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Cultura de segurança do paciente – Brasil avança e passa a fazer avaliação nacional

Cultura de segurança do paciente – Brasil avança e passa a fazer avaliação nacional
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A publicação do relatório Errar é Humano pelo Instituto de Medicina dos Estados Unidos marcou o início de uma nova era de preocupação com erros evitáveis nos sistemas de saúde. Para que essa preocupação tomasse conta de todas as estruturas e dos membros participantes – da alta direção aos pacientes – o caminho mais eficiente está na transformação da cultura organizacional que, tradicionalmente, chamamos cultura de segurança do paciente.

No Brasil, a RDC nº 36 (1), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) descreve a cultura de segurança do paciente como o “conjunto de valores, atitudes, competências e comportamentos que determinam o comprometimento com a gestão da saúde e da segurança, substituindo a culpa e a punição pela oportunidade de aprender com as falhas e melhorar a atenção à saúde”.

Medir para avaliar

Como, então, fomentar essa mudança comportamental a fim de aumentar a qualidade da assistência? O primeiro passo, sempre, é compreender o patamar que estamos para visualizar as falhas e traçar potenciais avanços.

Pensando nisso, uma parceria entre a própria Anvisa e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) promoveu a primeira Avaliação Nacional da Cultura de Segurança do Paciente em Hospitais no Brasil. Os resultados foram apresentados em primeira mão durante um webinar (2) no final de março deste ano e o relatório completo (3) já está disponível (clique AQUI para acessar).

Lembrando que o Global Patient Safety Action Plan 2021-2030, da Organização Mundial da Saúde (OMS), traz um indicador específico para avaliação rotineira da cultura do paciente, Zenewton André da Silva Gama, professor da UFRN que atua com o tema desde 2006 participando de avaliações e orientações de trabalho em países como Espanha, Portugal e Angola, além do Brasil, comentou durante o webinar de apresentação do relatório que com esse documento o país passa a atuar conforme a indicação da OMS.

Para a pesquisa, foi elaborado um questionário virtual baseado no Hospital Survey on Patient Safety (HSOPS), da Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ), de autopreenchimento, composto por 42 perguntas sobre 12 dimensões da cultura de segurança e 12 perguntas-indicadores adicionais. Foram incluídos todos os hospitais brasileiros que fizeram a avaliação no sistema entre janeiro e dezembro de 2021 e excluídos apenas aqueles sem registro como hospital no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), aqueles com menos de 20 leitos, e aqueles com menos de 10 questionários respondidos corretamente.

Resultados e considerações importantes

Foram, ao todo, 311 hospitais participantes com mais de 104 mil questionários enviados e respostas de 42 mil profissionais. Além disso, importante destacar que com exceção do Acre, todas as outras unidades da federação tiveram representantes. “Conseguimos construir uma avaliação bastante grande com boas informações a serem compartilhadas”, mencionou Gama.

Por ser uma primeira avaliação, o time responsável considerou o saldo positivo, mas ainda é preciso conquistar maior adesão dos estados. A meta de participação para este ano de 2021 era de 30%, porém o país conseguiu chegar a apenas 15%. Destaque para oito estados que bateram a meta: Rondônia, Tocantins, Rio Grande do Norte, Paraíba, Maranhão, Piauí, Alagoas e Roraima. Infelizmente, grandes estados em termos de população e número de hospitais – como São Paulo – não tiveram participação tão expressiva (São Paulo chegou a apenas 4,2% de participação).

De forma otimizada, foram apresentadas as três principais forças e as três principais fraquezas do atual cenário nacional, conforme elencado abaixo:

Forças

  1. Aprendizagem organizacional e melhoria continuada teve 83,9% de respostas positivas, sendo que 88,3% afirmaram que quando um erro é identificado na atenção ao paciente, medidas são adotadas para prevenir a reincidência;
  2. Expectativas e ações da direção e supervisão da unidade que favorecem a segurança tiveram 78,6% de respostas positivas, sendo que grande parte acredita que essas lideranças dão atenção à segurança do paciente;
  3. Trabalho em equipe na unidade teve 73,2% de respostas positivas.

Fraquezas

  1. Resposta não punitiva para erros foi apontada por apenas 31,8% dos respondentes, mostrando que infelizmente muitos profissionais consideram que seus erros podem ser usados contra eles;
  2. A percepção geral de uma boa segurança foi um indicador apontado por apenas 49,5% dos participantes, sendo que somente 22,3% afirmam que a segurança do paciente não é comprometida em decorrência de maior quantidade de trabalho;
  3. Problemas em mudanças de turnos e transições entre unidades e serviços foi apontada por 52,8% dos respondentes.

Com base nos resultados do relatório, Gama fez algumas recomendações aos serviços de saúde. O primeiro ponto, foi uma ressalva quanto à interpretação dos resultados, inclusive porque entre todos os respondentes, 78% classificaram a segurança da sua unidade ou área de trabalho como excelente ou boa: “Sendo uma avaliação voluntária, ela não é necessariamente representativa do conjunto de hospitais brasileiros. Além disso, por ser uma autoavaliação, os resultados também devem ser compreendidos como perspectivas dos profissionais e não necessariamente como uma realidade da cultura de segurança geral dos hospitais. Porém, mesmo assim, são dados que auxiliam a tirar conclusões para o futuro”, comentou.

Entre as recomendações estão:

  • Aproveitar as fortalezas, ou seja, aproveitar a atitude positiva dos trabalhadores da saúde para incentivar a melhoria, bem como a disposição deles e de seus supervisores.
  • Combater as fragilidades, principalmente no que tange à necessidade de implementação de uma resposta não punitiva aos erros.
  • Comparar os dados da avaliação interna com os dados da resposta nacional e com os do seu estado, disponíveis no relatório completo (3).
  • Implementar ciclos de melhoria, ou seja, estratégias de gestão que abordem os principais problemas de segurança.
  • Núcleos de Segurança do Paciente (NSP) dos serviços devem aderir à legislação vigente (RDC nº 36), que requer a promoção da cultura de segurança do paciente.
  • Núcleos de Segurança do Paciente dos estados e municípios devem manter o foco para que os serviços de saúde de sua esfera de gestão alcancem as metas do Plano Integrado para a Gestão Sanitária da Segurança do Paciente em Serviços de Saúde 2021-2025 (clique AQUI para acessar).

Na visão de Lucas Zambon, diretor científico do IBSP, é importante manter uma avaliação periódica da cultura de segurança com um questionário validado nas organizações de saúde. “Apesar de ser tentador comparar os resultados da sua organização com outras, temos que ter em mente que há limitações quando falamos de questionários de cultura de segurança. Isso porque cada instituição tem suas particularidades em termos de estrutura física e de pessoas, nível de formação dos profissionais, incorporação tecnológica e perfil epidemiológico dos casos atendidos, o que torna qualquer comparação algo bastante difícil. É muito mais importante comparar-se a si mesmo ao longo do tempo, repetindo o questionário ao menos a cada dois anos, por exemplo, avaliando a evolução de cada item, e se os aspectos negativos estão melhorando”, orienta.

Para encerrar a apresentação, o pesquisador Zenewton Gama trouxe um ponto extremamente relevante para a gestão hospitalar: “Mudar a cultura nos serviços de saúde só é possível com forte liderança. Liderança é a palavra-chave”, finalizou.

Referências:

(1) RDC nº 36 – Anvisa

(2) Webinar Avaliação Nacional da Cultura de Segurança em Hospitais – Anvisa e UFRN

(3) Relatório Avaliação Nacional da Cultura de Segurança em Hospitais – Anvisa e UFRN

 

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