Erros médicos são a terceira principal causa de morte nos EUA depois doenças cardíacas e câncer
Histórias que são verdadeiros pesadelos, como a enfermeira brasileira que aplicou doses de insulina em vez da vacina contra gripe ou médicos que amputam a perna esquerda em vez da direita, têm dominado as manchetes dos veículos de comunicação sobre cuidados médicos. A menos que se assuma que esses casos são exceções, um novo estudo feito por pesquisadores especialistas em segurança do paciente traça um contexto, no mínimo, preocupante.
A pesquisa inédita, publicada no British Medical Journal no dia 3 de maio de 2016, mostra que os “erros médicos” (melhor caracterizados como erros de assistência) em hospitais são a terceira principal causa de morte em os EUA, depois de doenças cardíacas e câncer. Isso quer aponta que morre mais gente decorrente de um evento adverso do que de disfunções respiratórias, acidentes, diabetes e até por suicídio.
Martin Makary e Michael Daniel, da Johns Hopkins University School of Medicine, em Baltimore, que comandaram a pesquisa, dizem que esses erros incluem todo tipo de evento adverso, desde os causados por médicos ruins até aqueles que envolvem questões sistêmicas, como falhas de comunicação. Isso representa, de acordo com os cálculos da dupla, 251 mil vidas todos os anos, se forem usados dados desde 1999 e extrapolando-os para o número de admissões em 2014 nos hospitais norte-americanos. “Isso nos faz concluir que as pessoas estão morrendo por causa do cuidado que receberam em vez da doença pela qual procuraram assistência médica”, diz Makary.
Redução do erro em 3 passos
Os estudiosos fizeram a pesquisa para jogar luz ao problema da segurança do paciente, pois reconhecem que o erro humano é inevitável. “Embora não possamos eliminar o erro humano, podemos melhorar e projetar sistemas mais seguros, mitigando frequência, visibilidade e consequências eventos adversos”, diz Daniel.
As estratégias para reduzir a morte decorrente dos cuidados médicos, para Makary e Daniel, devem incluir três etapas: tornar os eventos mais visíveis quando eles ocorram para que seus efeitos possam ser interceptados; ter soluções à mão para salvar os pacientes; e cometer erros com menor frequência levando em conta as limitações humanas.
Estratégias
Uma das sugestões dos pesquisadores é incluir um campo nos registros de óbitos para informar se houve alguma complicação evitável decorrente da assistência que pode ter contribuído para a morte, em vez de só informar a causa da morte.
Outra estratégia seria os próprios hospitais realizarem uma rápida e eficiente investigação independente sobre as mortes para determinar a potencial contribuição de erro. “Mensurar as consequências do erro de assistência nos pacientes é um importante pré-requisito para criar a cultura de aprender com nossos erros. Só assim se poderá avançar na cultura da segurança e chegarmos mais perto de um sistema de saúde melhor”, dizem.
“A revisão de óbitos nos dá uma oportunidade de descobrir em que estamos falhando, onde e como arrumar”, diz Jeanne Huddleston, médica fundadora do programa de Medicina Hospitalar da Mayo Clinic, nos Estados Unidos, que fundou e liderou o comitê de revisão de óbitos de lá por 12 anos.
Solução?
Mas, para que a segurança do paciente seja foco, é preciso que a incorporação do olhar de segurança do paciente comece na alta gestão. “As lideranças mais importantes da instituição devem colocar isso como prioridade e, a seguir, vir descendo para cada nível, até que se importar com segurança do paciente seja algo medular a cada integrante do hospital”, diz Lucas Zambon, diretor científico do IBSP – Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente, e assessor de Práticas Assistenciais da Superintendência Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.
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