A atenção primária é de extrema importância para o sistema de saúde e é um ambiente que deve estar inserido no contexto de segurança do paciente. Diferentemente do ambiente hospitalar, o perfil de riscos é diferente. Erros de medicação, que são uma preocupação global, têm importância destacada nesse cenário. Analisar qual o impacto dessas falhas quando ocorrem na porta de entrada dos pacientes à assistência é primordial. Será que essas falhas causam danos reais aos pacientes? Quais as taxas? Como melhorar?
Uma revisão sistemática (1) verificou dados sobre segurança medicamentosa na atenção primária e descobriu que – apesar das limitações dos estudos envolvidos – o dano real versus o dano potencial é menor que o costumeiramente projetado. Além disso, reforça que esses erros raramente resultam em internações hospitalares (apenas em 0,67% dos casos).
Em suas referências, a revisão traz uma menção a um estudo de 2004 (2) que diz que em 70% dos casos, os danos eram psicológicos, como raiva, frustração, depreciação e perda da confiança no médico e na equipe. Importante mencionar que esse tipo de dano não foi computado na revisão sistemática.
Ao todo, a revisão envolveu 56 estudos, advindos de países de todo o mundo, sendo a maioria não intervencionista. Aqueles que apresentavam intervenções (13 no total) envolviam farmacêuticos revisando prontuários ou dados da farmácia e, na sequência, fazendo recomendações aos médicos. Essas recomendações foram aceitas em graus variados, de 25% a 70% das vezes, e eram prioritariamente sobre mudança de processos.
Partindo para os erros de medicação em si, os resultados mais comuns foram:
- Prescrição potencialmente inapropriada
- Eventos adversos a medicamentos
- Omissões potenciais de prescrição
Esses resultados eram muito heterogêneos para serem analisados de forma quantitativa, mas alguns achados merecem ser destacados.
- A maioria dos estudos envolvia populações de alto risco como, por exemplo, idosos que usam quatro ou mais medicamentos cotidianamente.
- Houve muita variação nos resultados da população de alto risco. Prescrição potencialmente inapropriada, por exemplo, variou de 0,19% a 98,2% neste grupo.
- Já na população geral, a variação de prescrição potencialmente inapropriada foi menor, de 0,19% a 16%.
- Quanto a eventos adversos de medicamentos, quando eram relatados voluntariamente, as taxas eram baixas (entre 0% e 1,7%). Já quando coletados por revisões sistemáticas ou computador, chegavam a 74%. Esse achado reforça a importância de uma cultura não punitiva que incentive a notificação de eventos adversos.
- Os clínicos julgaram que, de todos os erros, 23,2% eram evitáveis.
Considerando a importância da segurança e qualidade da assistência na atenção primária, inclusive no que envolve a prescrição e a administração de medicamentos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma série técnica que traz questões fundamentais e foi traduzida e publicada em português por uma parceria entre o Ministério da Saúde e a ProQualis (3).
Esse documento aponta a definição de erros de medicação, disponibiliza os principais fatores que podem influenciar esses erros, e as possíveis soluções, que envolvem a informatização dos sistemas, a educação continuada dos profissionais de saúde e intervenções multifacetadas.
Referências:
(1) Ambulatory Medication Safety in Primary Care: A Systematic Review
(2) Patient Reports of Preventable Problems and Harms in Primary Health Care
(3) Erros de medicação: Série técnica sobre atenção primária mais segura
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