Eventos Adversos em Obstetrícia
As altas taxas de cesáreas verificadas no País – 84% na saúde suplementar e 40% no sistema público – são motivo de preocupação do governo e dos médicos brasileiros. Isso porque, segundo a ANS – Agência de Saúde Suplementar, quando não há indicação clínica, a cesariana ocasiona riscos desnecessários à saúde da mulher e do bebê: aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe. Cerca de 25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis no Brasil estão relacionados à prematuridade.
“Eventualmente, temos indicações absolutas de partos cesáreas, nos quais o risco para a mãe e o bebê não justificam a realização do parto normal por dados estatísticos, não por opção pessoal do médico”, diz Dr. Ricardo Luba, ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana, membro da AAGL – American Association of Gynecologic Laparoscopists e da FEBRASGO – Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.
IBSP – Quais os principais motivos que as pacientes apresentam para preferir a cesárea?
Ricardo Luba – O principal é o desejo de não sentir dor. Conversando diariamente com minhas pacientes vejo que há muito medo do parto normal, especialmente dos riscos de sofrimento do bebê. Apesar das opiniões de que este ou aquele procedimento é mais seguro, vale ressaltar que ambos têm sua parcela de risco para mãe e bebê.
IBSP – Quais os principais eventos adversos em cesáreas?
Ricardo – Tanto o parto normal quanto o parto cesárea trazem riscos para a mãe e para o bebê. A cesariana tem tanto os riscos obstétricos (hemorragias, dor no pós-operatório, trombose venosa), como os derivados da cirurgia: hematomas, infeções de feridas operatórias (que podem ser graves) e seromas, além de reações adversas em relação à anestesia. Além disso, a recuperação é mais demorada para a mãe após cesárea. As técnicas cirúrgicas e a habilidade do cirurgião diminuem consistentemente a ocorrência de complicações, mas sempre existe risco. Quanto aos riscos aos bebês, existem pequenas chances de lesão. Outro risco para o bebê é de problemas respiratórios, o que é minimizado após 39 semanas de gestação.
IBSP – Quais os principais eventos adversos em partos normais?
Ricardo – Os partos normais não são isentos de complicações. Tendo em vista a passagem do bebê pelo canal vaginal, há risco de rotura perineal, lacerações vaginais, lacerações em reto e ânus, sangramento, atonia uterina (quando o útero no pós-parto não contrai de maneira adequada). Para o recém-nascido, os principais riscos são o sofrimento fetal e as situações em que as estruturas fetais são maiores que o canal de parto, ocorrendo lesões no plexo braquial, lesões de clavícula, conhecidas como tocotraumas.
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