Saiba como prevenir infecções associadas aos cuidados em saúde de maior potencial preventivo, além de recomendações para garantir a proteção do profissional de saúde
As infecções associadas aos cateteres intravasculares estão relacionadas a desfechos desfavoráveis em saúde. Sua ocorrência aumenta os custos do sistema de saúde, morbidade e mortalidade dos pacientes, tanto em países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. Nos Estados Unidos, a mortalidade pode chegar a 25% nos pacientes de maior risco. Nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, estudos apontam que a mortalidade pode variar de 17 a 40%. Além disso, o prolongamento do tempo de internação e os custos associados, que podem variar de 3.700 a 39.000 dólares por evento, prejudicam o cenário de assistência pela considerável perda de recursos.
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“Os serviços devem estabelecer, treinar, divulgar e monitorar os protocolos de terapia infusional alinhados e atualizados cientificamente. Somado a isso, é primordial o engajamento da alta direção dos serviços na divulgação e tratativa dos resultados, apoio às intervenções propostas, gestão de recursos humanos e de materiais de qualidade”, Daiane Patricia Cais, enfermeira coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Samaritano de São Paulo.
Confira, a seguir, a entrevista exclusiva ao Portal IBSP.
IBSP – Dentro do campo da segurança na terapia infusional, como prevenir infecções para o paciente?
Daiane Cais – Esta é a infecção associada a cuidados em saúde de maior potencial preventivo que existe. Os casos podem ser prevenidos com adoção de medidas adequadas e que devem ser protocolares, como a adesão às boas práticas de inserção, a otimização das práticas de manutenção dos dispositivos e a implantação de materiais de qualidade e tecnologias complementares para reduzir complicações.
IBSP – O que considera relevante como protocolo de prevenção?
Daiane Cais – Entre os riscos, a contaminação microbiológica deve ser ressaltada, já que há protocolos de segurança para evitá-la, como higiene das mãos, uso de materiais estéreis, nunca reinserir cateteres intravenosos.
IBSP – Em termos de atualizações e novas diretrizes nacionais e internacionais, o que considera relevante?
Daiane Cais – As diretrizes atualizaram pontos relevantes relacionados com práticas de instalação e manutenção dos dispositivos. Pensando em inserção, devem ser instituídos protocolos que contenham o bundle de inserção para cateteres centrais (higiene das mãos, uso de campo estéril ampliando, clorexidina > 0,5% para antissepsia da pele, paramentação completa do profissional e evitar o sítio femural); padronização de kits que contenham todo o material necessário para o procedimento; capacitação e avaliação rotineira dos profissionais que inserem os cateteres e daqueles que auxiliam no procedimento, sempre empoderando este para que interrompa o procedimento caso identifique quebra do protocolo.
IBSP – O uso de imagem para guiar instalação de cateteres centrais é relevante?
Daiane Cais – Um aspecto importante que reduz o risco de complicações é o uso de imagem para guiar a instalação dos cateteres centrais. A utilização de técnica de visualização para punção venosa periférica também contribui fortemente na redução do risco de complicações e de falha do acesso, que pode chegar a 50% do total de cateteres inseridos.
IBSP – Quais cuidados relacionados à manutenção dos dispositivos?
Daiane Cais – Em relação à manutenção dos dispositivos, além da higienização das mãos antes e após qualquer manipulação, é importante manter a estabilidade do dispositivo. Estabilizar o cateter significa preservar sua integridade, prevenir o deslocamento e a perda, minimizando o risco de flebite e complicações infecciosas. As coberturas para qualquer tipo de cateter vascular devem ser estéreis, sendo importante manter a visualização como uma das formas de avaliação do sítio de inserção. A avaliação deve ser por meio de inspeção visual e palpação sobre o curativo intacto e valorizar as queixas do paciente em relação a qualquer sinal de desconforto.
Manter a permeabilidade dos dispositivos é fundamental para preservar sua integridade. Os objetivos da lavagem dos cateteres – flushing – são verificar o retorno de sangue antes de cada infusão para garantir o funcionamento do cateter e prevenir complicações, prevenir a mistura de medicamentos incompatíveis, selar o lúmen do cateter e prevenir obstrução.
IBSP – Além disso, com que frequência deve-se avaliar a necessidade de o paciente permanecer com o cateter?
Daiane Cais – Este é um item fundamental: a avaliação de necessidade de permanência de qualquer cateter deve ser diária e a remoção tão logo o mesmo não seja mais necessários.
IBSP – A terapia infusional também pode causar eventos adversos no profissional de enfermagem, como uma contaminação química. Como o enfermeiro pode e deve se proteger?
Daiane Cais – Os serviços têm a obrigação de estabelecer protocolos de segurança, treinar e capacitar seus funcionários sobre os riscos inerentes à terapia infusional. Cabem ao funcionário o engajamento e a responsabilidade no cumprimento dos protocolos institucionais.
IBSP – A Lesão com Objetos Pontiagudos também merece ser evidenciada no processo de segurança infusional, já que pode acometer o profissional de enfermagem. A prevenção eficaz das lesões por picada de agulha para evitar a exposição ao sangue ou fluidos corporais requer uma abordagem abrangente combinando diversas estratégias e ações?
Daiane Cais – As estratégias devem ser multimodais, mas a mudança de comportamento talvez seja o principal desafio dos serviços de saúde. Muitas vezes, as ações de melhoria concentram a maior parte de esforço no trabalho técnico e falham nos desafios adaptativos, como os profissionais que não apoiam o projeto e são relutantes em mudar a sua prática. Para obter sucesso nesta mudança, é fundamental que os serviços estabeleçam, treinem e divulguem protocolos alinhados e atualizados cientificamente. Além disso, é necessário, mais uma vez, o engajamento da liderança do serviço para orientar os esforços de mudança organizacional.
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