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Desafio de tratar câncer de pulmão é que a doença é muitas vezes assintomática

Desafio de tratar câncer de pulmão é que a doença é muitas vezes assintomática
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Rastreamento em Câncer de Pulmão

Recentemente, dois casos de celebridades com câncer de pulmão nos chamaram atenção. Marília Pêra, que descobriu tardiamente e faleceu em menos de dois anos; e Ana Maria Braga, que percebeu o câncer no início e fez a retirada do tumor rapidamente, sendo considerada curada pelo seu médico. O que elas tinham em comum? O tabagismo.

Do ponto de vista do profissional de saúde, casos como esse geram um aumento na procura de check-ups por curto espaço de tempo. “Passados um ou dois meses, tudo volta ao que era antes. E o interessante é que, embora aumente a procura por exames de rastreamento, não se reduz o hábito do tabagismo”, diz o Dr. Ricardo Caponero, médico oncologista da CLINONCO – Clínica de Oncologia Médica, graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), especializado em oncologia pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e coinvestigador de Pesquisas Clínicas Nacionais e Internacionais Multicêntricas.

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Em entrevista ao IBSP – Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente, o Dr. Ricardo Caponero comenta protocolos médicos de rastreamento do câncer e as especificidades do de pulmão.

IBSP – Se o paciente quer um check-up para rastrear câncer, qual deve ser o protocolo médico? Quais exames podem ser pedidos?

Ricardo Caponero – Depende da história familiar e dos fatores individuais de risco. Em relação ao câncer de pulmão, o que se recomenda é a realização de tomografia computadorizada do tórax, com doses baixas de radiação, anualmente, dos 55 aos 80 anos, para quem tem histórico de tabagismo e é fumante ativo ou que interrompeu o tabagismo nos últimos 15 anos (em relação ao momento presente)*. Para os outros tumores, recomenda-se o exame clínico anual, com inspeção da pele e mucosa, uma colonoscopia aos 50 anos de idade e, se normal, pesquisa de sangue oculto nas fezes uma vez ao ano, além da repetição da colonoscopia a cada cinco anos. As mulheres devem realizar mamografias anuais a partir dos 40 anos de idade (50 anos, pela conduta do Governo Federal) e colpocitologia oncótica (Papanicolau) anualmente desde o início da vida sexual. Para os homens, há controvérsias na realização do exame de toque para detecção do câncer de próstata.

*O Dr. Lucas Zambon do IBSP ressalta que o rastreamento deve ser interrompido após os 80 anos, se o tempo de interrupção de tabagismo superar 15 anos, ou se a pessoa desenvolver uma doença que diminua a expectativa de vida ou torne inviável uma cirurgia em caso de detecção de um câncer localizado (Fonte: U.S. Preventive Services Task Force)

IBSP – Ter tido outros cânceres antes pede rastreamentos constantes?

Ricardo Caponero – Depende do câncer. Algumas neoplasias tem caráter genético e hereditário, outras não. De qualquer forma, quem teve um câncer deve manter, no mínimo, um acompanhamento médico anual.

IBSP – O câncer de pulmão é famoso por ser difícil de tratar. Se descoberto no começo, qual a chance de cura?

Ricardo Caponero – O problema do câncer de pulmão está no fato de a doença poder passar totalmente assintomática nas fases iniciais. Com isso, o prognóstico piora rapidamente com a evolução da doença. Para todas as neoplasias, em geral, o diagnóstico precoce e a descoberta no estágio mais inicial estão associados a maiores chances de cura.

IBSP – O estágio avançado, portanto, é o grande vilão do câncer de pulmão?

Ricardo Caponero – Embora as chances de cura sejam maiores no estádio inicial, isso não é uma regra absoluta. Há pessoas com doença avançada que vão bem, e outras, com doença inicial, que evoluem mal. Hoje, sabemos que depende, além do diagnóstico precoce e tratamento correto e oportuno, da biologia do tumor. Tumores de mesmo tamanho, com o mesmo grau de disseminação, podem ter comportamentos distintos, com base em diferenças no perfil de expressão gênica de cada neoplasia.

IBSP – As cirurgias são menos invasivas, como a de Ana Maria Braga que foi feita por vídeo e corte pequeno, garantem maior segurança ao paciente e chance de cura elevada?

Ricardo Caponero – A chance de cura depende do estágio da doença, não do tamanho da cirurgia. Mas é claro que doenças em estágio mais adiantado precisam de cirurgias maiores do que doenças de estágio inicial. Um tumor de menos do que um centímetro precisará de uma cirurgia menor do que um tumor de sete centímetros. Isso é intuitivo. Se a cirurgia é feita de forma aberta ou assistida por vídeo (toracoscopia), ou por robô, o que muda é o dano à parede do tórax. A recuperação pode ser mais rápida, o trauma cirúrgico menor, menos sangramento, menos dias de internação, menos cicatrizes, mas a chance de cura não depende do tamanho do corte. O tamanho do corte é que depende do tamanho da doença, e o tamanho (e extensão) é que determinam o prognóstico.

IBSP – Todas as classes sociais têm acesso a tratamentos de ponta? Ou somente famosos como Ana Maria, que operou no Albert Einstein?

Ricardo Caponero – A resposta é óbvia. A discrepância de acesso ao diagnóstico e tratamento é cada vez mais evidente. Temos, de novo, a medicina “dos ricos” e a “medicina dos pobres”. Isso já beira o antiético.

IBSP – Como um paciente pode se precaver para rastrear câncer de pulmão no início, já que é um “câncer silencioso” (Ana Maria não sentiu nenhum sintoma)?

Ricardo Caponero – A recomendação, como citamos, é para que fumantes, ou pessoas que abandonaram o vício há menos de 15 anos, façam anualmente uma tomografia computadorizada do tórax, com baixas doses de radiação, dos 55 aos 80 anos de idade.

 

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