ESPECIAL IBSP – CHECK-UP
Conhecido pela maioria dos pacientes e até profissionais da área médica por ser capaz de prevenir o desenvolvimento de doenças, o check-up pode se transformar em um verdadeiro vilão, se considerado os riscos que traz. De acordo com o Dr. Rodrigo Olmos, Diretor Clínico do Hospital Universitário da USP, o problema não está na realização dos exames propriamente ditos, pois esses costumam ser pouco invasivos, mas sim nas consequências, como falsa segurança que os check-ups transmitem, uma cascata de exames confirmatórios (cada vez mais invasivos) quando algum resultado dá positivo nos laudos iniciais, rotulação da pessoa que tem algum exame alterado, mesmo depois que o exame confirmatório descarte qualquer tipo de doença e, por fim, tratamentos invasivos para problemas detectados por rastreamento muitas vezes desnecessários.
O profissional aponta o último item como o calcanhar de Aquiles dos exames de rastreamento, que é o chamado sobrediagnóstico (overdiagnosis). O assunto, que tem sido muito discutido, questiona as verdadeiras vantagens de se descobrir uma condição (doença) antes que ela se manifeste, uma vez que ela pode simplesmente nunca se manifestar.
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Conviver com a doença
“Uma grande parcela das doenças diagnosticadas precocemente por rastreamento (check-up), provavelmente a maior parte delas, são condições que nunca teriam causado problema para a pessoa se não tivessem sido diagnosticadas. Ou seja, são ‘doenças’ que ‘existem’ do ponto de vista biológico, mas que nunca se manifestariam clinicamente”, explica Olmos.
Há estudos em autópsias que comprovam essa tese. “Sabemos que muitas pessoas muito idosas, que não eram portadoras de nenhuma doença, morrem de problemas como pneumonia, infarto, acidentes, derrames (AVCs) etc. e que, ao serem autopsiadas, encontramos um ou mais focos de câncer que nunca se manifestaram. Ou seja, a pessoa não morreu do câncer, ela morreu ‘com o câncer. Sabemos que há um grande reservatório destes pequenos tumores, que aumenta com a idade, que nunca se manifestaria se não fosse por nossa busca incessante por problemas de saúde onde eles não existem”, afirma.
Se levarmos em consideração esses casos, o diagnóstico precoce dessas pseudodoenças teria mais malefícios do que benefícios, pioraria muito a qualidade de vida do paciente e poderia até diminuir a expectativa de vida por conta disso.
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