Profissional alerta para riscos do procedimento que era realizado sem eficácia comprovada há 20 anos
Sem ter eficácia comprovada, o procedimento que ficou conhecido como vacina contra aborto foi proibido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Aplicado há cerca de 20 anos em clínicas de nove Estados brasileiros, o tratamento prometia quebrar o ciclo de abortos recorrentes por causa de fatores imunológicos ao injetar uma fórmula feita com o sangue paterno na gestante.
De acordo com o órgão, a imunização só pode ser usada em projetos de pesquisa aprovados por comitês de ética, e utilizá-la como tratamento clínico agora será considerado “infração sanitária”, que pode render multas e até fechamento da clínica. A medida foi tomada visando a segurança do paciente, já que o procedimento expunha mulheres aos mesmos riscos de uma transfusão sanguínea. “Há riscos de infecções por doenças como HIV, hepatite, HTLV, chagas, sífilis”, alerta Dr. Ricardo Luba, ginecologista e obstetra especializado em reprodução humana
O profissional explica que, durante a gestação, a imunidade contra o feto fica modificada com um aumento dos linfócitos TH2, que permite um bloqueio e proteção para o embrião (anticorpos bloqueadores) para que o bebê cresça e se desenvolva sem sofrer ataques das células de defesa materna. Verificou-se que quanto menor variabilidade genética existir entre a mãe e o pai, menor a resposta contra o bebê.
Dentro desse conceito surge a teoria da terapia de imunização com linfócitos paternos, que eram injetados no organismo da mãe para estimular a produção de anticorpos TH2. A partir de uma prova de compatibilidade conhecida como Cross-Match, verificava-se a compatibilidade genética entre o casal. Em seguida, era feito o preparo de vacinas feitas com os linfócitos paternos para sensibilizar a mãe a produzir anticorpos que iriam protegem o embrião.
O CFM (Conselho Federal de Medicina) não recomenda o uso da vacina por falta de embasamento científico. Segundo o órgão, como não é considerada terapêutica, a única maneira de usá-la é em pesquisa, obedecendo os trâmites normativos. Sociedades médicas defendem ainda que não há evidência de que o tratamento imunológico reduza o risco de abortos recorrentes (perdas de três ou mais gestações até a 20ª semana).
“Como não havia referências bibliográficas com nível de evidência forte, era bastante empírico, bastante discutido e controverso o seu uso”, explica Luba. Diante da falta de comprovação da eficácia e da proibição da tal vacina, outros tratamentos são indicados para o caso de abortos recorrentes, como o uso de corticoides e imunoglobulina humana.
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