É rotineiro atrelarmos a segurança do paciente e a qualidade na assistência com desfechos. Quando o assunto é cirurgia, podemos associar a qualidade perioperatória hospitalar com a sobrevida a longo prazo após o procedimento?
Um estudo publicado em janeiro deste ano na JAMA Network fez uma importante análise. Selecionou mais de 654 mil norte-americanos com idade média de 61 anos que foram submetidos a cirurgias não-cardíacas em 98 hospitais para entender se locais com maior taxa de mortalidade perioperatória ou de falhas de socorro* resultavam em mais desfechos negativos no longo prazo para pacientes.
Com dados da última década (já que os casos avaliados ocorreram entre 2011 e 2016) e ressaltando que 84,7% dos hospitais estudados tinham baixas taxas de mortalidade, o estudo observou que naqueles pacientes com complicações perioperatórias, a sobrevida de longo prazo em cinco anos variou de 42,7% a 82,4%. Já naqueles pacientes com pós-operatório sem complicações, essa variação foi de 76,2% a 95,2%.
Nos pacientes que tiveram complicações pós-operatórias, foi possível observar que quanto maiores as taxas de falhas de socorro, maior o risco de morte. O estudo também associou o aumento das taxas de falha de socorro ao maior risco de morte mesmo entre aqueles pacientes sem complicações perioperatórias.
Dessa forma, a publicação conclui que organizações de saúde que apresentam altas taxas de falha de socorro e de resultados ruins no curto prazo também podem desencadear uma influência negativa nos resultados de longo prazo. Como se trata de um estudo observacional, seu papel mais importante é trazer reflexões e hipóteses para testes de intervenção. No caso, entender o processo de cuidado perioperatório em hospitais, e intervir na melhora da capacidade de socorrer as pioras clínicas dos pacientes, pode vir a ter impacto no desfecho da internação e mesmo no longo prazo para pacientes cirúrgicos.
* Lucas Zambon, diretor científico do IBSP, explica que “falha de socorro” (do inglês Failure to Rescue) é um conceito que remete à falha na capacidade de responder a uma piora ou deterioração da condição do paciente, algo que pode ou não ter origem em um evento adverso.
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