Atender indivíduos com um conjunto de necessidades que envolvem questões comportamentais, sociais e de saúde como, por exemplo, mais de uma doença crônica ou outras comorbidades, é um desafio enorme para os sistemas globais. Denominada como “cuidados complexos”, essa atenção multidisciplinar exige uma união entre diversos profissionais para a manutenção do bem-estar desses cidadãos.
Nos Estados Unidos, o The National Center for Complex Health & Social Needs (1) reconhece que há muitas falhas tanto nos serviços de saúde quanto no acompanhamento social que impedem melhorias constantes ao dia a dia desse indivíduo, além de ampliar o custo da assistência médica, impactando negativamente na sustentabilidade dos sistemas.
Segundo a organização, a assistência de cuidados complexos deve ser visualizada tanto no âmbito individual quanto sistêmico. Isso significa que, para ser eficaz e eficiente, precisa ser flexível, interdisciplinar, baseada em evidências e centrada nas necessidades, objetivos e particularidades do cidadão. Essas características permitirão um atendimento integral ao paciente.
Para o sistema, em si, as benesses surgem através da melhor coordenação desse atendimento promovendo modelagens mais assertivas aos ecossistemas tanto social quanto médico. Assim, além de melhor atender o paciente que tem necessidades complexas, há uma redução considerável dos desperdícios que devem sempre ser combatidos.
O The National Center for Complex Health & Social Needs destaca as principais características dos cuidados complexos:
- Focar no indivíduo e em suas necessidades
- Ser equitativo para reconhecer os entraves estruturais e, assim, trabalhar para saná-los
- Ser intersetorial para construção de um ecossistema integrado que contribua com atendimento amplo
- Basear-se em equipe para que seja multidisciplinar
- Orientar-se por evidências e dados que permitem o melhor suporte e auxiliem na avaliação das metas e do sucesso dos processos
Pensando no trabalho baseado em evidências, um relatório publicado pelo IHI (Institute for Healthcare Improvement) (2) compila detalhes sobre o atual cenário inerente aos cuidados complexos, incluindo os principais desafios e oito recomendações para que as equipes desenvolvam um conjunto de indicadores para esse segmento.
1. Crie um processo para o desenvolvimento e o alinhamento de indicadores com base nos resultados que espera obter. Caso seu objetivo seja, por exemplo, comparar até que ponto os programas adotados atuam para a melhoria dos desfechos clínicos, será necessário determinar quais casos são considerados “complexos” e quais dados serão analisados;
2. Desenhe o caminho até que se atinja um denominador padrão;
3. Considere ações alternativas às padronizadas como, por exemplo, permitir que equipes utilizem suas próprias ferramentas de triagem, desde que os resultados possam ser mapeados;
4. Considere cinco domínios principais para a medição das metas, padrões e para a estratificação dos dados: efetividade e qualidade dos serviços, equidade, saúde e bem-estar, prestação de serviços, e custo e utilização;
5. Promova medidas com base nas prioridades do paciente;
6. Defina um conjunto principal de indicadores para realizar as avaliações de forma emparelhada a conjuntos adicionais fundamentados em populações de interesse e atendimentos priorizados;
7. Crie um ambiente de colaboração entre os profissionais;
8. Desenvolva capacidades e processos capazes de aderir melhores práticas e abordagens inovadoras.
>> Indicadores assistenciais – Identificação de problemas e de soluções
O documento também se aprofunda na análise da sociedade a fim de identificar indivíduos que se encaixariam em cuidados complexos considerando grupos distintos que envolvem crianças com necessidades complexas; pessoas com deficiências; indivíduos com mais de uma doença crônica; idosos frágeis; e pacientes em fase avançada de determinadas doenças.
Ainda nos Estados Unidos, algumas organizações se uniram para desenvolver um plano estratégico que apoia novos formatos e inovações no atendimento a indivíduos que necessitam de cuidados complexos tanto na área da saúde quanto nos setores comportamental e social.
Reunidas no documento Blueprint for Complex Care (3), que foi construído por meio de entrevistas com especialistas, profissionais da linha de frente da assistência e consumidores, onze recomendações visam instruir as prioridades para o fortalecimento dos cuidados complexos.
Entre essas recomendações, destaque para o desenvolvimento de competências essenciais e ferramentas práticas para auxiliar o atendimento multidisciplinar; criação dos indicadores de qualidade que aceleram o aprendizado e a busca por melhorias; integração de dados para maior conhecimento dos casos; identificação de lacunas no campo da pesquisa a fim de saná-las por meio do investimento em pesquisa e inovação; apoio a novos modelos de remuneração focados na saúde baseada em valor; e fortalecimento de parcerias estratégicas intersetoriais.
Cuidados complexos seguem como desafio em todo o mundo, porém roteiros como os relatórios mencionados podem assegurar a tomada de decisão e orientar os profissionais que estão envolvidos nesse cenário a fim de melhorar a segurança desses pacientes.
Referências:
(2) Measuring complexity – Moving toward standardized quality measures for the field of complex care
(3) Blueprint for Complex Care
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