A formação de uma equipe constituída por profissionais que demonstrem pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas combinados com habilidades técnico-científicas é essencial para o processo de cuidar
O processo de excelência de uma instituição de saúde vai além da apresentação de médicos qualificados em seu corpo clínico. Existe uma figura essencial no processo que ganha cada vez mais importância como uma das lideranças dentro dos hospitais: o enfermeiro. Antes limitada às técnicas e aos procedimentos, a função do enfermeiro tem tido avanços no cenário atual, ganhando destaque na gestão de equipes com capacidade de solucionar problemas e fortalecer as instituições.
Marcia Martins, diretora técnica de Serviço da Divisão de Enfermagem do Instituto Central do Hospital das Clínicas, HCFMUSP, explica em entrevista exclusiva ao IBSP como esse profissional tem importância vital na gestão de risco a pacientes em hospitais.
IBSP – Qual a importância do enfermeiro para a gestão de risco em hospitais?
Marcia Martins – Os profissionais de saúde têm buscado cada vez mais oferecer uma assistência de enfermagem com excelência de qualidade, livre de riscos ou danos, visando em primeiro lugar a segurança, a saúde e a satisfação do paciente/cliente, através da gestão de risco.
IBSP – Isso é uma evolução na função do enfermeiro?
Marcia Martins – A enfermagem tem evoluído e não se limita apenas a técnicas e procedimentos. Atualmente, com seu avanço técnico-científico, o enfermeiro assume papel de liderança, gerenciando sua equipe em várias dimensões.
IBSP – Que profissional é esse?
Marcia Martins – A formação de uma equipe constituída por profissionais que demonstrem pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas combinados com habilidades técnico-científicas é vital para o processo de cuidar, que, inegavelmente, contribui para o fortalecimento da posição da instituição no mercado de assistência à saúde.
IBSP – Quais fatores de risco podem aumentar quando não se investe em corpo de enfermagem?
Marcia Martins – O investimento não abrange somente o número de profissionais, mas também a formação e o desenvolvimento técnico/cientifico. Um profissional que não esteja adequadamente preparado para o cenário atual do cuidado, de alta complexidade, principalmente no âmbito tecnológico, pode incorrer em erros e falhas, gerando insegurança nos processos de trabalho.
IBSP – Quais são os treinamentos específicos de enfermeiros para diminuir os riscos de eventos adversos?
Marcia Martins – Todos os processos do cuidado ao paciente/cliente devem estar no escopo de treinamento, sendo mais aprofundado na área em que o profissional irá atuar. A identificação das falhas latentes nos processos de trabalho auxilia no direcionamento no qual o treinamento deva ser reforçado utilizando a análise em três pilares: habilidade, técnica e conhecimento.
IBSP – Quais são os erros que mais frequentes podem cometer e causar eventos adversos? Como evitá-los?
Marcia Martins – A literatura dispõe de publicações que podem nortear esse apontamento, como o “Errar é humano: construindo um sistema de saúde mais seguro”, publicado em 1999.
Um ponto importante desta publicação está na porcentagem de eventos evitáveis, em torno de 60%. Cerca de 30% dos danos durante a hospitalização estão associados a erros na medicação. O erro de medicação é uma questão multiprofissional e as circunstâncias que o envolvem são multifatoriais, não se limitando apenas a uma categoria profissional. A equipe de enfermagem é sensível ao problema, pois está envolvida na última etapa do sistema: preparo e administração.
Várias estratégias podem ser implementadas para prevenção do erro de medicação conforme descritas no Programa Nacional de Segurança do Paciente do Ministério da Saúde, mas basicamente para a enfermagem o cumprimento dos cinco certos: paciente certo, dose certa, via certa, medicamento certo e horário certo, é primordial para prevenção de erros.
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