Escassez na enfermagem é problema de saúde global; pesquisa do Reino Unido traz apontamentos relevantes
Em 2023, um relatório (1) do Conselho Internacional de Enfermagem apontou que a escassez de enfermeiros nos serviços de saúde deve ser tratada como emergência, principalmente nesse momento pós-pandemia (e para evitar catástrofes em uma próxima pandemia possível).
Estimativas (2) mostram que nos países da América Latina e do Caribe, contamos com cerca de 44,3 profissionais de enfermagem para cada 10 mil habitantes, o que está abaixo do que é considerado efetivo e suficiente pela Organização das Nações Unidas (o ideal seria 70,6 enfermeiros para cada 10 mil cidadãos).
Ainda em 2023, pesquisadores do Reino Unido publicaram um estudo (3) sobre o impacto da composição das equipes de enfermagem na mortalidade hospitalar.
Foram analisadas informações sobre quase 4.500 enfermeiros e 67 mil internações realizadas em 2017 em 53 enfermarias para pacientes adultos. O ano é importante, visto que foram acontecimentos antes da covid-19. Além disso, o desfecho escolhido para a avaliação foi a mortalidade hospitalar na alta, medida inequívoca e consistentemente registrada em todas as enfermarias sem grandes chances de falhas nas documentações.
Nos registros, o volume médio de horas de equipes de enfermagem por dia foi de 193,4, sendo que a maior parte (140,5 horas) estava relacionada aos enfermeiros oficialmente registrados e contratados, e não a terceirizados ou outros auxiliares. Com isso, nota-se a equivalência aproximada de 16 funcionários por enfermaria (12 enfermeiros registrados e outros quatro profissionais de saúde) trabalhando em turnos de 12 horas. Durante toda a avaliação, em 6,2% dos dias de enfermaria, pelo menos um paciente morreu.
Enfermagem, suas especificidades e mortalidade
Com essas estimativas, foi observada uma associação estatisticamente significativa entre a quantidade de enfermeiros em atuação e mortalidade hospitalar. Quanto mais horas de atuação na enfermaria abaixo da meta, maior a chance de morte (16 horas abaixo da meta foi igual a um risco aumentado em 22,8% e 24 horas abaixo da meta representou um risco aumento em 37%). Nota-se, também, que um turno extra de 12 horas de um enfermeiro registrado pode reduzir as chances de morte em 9,6%. Em contrapartida, não foi percebida interferência dos outros profissionais de saúde nessa mortalidade.
Outro ponto relevante está no fato de que a inclusão de um enfermeiro sênior, ou seja, bastante experiente, na equipe, também se mostrou importante para redução da mortalidade. Foi percebido que quanto maior o nível de experiência, maior o impacto positivo na redução do risco de morte. A segmentação da senioridade, nesse estudo especificamente, foi feita com base nas faixas salariais.
Com todos esses dados avaliados, o estudo conclui com quatro pontos de alerta:
- Maior capital humano geral está associado a melhores resultados;
- Há impacto significativo e positivo da inclusão de enfermeiros mais experientes entre as equipes;
- A contratação de equipes fixas tem impacto mais positivo nos desfechos do que equipes terceirizadas;
- A falta de capital humano aumenta consideravelmente as chances de morte de pacientes.
Referências
(1) ICN declara escassez de trabalhadores da Enfermagem como “emergência global”
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