O fortalecimento da comunicação entre os profissionais de saúde vem sendo apontado, há tempos, como um dos pilares da segurança do paciente e o debriefing – momento de reflexão e discussão conjunta da equipe logo após o atendimento – se mostra cada dia mais relevante para a qualidade da assistência. Um estudo realizado no início de 2020 na Irlanda diz que 100% dos participantes confirmam que essas reuniões realizadas imediatamente após os acontecimentos melhoram a prática clínica. Além disso, a pesquisa sugere melhorias também no bem-estar psicológico dos envolvidos.
O processo permite uma ampla discussão sobre o desempenho daquele atendimento, envolvendo questões individuais e coletivas. Com base nisso, é possível identificar oportunidades de melhorias para redução do risco de eventos adversos. Uma das vantagens de fazer essa reunião logo após o atendimento está na memória dos profissionais, visto que todos os detalhes daquele procedimento estão frescos na mente para serem debatidos.
O estudo irlandês foca o atendimento cardiovascular e, para tal, foi realizado no departamento de emergência do St. Vincent’s University Hospital, uma unidade de saúde instalada em Dublin que trata, em média, 5 mil pacientes e sete paradas cardíacas ao mês. Para tal, foram revisados os dados de seis meses – de outubro de 2018 a março de 2019 – e foi observado que o debriefing não era uma prática comum e recorrente, principalmente por falta de consciência das equipes, aumento da carga de trabalho e receio em admitir falhas individuais.
Para reverter esse cenário, foi montada uma equipe multidisciplinar que comandaria o projeto e foi desenvolvido um formulário de debriefing focado no tratamento das paradas cardíacas a ser preenchido após cada atendimento.
O time definiu, então, três ciclos diferentes para colocar o plano em ação. O primeiro teve início em abril e seguiu até maio focado na implementação da ferramenta de debriefing. O segundo, entre junho e julho, reconheceu a boa participação dos profissionais na estratégia, mas identificou potenciais falhaa e, para melhorar o processo, foram incorporadas duas enfermeiras sêniores que tinham, como meta, ampliar a conscientização das equipes de enfermagem sobre a relevância da participação no debriefing. Já no terceiro ciclo, entre agosto e setembro, a alta rotatividade da equipe foi apontada como entrave.
Como resultado, em seis meses de estudo foram preenchidos 16 formulários de debriefing, o que representa 42% de todas as paradas cardíacas assistidas no período. As ações que se sucederam às reuniões mostraram que o debriefing tem muita relevância. Por conta dessas discussões, foram feitas mudanças nos equipamentos de ressuscitação; foram identificados problemas recorrentes no gerenciamento das vias aéreas; o departamento comprou novos dispositivos e foram substituídos sensores de O2 e CO2 que apresentaram defeito. Até mesmo as habilidades não-técnicas sofreram alterações fundamentais nas observações advindas do debriefing bem como foram sugeridas melhorias educacionais.
O estudo conclui, então, que 100% dos participantes sentiram que a adesão ao debriefing melhora a prática clínica; 90% confirmaram que o processo otimiza o bem-estar mental; e 95% disseram que o tempo dedicado ao debriefing é valioso.
Formulário de debriefing
O formulário (2) criado na Irlanda para esse estudo foi focado no atendimento às paradas cardíacas e não se adequa a todos os cenários, porém pode ser adaptado para facilitar o feedback após mortes e resultados inesperados.
Em um primeiro momento, ele pede que o time resuma o caso, aponte as ações bem sucedidas, as oportunidades de melhorias e os pontos para novas ações e planos futuros.
Na sequência, permite o apontamento de detalhes do caso como data, horário, local, equipe presente e motivo do atendimento. Pede, também, que sejam apontados o tempo desde o colapso até a parada cardíaca, o tempo para desfibrilação e o tempo para gerenciamento das vias aéreas. É necessário informar a hora da primeira medicação para ressuscitação e o desfecho. Há, também, um espaço para que ações sejam apontadas ao lado do nome de quem se responsabilizará por elas.
Importante enfatizar que o sucesso da adesão ao debriefing depende da participação do corpo clínico – médicos e enfermeiros – e também dos profissionais não clínicos. É interessante nomear um profissional para ser o facilitador, assumindo a responsabilidade de conscientizar os colegas sobre a participação nas reuniões e, assim, conseguir maior participação coletiva.
Referências:
(1) Promoting hot debriefing in an emergency department
(2) Ferramenta de Debriefing – Estudo Irlanda
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