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Cirurgia sem cateter urinário: novas recomendações para prevenir infecção

Cirurgia sem cateter urinário: novas recomendações para prevenir infecção
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Enfermeira manipula catater urinário: falta de medidas de higiene contribuem para infecções (Windnarsil/Bigstock)
Enfermeira manipula catater urinário: falta de medidas de higiene contribuem para infecções (Windnarsil/Bigstock)

Marcela Buscato

A NOVIDADE – Um grupo de autores americanos revisou 45 artigos para chegar às melhores recomendações para o uso de cateteres urinários em cirurgias. Na publicação de 12 de agosto do BMJ Quality & Safety, a equipe liderada pela médica americana Jennifer Meddings, do Instituto de Inovação e Política de Saúde da Universidade de Michigan, orienta usar sondas apenas se necessário, em vez de regra, e a retirá-las o mais cedo possível. Leia no texto abaixo a relação de  operações em que os pesquisadores consideraram o cateter desnecessário.

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O CONTEXTO – Os cateteres urinários têm funções importantes: previnem incontinência e distensão da bexiga em pacientes anestesiados, além de proporcionar o controle da excreção de urina no pós-operatório. Porém, podem trazer riscos, principalmente de infecção. Um levantamento americano estima que 67% dos problemas urinários em pacientes hospitalizados estão relacionados ao dispositivo. Outro estudo sugere que os pacientes que ficavam por mais de dois dias com cateteres urinários tinham duas vezes mais chances de desenvolver infecção urinária do que aqueles que ficavam menos de dois dias. O risco de morte em 30 dias também era maior, assim como a probabilidade de alta menor.

A PRÁTICA – Falhas de higiene durante a colocação dos cateteres estão por trás das infecções. Uma pesquisa brasileira, da Universidade Federal de Goiás, mostrou que 75% dos profissionais não lavaram as mãos antes de realizar o procedimento e que a limpeza da área de colocação do cateter só foi realizada por 62,5%.  Além de reforçar o treinamento para cumprimento do protocolo, os autores do novo estudo destacam como essencial a promoção de atualização da equipe médica, por meio de campanhas educativas.

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Leia a matéria completa a seguir:

As infecções urinárias estão entre os principais tipos adquiridos durante a internação. Só perdem para pneumonias, infecções de sítio cirúrgico e gastrointestinais. Um levantamento americano estima que 67% dos problemas urinários em pacientes hospitalizados estão relacionados à presença de cateter (1). Com a preocupação de reduzir eventos adversos causados pelo cuidado, o uso desnecessário de cateteres está sob escrutínio. Uma análise realizada a partir de dados de mais de 700 hospitais nos Estados Unidos sugere que entre 30% e 40% dos pacientes internados fora de unidades de terapia intensiva (UTIs) receberam cateteres urinários sem necessidade clínica (2).

Novas recomendações, elaboradas por painéis de especialistas e divulgadas em 12 de agosto na publicação científica BMJ Quality & Safety, ajudam a delimitar com mais clareza em que tipos de cirurgia o uso de sondas vesicais traz benefícios e aquelas em que o risco não é justificado (3). Os autores também avaliaram o melhor momento para fazer a retirada do cateter e, com raras exceções, o mais cedo possível é a resposta. Em resumo, as recomendações ecoam outras diretrizes, como as elaboradas pelo Centro de Controle de Doenças (CDC), a agência de vigilância epidemiológica dos EUA: não usar cateter urinário como regra em cirurgias, a não ser que seja realmente necessário; em caso de uso, retirá-lo, de preferência nas primeiras 24 horas (4).

Tabela com lista de prazo de retirada de cateter urinário após cirurgia

Um painel de 13 especialistas – cirurgiões gerais e enfermeiras – revisou 45 artigos, entre ensaios clínicos randomizados e revisões sistemáticas, em busca de recomendações com evidências. Para considerar os achados relevantes, eles usaram, além da análise da força dos dados, suas experiências clínicas, e chegaram ao critério de uso adequado empregado na nova classificação: “os benefícios esperados excedem as consequências negativas por uma margem grande o suficiente para que o uso seja considerado admissível”. Outro painel de 11 especialistas adotou o mesmo procedimento para analisar 25 artigos, mas, desta vez, concentrados em cirurgias ortopédicas.

Tabela com a lista de cirurgias em que o cateter urinário é considerado desnecessário

Um método de análise semelhante já havia usado em 2015 por um grupo de pesquisadores também liderado pela médica americana Jennifer Meddings, do Instituto de Inovação e Política de Saúde da Universidade de Michigan, a mesma autora do estudo atual. Na ocasião, em trabalho publicado no Annals of Internal Medicine, Meddings coordenou a formulação de recomendações gerais sobre o uso de cateteres urinários em pacientes hospitalizados: usá-los ara para medir o volume de urina, quando não houver outros meios; para contornar incontinência em condições específicas (lesão por pressão estágio III, IV ou não-classificável); na UTI, apenas para pacientes com indicação clínica (apenas o fato de estar na UTI não é uma indicação) e dar para dar conforto a pacientes no final da vida.

Os cateteres urinários têm funções importantes: previnem incontinência e distensão da bexiga em pacientes anestesiados, além de proporcionar controle da excreção de urina no pós-operatório. Porém, podem trazer riscos, principalmente de infecção. Um estudo realizado em 2008 por pesquisadore americanos com mais de 35 mil pacientes chegou à conclusão de que aqueles que ficavam por mais de dois dias com cateteres urinários tinham duas vezes mais chances de desenvolver infecção urinária do que aqueles que ficavam menos de dois dias. O risco de morte em 30 dias também era maior, assim como a probabilidade de alta menor (5).

Uma das principais causas do risco aumentado de infecção é a quebra de protocolos de higiene no momento da colocação do cateter. Após entrevistas e observação de 67 profissionais de enfermagem em seis hospitais de ensino de Goiânia, pesquisadores da Universidade Federal de Goiás relataram que, apesar de eles saberem na teoria os procedimentos corretos, a execução na prática não seguia à risca os protocolos. A higienização prévia das mãos foi feita por apenas 75% dos atendentes. A limpeza da área de colocação do cateter só foi realizada por 62,5% (6)

Além de reforçar o treinamento para cumprimento do protocolo de colocação de cateteres urinários, os autores do novo estudo recomendam promover atualização da equipe médica sobre o uso adequado do dispositivo.

SAIBA MAIS

(1) Magill, Shelley S. et al. Multistate Point-Prevalence Survey of Health Care–Associated Infections. The New England journal of medicine 370.13 (2014): 1198–1208. PMC. Web. 15 Aug. 2018.

(2) Greene MT, Fakih MG, Fowler KE, et al. Regional variation in urinary catheter use and catheter-associated urinary tract infection: results from a national collaborative. Infect Control Hosp Epidemiol 2014;35(Suppl 3):S99–S106.

(3) Meddings J, Skolarus TA, Fowler KE, et al. Michigan Appropriate Perioperative (MAP) criteria for urinary catheter use in common general and orthopaedic surgeries: results obtained using the RAND/UCLA Appropriateness Method. BMJ Qual Saf Published Online First: 12 August 2018. doi: 10.1136/bmjqs-2018-008025

(4) Gould C.V., Umscheid C.A., Agarwal R.K., Kuntz G., Pegues D.A. Guideline for prevention of catheter-associated urinary tract infections. Infect. Control Hospital Epidemiol. 2010;31:319–326.

(5) Wald HL, Ma A, Bratzler DW, Kramer AM. Indwelling Urinary Catheter Use in the Postoperative PeriodAnalysis of the National Surgical Infection Prevention Project Data. Arch Surg. 2008;143(6):551–557. doi:10.1001/archsurg.143.6.551

(6) Souza ACS, Tipple AFV, Barbosa JM, Pereira MS, Barreto RASS. Cateterismo urinário: conhecimento e adesão ao controle de infecção pelos profissionais de enfermagem. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2007;9(3):724-3.

 

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