Em abril, comemora-se o Dia Mundial da Conscientização sobre a síndrome e marca a luta por inclusão
Dificuldade de interação social, atraso na fala e transtorno alimentar são alguns dos sintomas de uma síndrome que têm se tornado cada vez mais comum: o autismo. A incidência que, no passado, era de uma criança para cada mil aumentou consideravelmente nos últimos anos. Hoje, estima-se que a cada 60 crianças nascidas uma tenha algum Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Mas esse aumento não se deve apenas a uma maior incidência – o que provavelmente também ocorre – mas também à mudança na forma de se diagnosticar a síndrome. Se antes apenas casos severos eram considerados autistas, com a mudança de nomenclatura, que engloba também a Síndrome de Asperger e o Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação, crianças com traços leves de desenvolvimento atípico passaram a ser diagnosticadas.
A mudança foi feita visando uma intervenção cada vez mais precoce para aumentar as chances de desenvolvimento e independência dos indivíduos diagnosticados com o transtorno. No entanto, na prática, ainda são escassos os profissionais preparados para identificar os sinais em crianças. O problema ganha contornos ainda mais contundentes por se tratar de uma síndrome com diagnóstico predominantemente por análise comportamental, ou seja, depende totalmente da experiência dos profissionais envolvidos para que seja identificada.
“O diagnóstico é baseado na observação comportamental. Há uma relação de características que determinam se a pessoa é ou não portadora do transtorno”, afirma a psicomotricista Eliana Rodrigues Boralli Mota, fundadora da Associação dos Amigos da Criança Autista (AUMA). O encaminhamento para o diagnóstico pode ser feito por pediatras, neurologistas, psicólogos, fonoaudiólogos e educadores. Porém, o laudo de autismo para finalidades jurídicas, que assegura o direito da criança como portadora de deficiência, pode ser emitido apenas por médico psiquiatra.
Profissionais e inclusão
Uma vez feito o diagnóstico, outra questão que merece atenção é a inclusão dessas crianças na sociedade e ambiente escolar. O profissional que faz o diagnóstico e orienta a família tem papel fundamental em disseminar essa necessidade junto às pessoas envolvidas.
“A participação em pé de igualdade e a ativa intervenção das pessoas com autismo será essencial para o desenvolvimento das sociedades inclusivas contempladas nos objetivos do Desenvolvimento Sustentável”, afirmou secretário-geral das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, no dia 2 de abril, Dia Mundial da Consciencialização sobre o Autismo. Ele ressaltou ainda que o autismo afeta milhões de pessoas em todo o mundo, que não é bem compreendido em muitos países, embora muitas sociedades promovam a inclusão, e advertiu que atitudes de rejeição não só violam os Direitos Humanos das pessoas com autismo, mas desperdiçam um enorme potencial humano.
Depoimento mãe de autista
A jornalista Odara Gallo, mãe de Franco, 3 anos, recebeu o diagnóstico do seu filho recentemente, após dois anos de consultas e avaliações. “É muito difícil encontrar pessoas que estejam familiarizadas com as questões do autismo. Depois de levar em psiquiatras e psicólogos que simplesmente não identificaram as características, encontrei uma fonoaudióloga experiente no assunto que conseguiu muitas evoluções com meu filho”, lembrou.
Além de ouvir de diversos especialistas que o filho não tinha nenhum transtorno, uma das psiquiatras consultadas, quando já havia sido feito o diagnóstico, sugeriu que a política de inclusão seria inadequada e que o mais correto era separar crianças com desenvolvimento atípico. “Fiquei chocada quando a médica disse que era bobagem essa história de inclusão. Mas, infelizmente, ainda existem profissionais desatualizados e que praticam abordagens obsoletas como essa. Franco frequenta a escola regular a que tem direito e tem apresentado ganhos consideráveis de socialização e independência”, comentou.
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