Características pessoais e profissionais têm impacto direto na qualidade da assistência
A literatura científica já trabalhou em torno de questionamentos sobre como diferentes fatores humanos impactam a segurança do paciente. Uma nova revisão narrativa publicada em maio deste ano no British Medical Journal foi mais a fundo para entender como a compaixão – que é diferente da empatia – e a liderança podem tornar o ambiente mais ou menos seguro dentro dos serviços de saúde.
Antes de mais nada, é preciso compreender o conceito desses dois termos. Na saúde, liderança está relacionada a como as pessoas orientam seus times rumo à excelência e envolve o gerenciamento de recursos, a motivação em torno de um mesmo propósito e a criação de um ambiente voltado à prestação de cuidados de alta qualidade. É colocar o bem-estar do paciente como prioridade e garantir espaço para a comunicação clara e eficaz onde os profissionais de saúde não têm medo de assumir falhas e serem punidos.
Em paralelo, compaixão muitas vezes é um sentimento compreendido de forma equivocada e confundido com empatia. Porém, trata-se da capacidade de sentir empatia e, ao mesmo tempo, estar pronto para melhorar o bem-estar daquela pessoa, encontrando caminhos para aliviar sua angústia. Entre os profissionais de saúde, significa dialogar com os pacientes criando uma relação de confiança e envolvimento.
Com base nessa percepção, nota-se que ambos são elementos essenciais para a segurança do paciente.
Compaixão e segurança do paciente
Não há consenso se a capacidade de sentir compaixão nasce com a pessoa ou se ela é aprendida ao longo da vida. Mas, segundo os achados da revisão narrativa, entre os impactos dela na segurança do paciente, destaque para efeitos psicológicos, fisiológicos, aumento do autocuidado e da qualidade da assistência médica.
Em pacientes com transtornos mentais, por exemplo, a compaixão pode reduzir os sintomas de depressão, ansiedade e sofrimento psicológico. É a compaixão, também, que aumenta em até 62% a adesão dos pacientes aos tratamentos e eleva a capacidade de autocuidado, impactando positivamente nos desfechos. Um exemplo está em um estudo que avaliou mais de 9 mil pacientes diabéticos que, quando tratados com compaixão, tiveram melhor controle da glicemia e menos complicações que exigiam hospitalização.
Entre os profissionais de saúde, a compaixão pode elevar a atenção, reduzindo, assim, a chance de erros.
Tudo isso impacta significativamente o ambiente de trabalho, pois a compaixão torna a comunicação mais eficiente, facilitando a identificação de riscos e diminuindo interpretações equivocadas, além de impulsionar uma atmosfera tranquilizadora para pacientes e cuidadores.
Liderança e segurança do paciente
Nas instituições de saúde, os líderes são responsáveis por estabelecer padrões de atendimento e capacitar seus liderados para atingi-los. Há, na história, definições de estilos de liderança como autocrática, transformacional, situacional, colaborativa, ética e servidora. Esses estilos variam e podem ter eficácia diferente quando aplicados a cenários diferentes. Por isso, um bom líder transita entre eles para atender as demandas de cada situação específica.
Entre todos esses perfis, a liderança transformacional tende a ser a mais adequada aos serviços de saúde quando o objetivo é melhorar a assistência e a segurança. Resume-se à definição de uma visão clara onde as equipes são altamente capacitadas e treinadas para colocar o paciente no centro do cuidado. É um tipo de liderança que promove a inovação, a responsabilidade e a colaboração e está alinhado aos valores das organizações.
As evidências sugerem que a liderança transformacional – quando feita pelo exemplo – melhora o trabalho em equipe, seu desempenho, diminui o turnover e melhora a satisfação do paciente. Sua ausência, em contrapartida, pode levar a problemas entre as equipes, principalmente de comunicação, dificultando a tomada de decisão e colocando os pacientes em risco.
Combinação para mudança de cultura
De acordo com a revisão narrativa, a combinação dessas duas características – compaixão e liderança – melhora a satisfação do paciente, os desfechos e a qualidade da assistência. A sugestão dos pesquisadores para construir uma cultura fundamentada em compaixão e liderança nos sistemas de saúde está em envolver os cargos mais altos, fornecer programas de treinamento que capacitem os colaboradores a assumir responsabilidades e os incentive a falar sobre falhas e erros sem medo de represálias, e criar uma cultura de melhoria contínua baseada em indicadores de desempenho.
Por fim, após avaliar dezenas de estudos, os pesquisadores sugerem que há evidências, na literatura, de que tanto a compaixão quanto a liderança podem contribuir com a criação de uma cultura positiva onde os profissionais de saúde priorizam uma assistência segura e de qualidade. Além disso, apontam que líderes que demonstram compaixão têm mais chances de inspirar seus liderados a prestar cuidados centrados no paciente e focados na eliminação de erros evitáveis.
Referência
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