Rumo à Cultura de Segurança
A direção do hospital deve estar envolvida na segurança do paciente para traçar um conjunto de ações para que o tema passe a fazer parte da cultura de toda instituição. Mas isso, de acordo com o Dr. Antonio Capone Neto, Gerente Médico da Qualidade e Segurança do Paciente do Hospital Israelita Albert Einstein, a cultura da segurança do paciente é um caminho longo, de melhoria continua e de aprendizado.
Em entrevista exclusiva ao IBSP – Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente, o Dr. Antonio debate o tema com propriedade e é enfático: “A liderança tem um papel fundamental quando coloca a segurança do paciente em primeiro lugar”.
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IBSP – A segurança do paciente está diretamente relacionada a gerencia dos hospitais? Por quê?
Antonio Capone Neto – A segurança do paciente deve ser uma prioridade estratégica das organizações de saúde e, claro, as prioridades organizacionais são definidas por sua alta liderança. Portanto, a segurança do paciente está relacionada à liderança de cada organização.
Entretanto, mais importante que definir o que é prioritário é o modo como os líderes pensam e agem, porque suas crenças e comportamentos darão uma direção clara e visível aos esforços para melhoria da segurança do paciente.
Uma vez definida como prioridade pela alta liderança, os esforços de melhoria de segurança do paciente deverão ser estimulados e desenvolvidos em todos os níveis da organização. Adicionalmente, um dos papéis da liderança é a remoção das barreiras para as mudanças, ou seja, a viabilização das mesmas.
IBSP – O que a direção hospitalar pode fazer para evitar eventos adversos em seus pacientes?
Antonio – A redução de eventos adversos é o resultado de um conjunto de medidas que envolvem todas as áreas do hospital. A liderança do hospital deverá primeiramente, como já foi dito, colocar a segurança do paciente como uma diretriz estratégica.
Em coerência com a diretriz de segurança e entre inúmeras outras ações, deverá ser criado um sistema de notificação de eventos adversos para que se possa analisá-los e aprender com eles, oferecer treinamento na área de segurança do paciente para todos os funcionários, criar grupos de trabalho que redesenhem os processos de atendimento com foco na segurança, os indicadores de segurança do paciente deverão ser medidos, e analisados para que sejam tomadas as medidas que busquem melhorá-los.
Outras importantes ações serão o mapeamento dos riscos de eventos adversos nas diversas áreas e a determinação de medidas preventivas, o desenvolvimento de uma cultura de segurança justa e transparente e o estímulo ao envolvimento dos pacientes e familiares nos seus respectivos tratamentos.
IBSP – Dentro as medidas que podem ser adotadas, quais as principais dificuldades que a direção do hospital enfrenta?
Antonio – A principal dificuldade é o desenvolvimento da cultura de segurança. Ela é o resultado de todas as ações descritas acima. Ela representa o modo como todos trabalham naquela organização e como compartilham a visão da segurança do paciente, colocando-o em primeiro lugar.
Quando a cultura de segurança existe, algum evento que atingiu o paciente poderá ser discutido abertamente. A discussão não terá um caráter punitivo, mas de aprendizado para que não mais aconteça. As pessoas se sentirão seguras de expressar preocupações quanto ao tratamento oferecido ao paciente, de interromper procedimentos que põem em risco a vida do paciente, de não permitir que a hierarquia de cargos ou funções prejudique o trabalho em equipe.
IBSP – Qual a solução mais eficaz para superar essas dificuldades?
Antonio – Não existe uma solução única. Existem várias estratégias que deverão ser decidas e aplicadas de acordo com o contexto organizacional. A busca da cultura de segurança é um caminho longo, de melhoria continua e de aprendizado.
Novamente, a liderança tem um papel fundamental quando coloca a segurança do paciente em primeiro lugar, quando se comporta em questões de segurança de modo coerente e visível, quando favorece um ambiente de trabalho que alimenta e mantém as iniciativas voltadas para a segurança do paciente.
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