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Como a composição das equipes clínicas influencia a qualidade do atendimento na atenção primária

Como a composição das equipes clínicas influencia a qualidade do atendimento na atenção primária
Qualidade das equipes assistenciais
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Estudo norte-americano revela que a composição das equipes clínicas pode impactar indicadores de qualidade na atenção primária

Publicado no final de 2024, um estudo avaliou a composição das equipes clínicas de 791 centros de saúde nos Estados Unidos, responsáveis pelo atendimento de mais de 16 milhões de pacientes, com o objetivo de identificar se há correlação entre a proporção de diferentes especialidades profissionais e o desempenho em indicadores de qualidade assistencial.

A análise parte de um contexto desafiador: a crescente escassez global de profissionais de saúde, confirmada pela OMS, somada às mudanças no perfil demográfico e epidemiológico da população, torna cada vez mais difícil manter uma força de trabalho clínica ideal, especialmente nos serviços de atenção primária. Os centros de saúde norte-americanos analisados são instituições comunitárias de cuidados primários, semelhantes às Unidades Básicas de Saúde (UBS) brasileiras.

O que foi avaliado

Foram analisadas 14 métricas de qualidade assistencial, incluindo:

  • Taxas de imunização infantil
  • Rastreio dos cânceres de colo do útero, mama e colorretal
  • Avaliação de peso e IMC em diferentes faixas etárias
  • Triagem para tabagismo
  • Prescrição de estatinas, aspirina e antiplaquetários
  • Testagem para HIV
  • Triagem e remissão da depressão
  • Controle da hipertensão e da hemoglobina glicada

Essas métricas permitiram verificar se os pacientes elegíveis estavam recebendo os cuidados recomendados de forma oportuna e adequada.

Os perfis das equipes clínicas

As equipes foram agrupadas em cinco modelos distintos:

  • Equilibrado – proporção semelhante entre médicos, enfermeiros especialistas/parteiras e enfermagem geral.
  • Enfermeiros predominantes – mais enfermeiros especialistas/parteiras do que médicos.
  • Médicos predominantes – mais médicos do que enfermeiros especialistas.
  • Especialização geral – grande proporção de médicos e enfermeiros especialistas.
  • Superior – equipes maiores e mais diversificadas que os padrões médios (presentes em apenas 5,3% dos centros avaliados).

Vale ressaltar que o estudo utilizou categorias profissionais típicas do sistema de saúde norte-americano, como Physician Assistants (PAs) e Advanced Practice Registered Nurses (APRNs), não diretamente equivalentes às funções encontradas nas UBS brasileiras que contam com equipes multidisciplinares incluindo médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, dentistas, agentes comunitários de saúde, farmacêuticos e outros profissionais.

Os achados podem ser úteis para inspirar modelos de alocação estratégica de recursos humanos no SUS, especialmente em contextos de atenção primária.

Principais achados

  • Equipes com maior número de médicos apresentaram melhor desempenho em exames de rastreio de câncer e testagem de HIV.
  • Equipes com mais enfermeiros especialistas tiveram melhores desfechos na avaliação do IMC de adultos.
  • Sete das 14 métricas analisadas, como triagem de tabagismo, controle de hipertensão e prescrição de estatinas, não apresentaram associação significativa com a composição da equipe.
  • O estudo também reforça que a configuração das equipes varia conforme o contexto local, considerando necessidades regionais, características populacionais e legislações estaduais.


Implicações para a prática

Os resultados indicam que a composição da equipe clínica pode impactar positivamente o desempenho em áreas específicas da atenção primária, especialmente em indicadores rastreáveis por protocolos. O levantamento também sugere que profissionais diferentes assumem papéis distintos e complementares: por exemplo, enfermeiros se destacam na triagem e no aconselhamento ao paciente, enquanto médicos concentram atividades diagnósticas e intervenções mais complexas.

Em resumo, estratégias de alocação de pessoal mais personalizadas, baseadas nas necessidades específicas da comunidade e nos perfis assistenciais das regiões, podem ser uma abordagem eficaz para fortalecer a qualidade do cuidado primário, inclusive no Brasil.

Referências:

(1) Clinician Staffing and Quality of Care in US Health Centers

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