobianos), como a forma esporulada desta bactéria é resistente ao álcool, é importante orientar os profissionais, os contactantes e o próprio paciente a lavarem as mãos para que haja remoção mecânica deste microrganismo.
IBSP – Quais os efeitos colaterais do uso de soluções alcoólicas e álcool gel na pele dos profissionais de saúde?
Gláucia Varkulja: Diria que os efeitos dos insumos para higiene de mãos, sejam eles produtos alcoólicos nas suas diversas apresentações, e também sabão líquido ou antisséptico, podem ser semelhantes, em maior ou menor escala. Daí a importância de ter um produto de qualidade, em que a barreira cutânea seja cuidada e preservada. Pode haver irritação, dermatites, descamação, efeito de ressecamento, sensação de mãos pegajosas.
IBSP – Qual a qualidade dos produtos?
Gláucia Varkulja: Os produtos atuais evoluíram muito, contendo emolientes e hidratantes na composição, o que dificulta o surgimento deste tipo de efeito colateral. É bastante importante que os insumos, antes de serem escolhidos, sejam avaliados pelos usuários, além dos fóruns técnicos como as Comissões de Controle de Infecção Hospitalar e de Padronização, ou Farmácia e Terapia. É importante que haja alguma forma de notificação de casos de lesões associadas ao uso destes insumos para que a avaliação de possíveis necessidades de mudanças possam ser feitas.
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