Estudo recente traçou um paralelo para compreender como o fortalecimento da cultura de segurança pode beneficiar o desfecho dos pacientes
Há relação direta entre a cultura de segurança do paciente nas organizações, a omissão de cuidados e ocorrência de eventos adversos? Um estudo transversal que entrevistou 385 enfermeiros de diferentes hospitais buscou compreender esse cenário e detalhou aspectos importantes em seus achados.
Dos participantes, a maioria relatou que necessidades dos pacientes ocasionalmente deixavam de ser atendidas. Entre essas necessidades estavam a periodicidade da deambulação, virar os pacientes no leito, detalhes da alimentação e nutrição, além de antecipação ou atraso de 30 minutos na administração de medicamentos.
Curioso observar que cuidados eram perdidos com maior frequência entre enfermeiros com especialização. O estudo sugere que isso ocorre porque enfermeiros especialistas tenderiam a se concentrar nos resultados gerais dos pacientes, deixando algumas necessidades pontuais passarem desapercebidas. Contudo, isso é apenas uma hipótese levantada pelo estudo, sendo importante concentrar a análise nos achados relacionados à cultura de segurança, que foi avaliada de forma objetiva.
Aparentemente, dimensões frágeis da cultura de segurança (conforme questionário Hospital Survey on Patient Safety Culture da AHRQ) se mostraram responsáveis por 9% a 30% dos cuidados de enfermagem que deixaram de ser executados, mostrando uma correlação direta entre essas duas pontas. Entre essas dimensões, destaque para fragilidade na percepção geral de segurança, no suporte da gerência, no trabalho em equipe e na aprendizagem organizacional.
Além disso, a omissão de cuidados impactou de forma estatisticamente significativa o número de quedas, um importante indicador de segurança em pacientes que se associa com alta morbidade, mortalidade e custos associados.
Por fim, alguns pontos da cultura de segurança verificados no questionário de cultura de segurança se mostraram diretamente atrelados à qualidade da assistência. São eles: resposta não punitiva a erros, notificação dos eventos adversos e feedback sobre erros. Isso demonstra que o fortalecimento da cultura de segurança embasada no compartilhamento de experiências, na comunicação e na confiança nas medidas preventivas tem sido associado à melhores desfechos. Além disso, a cultura de segurança fornece apoio primordial à intensa rotina das equipes de enfermagem.
Lucas Zambon, diretor científico do IBSP, faz uma observação relevante. “Por ser um estudo transversal, ou seja, que faz uma ‘foto’ de um momento, seriam necessários estudos observacionais mais longitudinais para demonstrar a força de associação entre pontos frágeis da cultura de segurança e a omissão de cuidados ao paciente”. Contudo, ele complementa: “mas não deixa de ser um estudo muito interessante para nos instigar a compreender melhor as repercussões objetivas e mensuráveis das fragilidades da cultura de segurança do paciente em uma organização”.
Referências:
(1) Impact of Patient Safety Culture on Missed Nursing Care and Adverse Patient Events
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