Aumentar a adesão ao protocolo de higienização das mãos é um dos grandes desafios das equipes de qualidade dos hospitais. Mundialmente, esse número costuma ser baixo: os profissionais de saúde cumprem o procedimento entre 30% a 70% das oportunidades, segundo levantamentos internacionais. A avaliação de quão bem feita foi a limpeza é ainda mais preocupante. Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a higienização com álcool leve entre 20 e 30 segundos e de 40 a 60 segundos com água e sabão, estudos sugerem que a duração costuma ser menor do que 10 segundos – e que nunca excede os 24 segundos (1).
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Alguns especialistas defendem que encurtar o procedimento padronizado pela OMS pode aumentar o comprometimento dos profissionais, principalmente no ambiente sempre agitado dos hospitais. A pergunta que resta é se diminuir a duração ideal não reduziria também o poder de desinfecção e o potencial de prevenir infecções relacionadas à assistência saúde. Um grupo de pesquisadores resolveu testar essa hipótese.
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Integrantes da OMS, uma pesquisadora portuguesa e o infectologista brasileiro Fernando Bellissimo-Rodrigues, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) criaram um protocolo de pesquisa para comparar a eficácia da higienização com apenas 15 segundos de limpeza (2). A substância usada foi o isopropanol 60%. O estudo concluiu que a assepsia propiciada pelo protocolo reduzido não foi a inferior à alcançada com os 30 segundos de limpeza. “Nossas descobertas sugerem que o procedimento padrão da OMS pode ser encurtado para 15 segundos”, escreveram os autores no artigo divulgado no Clinical Microbiology and Infection, publicação oficial da Sociedade Europeia de Doenças Infecciosas e Microbiologia Clínica. “A redução do tempo de lavagem não comprometerá a eficácia antibacteriana da ação higiênica das mãos.”
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Ainda é cedo para mudar o procedimento oficialmente. Outros estudos precisam replicar o resultado, ou seja, mostrar que a duração reduzida é, de fato, eficaz no combate aos patógenos. Já existem alguns resultados nesse sentido, embora a controvérsia aparente estar longe de uma solução. A principal razão é não haver um consenso se existe um limiar de redução bacteriana que impeça a contaminação cruzada (3) – e qual seria ele. Em outras palavras, não se sabe exatamente com quantas bactérias se faz uma infecção. No novo estudo, os pesquisadores sugerem que o tipo de bactéria a ser eliminado é mais determinante para o grau de limpeza do que o tempo gasto na esfregação. A Staphylococcus aureus se mostrou mais fácil de ser removida do que a Escherichia coli.
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Antes de se decidir por qualquer mudança no padrão de higienização das mãos, também é preciso avaliar se encurtar o procedimento aumentará a adesão dos profissionais. Um estudo feito pesquisadores alemães e suíços dá pistas de que sim. Em uma análise feita com 14 enfermeiras de uma UTI neonatal na Alemanha, o protocolo de 15 segundos aumentou as oportunidades de higienização das mãos concretizadas de 5.8 por hora para 7.9. Não houve diferença na eficácia da limpeza entre os dois processos, o de 15 segundos e o de 30 segundos, ambos com álcool (4).
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Na prática, para os profissionais de saúde, a mudança ou não na teoria pode não ter um impacto tão significativo. Como sugerem as pesquisas, a limpeza das mãos geralmente já é mais rápida do que a recomendada pelo padrão da OMS. Então, talvez, o mais importante seja garantir que ela seja bem feita, reforçando, por meio de medidas educacionais, todos os movimentos que devem ser feitos e, por que não, o tempo necessário.
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A observação direta da higienização das mãos é uma estratégia que reforça imediatamente a adesão ao protocolo. Um observador – alguém treinado na técnica da OMS e que serve como referência dentro de um setor – deve acompanhar um determinado número de atendimentos para fazer a análise das oportunidades de limpeza efetuadas e perdidas. O feedback individual, feito para o profissional em momento adequado, incentiva a mudança de postura, assim como a divulgação dos resultados coletivos. A OMS disponibiliza um formulário para aplicação da pesquisa de observação direta e dá instruções detalhadas de como realizá-la em sua publicação Hand Hygiene Technical Reference Manual (clique nos links para fazer o download).
Princípios para monitorar a higienização das mãos
A observação direta é uma ferramenta educacional eficiente de promoção imediata
Conte oportunidades
Uma oportunidade é quando há a indicação para a higienização: antes e depois de tocar o paciente, antes de começar um procedimento asséptico, depois de risco de exposição a fluidos, depois de tocar entorno do paciente)
Defina padrões
200 oportunidades por período de observação é um número que garante resultados comparáveis. Cada sessão deve durar 20 minutos (observe interações na totalidade)
Observe os profissionais em ação
Identifique-se para o profissional e para o paciente. Não interfira no procedimento realizado. Não observe mais de três profissionais simultaneamente
Documente por categoria profissional
Todas devem ser incluídas na amostra, proporcionalmente a sua presença na instituição ou setor analisado
Dê feedback do desempenho
Para cada profissional observado em particular, em um momento conveniente do dia. Para a equipe toda, ao final da análise
Fonte: Hand Hygiene Technical Reference Manual
SAIBA MAIS
(1) Boyce JM, Pittet D. Centers for Disease Control and Prevention. Guideline for hand hygiene in health-care settings: recommendations of the Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee and the HICPAC/SHEA/APIC/IDSA Hand Hygiene Task Force. Am J Infect Control. 2002;30:S1-46
(2) Pires, D., Soule, H., Bellissimo-Rodrigues, F., de Kraker, M. E., & Pittet, D. (2018). Antibacterial efficacy of handrubbing for 15 versus 30 seconds: EN 1500-based randomized experimental study with different loads of S. aureus and E. coli. Clinical Microbiology and Infection.
(3) Bellissimo-Rodrigues F, Pires D, Soule H, Gayet-Ageron A, Pittet D. Assessing the likelihood of hand-to-hand cross-transmission of bacteria: an experimental study. Infect Control Hosp Epidemiol 2017;38:553e8
(4) Kramer, A., Pittet, D., Klasinc, R., Krebs, S., Koburger, T., Fusch, C., & Assadian, O. (2017). Shortening the Application Time of Alcohol-Based Hand Rubs to 15 Seconds May Improve the Frequency of Hand Antisepsis Actions in a Neonatal Intensive Care Unit. Infection Control & Hospital Epidemiology, 38(12), 1430–1434. doi:10.1017/ice.2017.217
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