A ciência da implementação é uma especialidade que ajuda a quebrar as barreiras da adoção de novos protocolos e intervenções
Há uma perspectiva global de que são necessários 17 anos para que o conhecimento adquirido com a ciência chegue à prática generalizada, o que faz com que os pacientes ao redor do mundo recebam cuidados que podem estar duas décadas desatualizados. Para agilizar esse processo, garantindo que as novas descobertas salvem vidas de forma mais ágil, é possível investir no que os pesquisadores chamam de “ciência da implementação”.
Trata-se de uma especialidade voltada a quebrar possíveis barreiras que atrasam a conversão do conhecimento teórico em aplicação prática, desafio já reconhecido inclusive pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
As ações adotadas pela ciência da implementação – que envolvem tanto a retirada de protocolos quanto a inserção de novos – podem abordar desde políticas, sistemas e organizações até ambientes clínicos, como ambulatórios e alas de internação, afinal, são elas que avaliam quais os efeitos que as mudanças processuais podem ter tanto na qualidade da assistência quanto na segurança dos pacientes.
Depois da implementação, no entanto, é preciso verificar sua eficiência e, para isso, alguns critérios são comumente usados, entre eles aceitabilidade, adoção, adequação, viabilidade, fidelidade, penetração, sustentabilidade e custo. Todos esses indicadores foram descritos com profundidade na revisão Provision of Defect-Free Care – Implementation Science in Surgical Patient Safety (1).
São essas avaliações as responsáveis pela compreensão de quais pontos de um novo tratamento (ou intervenção) são os principais focos do sucesso dessa implementação. Os pesquisadores apontam que a viabilidade, por exemplo, é quem ditará se aquela descoberta poderá ou não virar rotina naquele serviço de saúde. O mesmo para o custo, que pode tornar uma nova terapia acessível apenas a uma parcela da população. Esse ponto, aliás, é variável de acordo com cada país. No Brasil, inclusive, o CONITEC é o órgão responsável por decidir se uma nova tecnologia será implementada no SUS após a avaliação de um relatório técnico.
Implementação ou desimplementação
Assim como mencionado acima, a ciência da implementação também pode ser usada para a retirada ou substituição de procedimentos já implementados. É o que o artigo chama de “desimplementação”, ou seja, quando é necessário descontinuar intervenções que são prejudiciais, ultrapassadas, ineficazes ou desnecessárias. Nesse cenário, pode ocorrer uma reversão parcial, completa ou com substituição.
Entre as barreiras para essa remoção estão tanto questões psicológicas como organizacionais (como avaliação de custo-benefício), já que envolvem esforços intelectuais e operacionais para que toda a equipe aprenda as novas técnicas.
Metodologias
Segundo a publicação, existem 61 teorias, estruturas e modelos de implementação disponíveis para os sistemas de saúde que podem atender a três objetivos distintos: orientar o processo de conversão da pesquisa em prática clínica; explicar o que influencia os resultados da implementação; e avaliar a implementação. O texto se aprofunda em três modelos, além de apresentar um catálogo com outras estratégias.
Translating Evidence into Practice (TRIP)
Abordagem voltada a melhorar a qualidade e a confiabilidade do atendimento muito utilizada em processos de melhoria da qualidade, consiste em seguir quatro etapas principais: resumir as evidências, identificar barreiras à implementação, medir o desempenho e garantir que todos os pacientes possam receber esse novo protocolo de forma eficiente, ou seja, com engajamento de todas as partes, compartilhamento dos conhecimentos e evidências, execução livre de falhas e avaliação de desempenho.
Consolidated Framework for Implementation Research (CFIR)
Baseado em cinco domínios – complexidade, políticas e incentivos, cultura e recursos, conhecimento e crença na intervenção, e planejamento – esse modelo ajuda a identificar as barreiras de implementação e os pontos de facilitação. Para segui-lo, pode-se utilizar um guia de entrevistas já disseminado e disponível AQUI.
Reach, Effectiveness, Adoption, Implementation and Maintenance (RE-AIM)
Desenvolvida no final da década de 1990, essa estrutura também se baseia em cinco domínios: alcance, eficácia, adoção, implementação e manutenção. O objetivo é permitir que a equipe multidisciplinar esteja atenta a todos os elementos da implementação da nova prática.
Passo a passo
Após tratar dos diferentes modelos, o estudo traz um passo a passo de como colocar, em prática, a ciência de implementação. Segundo os estudiosos, o caminho estratégico deve ser:
- Escolher uma estrutura apropriada entre as diferentes possibilidades já mencionadas;
- Estabelecer o alvo da intervenção
- Definir as fontes e os elementos de dados
- Envolver todas as partes interessadas
- Debater as barreiras identificadas
Referência
Provision of Defect-Free Care – Implementation Science in Surgical Patient Safety
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