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Baixa alfabetização em saúde leva a erros na adesão aos tratamentos pós-alta

Baixa alfabetização em saúde leva a erros na adesão aos tratamentos pós-alta
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A adesão ao tratamento pós-alta hospitalar é fundamental para evitar recaídas e novas internações. Um estudo (1) mostrou que 14,3% dos pacientes que não seguiram as recomendações médicas ao irem para casa foram internados novamente. Entre os que seguiram as recomendações, essa taxa foi de 6,1%.

Paralelamente, é sabido – e está evidente na literatura científica – que adultos mais velhos têm risco aumentado de não tomar os medicamentos da forma correta após a saída do hospital. Uma série de fatores competem para este cenário, que incluem desde a maior prevalência de polifarmácia em idosos, quanto condições de piora da cognição com o avançar da idade. Questões cognitivas inclusive podem fazer com que eles tenham uma alfabetização em saúde inadequada (quando há incapacidade de compreender a importância de manter a ingestão correta dos medicamentos prescritos e seguir as orientações médicas).

Pensando neste cenário, um estudo observacional (2) analisou se há, de fato, relação direta entre a baixa alfabetização em saúde e divergências na administração de medicamentos após a alta hospitalar. Para isso, envolveu 254 pacientes acima dos 70 anos que tinham sido internados por pelo menos 24 horas.

No dia da alta, os pesquisadores entrevistaram esses idosos para avaliar a função cognitiva de cada um, classificando-os de acordo com o nível de escolaridade e aplicando o teste sTOFHLA para avaliar a alfabetização funcional pela capacidade de ler e compreender textos médicos. Esses pacientes, foram, então, separados em três grupos:

  • Alfabetização adequada
  • Alfabetização marginal
  • Alfabetização inadequada

Sabendo exatamente quais medicamentos os pacientes tomavam antes da internação e com a prescrição pós-alta em mãos, os pesquisadores partiram para a próxima fase do estudo. De 48h a 72h após a saída hospitalar, ligaram para esses pacientes verificando quais medicamentos estavam sendo utilizados.

Surgiram, então, três cenários: pacientes que estavam tomando medicamentos não listados na prescrição e que não faziam parte de sua rotina; pacientes que não estavam tomando medicamentos prescritos; e pacientes que estavam tomando medicamentos prescritos, mas de forma incorreta (seja dose, seja frequência).

Quando questionados por qual motivo não seguiram as recomendações, os pacientes ora disseram que tinham optado por não segui-las, ora disseram que não tinham entendido terem de tomar aqueles medicamentos, e ora alegaram instruções imprecisas, instruções conflitantes, incapacidade para adquirir os medicamentos (como falta de dinheiro, de tempo ou de transporte), alergia ou reação adversa.

Dos 254 participantes do estudo, 142 (56%) apresentaram discrepâncias entre como estavam conduzindo as medicações em casa e as prescrições.

Interessante observar que, diretamente, não houve associação entre a alfabetização em saúde e a discrepância na medicação, já que 65,9% dos indivíduos com inadequada alfabetização em saúde, 63,3% dos indivíduos com alfabetização em saúde marginal e 67,9% dos indivíduos com alfabetização em saúde adequada experimentaram pelo menos uma discrepância de medicação. Uma média similar para todos os grupos.

Porém, o estudo sugere que aqueles pacientes com alfabetização em saúde inadequada estavam mais propensos a não aderir ao tratamento de forma não intencional, ou seja, por não ter compreendido como proceder. Em essência, esses idosos cometeram erros propriamente ditos. Por outro lado, aqueles com maior alfabetização, estavam mais propensos a não aderir intencionalmente, ou seja, eles entenderam as instruções, e optaram por não segui-las.

De acordo com Lucas Zambon, diretor científico do IBSP, este estudo traz achados interessantes, que merecem ser explorados em outros estudos observacionais e mesmo em ensaios clínicos. “Chama atenção que pouco mais da metade dos participantes já apresentava discrepâncias com as orientações dadas com apenas 2 a 3 dias depois da alta hospitalar. Como será que isso fica em prazos mais longos? Outro destaque é que a baixa alfabetização, ou literacia, favorece erros e precisa de intervenções específicas que favoreçam a adesão do paciente. Há, ainda, os pacientes em que a literacia não era problema, pois as discrepâncias foram deliberadas, e isso merece um aprofundamento quanto às motivações para que isso ocorra. Sem essas respostas, é muito difícil avançarmos nas transições de cuidado que envolvem medicações e alta hospitalar em idosos”, declara.

 

Referências:

(1) Posthospital medication discrepancies: prevalence and contributing factors

(2) Relationship of Health Literacy to Intentional and Unintentional Non-Adherence of Hospital Discharge Medications

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