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Central de Material e Esterilização – O coração do hospital

Central de Material e Esterilização – O coração do hospital
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IBSP: Segurança do Paciente - Central de Material e Esterilização – O coração do hospital

Do mais simples curativo ao procedimento cirúrgico mais complexo, todos os ambientes de uma infraestrutura hospitalar estão diretamente atrelados à CME (Central de Material e Esterilização). Responsável pelo processamento de produtos para a saúde, a central é tida como o coração do hospital, visto que, sem ela, os atendimentos são comprometidos. Porém, mesmo com legislação rigorosa sobre o tema, muitas unidades hospitalares enfrentam problemas em suas rotinas.

Entre os processos básicos de uma CME estão: inspeção, limpeza, preparo, embalagem, esterilização e armazenamento de produtos para saúde. E a garantia de que essa rotina siga sem intercorrências em um ambiente totalmente adequado é fundamental para que o processo de limpeza desses produtos não ameace a segurança dos pacientes e, também, dos profissionais de saúde.

Publicado em 2004 pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, um estudo1 relata que é preciso ampliar o reconhecimento da relevância da CME para o ambiente hospitalar seguro. Segundo a publicação, muitas vezes a central é instalada em uma área alternativa, com mobiliário remanejado de outros ambientes, e atua com profissionais que não foram adaptados para essa atividade.

Os riscos – Seguir as melhores práticas é fundamental, visto que falhas nesse processo podem facilitar a permanência de sangue, fluidos, tecidos e outros detritos biológicos em alguns desses dispositivos2. Caso isso ocorra, esses resíduos, muitas vezes invisíveis a olho nu, favorecem a formação de biofilme na superfície dos materiais, potencializando o risco de infecções associadas a realização de procedimentos. Além disso, o reprocessamento inadequado pode resultar em outros eventos adversos como irritação de mucosas e tecidos ocasionada por resíduo de desinfetantes nos materiais devido a falha na etapa do enxágue.

Infecções de sítio cirúrgico são alguns dos eventos adversos mais e garantir a esterilização ideal em todos os produtos para a saúde é fundamental para mitigar qualquer risco. Porém não só o paciente cirúrgico fica exposto à riscos quando há falhas nas centrais de materiais e esterilização1. Se artigos de nebulização, por exemplo, não forem devidamente esterilizados, esses pacientes são expostos a possíveis infecções do trato respiratório, infecções essas que estão entre as três mais importantes no ambiente hospitalar.

As diretrizes também atuam para a segurança dos profissionais de saúde. Estudo3 publicado pela SOBECC (Associação Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização) investigou a ocorrência de acidentes de trabalho e os principais riscos ocupacionais dentro da CME. Como resultado, concluiu que entre os acidentes de trabalho levantados, as lesões com perfurocortantes e as queimaduras por autoclave foram as mais representativas nas instituições.

A regulamentação – Cabível a materiais reutilizáveis como equipamentos, aparelhos e outros produtos de uso médico, o reprocessamento é regulamentado pela Anvisa4 (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e há outras resoluções, além da RDC/Anvisa nº 15/2012 – que dispõe sobre requisitos de boas práticas para o processamento de produtos para saúde –, que devem ser observadas. Em primeiro lugar, para ter o reprocessamento autorizado, o produto não pode constar na lista de produtos médicos enquadrados como de uso único apontados na RE/Anvisa nº 2.605/2006 e não pode conter, em sua rotulagem, os dizeres “proibido reprocessar”, conforme estabelecido na RDC/Anvisa nº 156/2006.

As resoluções que norteiam os critérios para um reprocessamento adequado estão apresentadas na RE/Anvisa 2.606/2006, que trata da elaboração, validação e implantação de protocolos de reprocessamento de produtos médicos.

Quando se fala em uso único, um manual5 apresentado pela Anvisa trata dos aspectos legais, éticos e técnicos do reprocessamento de produtos e afirma que o material não pode ser reutilizado se:

– Comprovado que todas as superfícies do material não podem ser limpas;
– A esterilidade pós-reprocessamento não pode ser demonstrada;
– A avaliação de resíduos químicos tóxicos indica risco de uso no paciente;
– A integridade e funcionalidade do dispositivo de uso único não podem ser demonstradas e documentadas como seguras para o paciente.

Classificação e equipes – As centrais são divididas em duas categorias. A CME Classe I realiza o processamento de produtos para a saúde não-críticos, semicríticos e críticos de conformação não complexa, passíveis de processamento; e CME Classe II realiza todas essas ações e, também, o processamento de produtos críticos de conformação complexa.

Para coordenar todas as atividades ali desenvolvidas, devem contar com um profissional responsável, de nível superior e, no caso da CME Classe II, esse profissional deve atuar exclusivamente nessa unidade durante toda sua jornada de trabalho.

Todos os profissionais devem receber capacitação específica e periódica que aborde temas como classificação de produtos para saúde; conceitos básicos de microbiologia; transporte de produtos contaminados; monitoramento de processos por indicadores químicos, biológicos e físicos; rastreabilidade, armazenamento e distribuição dos produtos para saúde; manutenção da esterilidade; e processo de limpeza, desinfecção, preparo, inspeção, entre outros.

Além de uma equipe dedicada atuando na CME, qualquer instituição que realize mais de 500 cirurgias por mês (excluindo partos) deve ter um Comitê de Processamento de Produtos para Saúde (CPPS) composto por representantes da diretoria, da enfermagem, da equipe médica e da CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar), além, claro, do responsável pela CME.

Cenário – Estudo realizado pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia6 analisou as condições técnicas do reprocessamento de produtos médicos em hospitais. Como resultados, após estudar quatro hospitais concluiu uma inadequação geral nas condições das instituições, o que amplia o risco para os pacientes.

Os hospitais analisados possuíam suas próprias CME realizando, internamente, o reprocessamento de produtos médicos. A coordenação dessas unidades estava sob comando de enfermeiros que, nem sempre, tinham total domínio e conhecimento sobre a legislação vigente.

Outro ponto relevante – e com impacto direto na gestão de risco – estava no fato de que nenhuma das unidades analisadas contava com um comitê responsável pelo gerenciamento dos produtos médicos da instituição. Além disso, em todos os hospitais observados a temperatura e a umidade relativa do ar eram inadequadas; não havia água quente nas pias utilizadas para limpeza dos produtos contaminados (água quente é fundamental para o uso de detergentes enzimáticos); não havia sistema de água potável com filtro bacteriano para retenção de conteúdos microbianos da água usada na limpeza dos artigos; não existiam lavadoras ultrassônicas (imprescindíveis para limpeza de produtos canulados) nem secadoras automatizadas; não havia balança para controle de peso dos pacotes a serem esterilizados; entre tantos outros pontos problemáticos.

IBSP: Segurança do Paciente - Central de Material e Esterilização – O coração do hospital

Referências:

(1) Validação e Qualificação dos Processos de Limpeza Mecânica e Termodesinfecção dos Artigos de Nebulização em Lavadora Automática Convencional

(2) Reprocessing of Reusable Medical Devices – FDA – EUA

(3) Centro de material e esterilização: acidentes de trabalho e riscos ocupacionais

(4) Reprocessamento de produto para saúde deve seguir regra – Anvisa

(5) Processamento de Produtos de Uso Único no Brasil: aspectos legais, éticos e técnicos na perspectiva da Anvisa

(6) Risco e segurança sanitária: análise do reprocessamento de produtos médicos em hospitais de Salvador, BA

 

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