A busca pelo fim das desigualdades na saúde têm sido tema recorrente aqui no portal de conteúdo do IBSP. Considerando que as equipes de enfermagem têm papel relevante na consolidação de um setor com menos preconceito e mais equidade, visto que estão imersas em grupos multidisciplinares ao mesmo tempo em que atuam muito próximas dos pacientes, aproveitamos essa semana dedicada a esses profissionais para falar sobre o assunto.
Desde 2011, especialistas norte-americanos vêm avaliando as revoluções ocorridas no contexto da enfermagem e é inegável que em dez anos o cenário se transformou. Principalmente em uma década que abrigou uma crise sanitária mundial desencadeada pelo novo coronavírus. Assim, os especialistas investiram esforços em atualizar o panorama observado anteriormente repensando ações estratégicas para que a saúde global possa ser mais igualitária, chegando a todas as comunidades.
Assim, nessa terça-feira, dia 11 de maio, foi lançado durante um webinar promovido pelo The National Academies of Sciences Engineering and Medicine, o estudo “The Future of Nursing 2020-2030: Charting a Path to Achieve Health Equity”. O documento – bastante complexo – traz recomendações para que formuladores de políticas públicas, educadores, gestores da saúde, pesquisadores e equipes de enfermagem possam contribuir com a capacitação desses profissionais na construção de mais oportunidades de assistência à saúde para todos.
“Desde 2010 sabemos que muita coisa aconteceu. Novos desafios, mudanças demográficas, uma população em envelhecimento. Há, também, a tecnologia que avança a passos largos, a ascensão da inteligência artificial e do big data que certamente transformam o ambiente de saúde. Isso sem falar no esgotamento das equipes de enfermagem”, declarou Victor Dzau, presidente da National Academy of Medicine, ao iniciar a apresentação do relatório.
Naturalmente, o relatório foi construído com base no cenário dos Estados Unidos, e nem todas as recomendações atendem às necessidades especiais de um país como o Brasil. Mas há muito em comum. Além das mudanças gerais mencionadas por Dzau na abertura – inerentes à população global –, encontrar caminhos para promover a equidade é algo extremamente necessário também no nosso país. “Estamos, ainda, distantes da igualdade no Brasil. Não precisamos caminhar longas distâncias para encontrá-la. Quem vive na cidade de São Paulo, por exemplo, consegue notar a falta de equidade em saúde apenas andando alguns quilômetros rumo ao interior. Com a pandemia, a situação tornou-se ainda mais evidente”, diz Vânia Ronghetti, enfermeira e coordenadora de conteúdo do IBSP.
Relevância da enfermagem e da educação
Na apresentação do relatório, Dzau fez uma menção à relevância das equipes de enfermagem e seu importante papel na construção dessa sociedade mais justa. “Os enfermeiros desempenham um papel muito importante. Por mais de um século vêm trabalhando para construir a cultura da saúde. Acredito que o maior setor da força de trabalho em saúde é a enfermagem. E para que possam, de fato, contribuir com essa melhoria de cenário, precisam de uma educação robusta, de um ambiente de trabalho que lhes dê suporte e autonomia”, pontuou.
Quando fala em necessidade de investimentos em educação, Dzau sustenta um argumento que também é muito forte aqui no Brasil. Mesmo considerando que há muitas divergências entre a educação em saúde dos EUA e a brasileira. É justamente o que comenta Vânia.
“A formação profissional da enfermagem é muito diferente entre os dois países, inclusive a grade curricular é distinta”, diz. Para ela, as equipes de enfermagem precisam ser mais incentivadas aqui no nosso país. “Precisamos de estímulos à enfermagem. Estímulos para que atuem com pesquisa, que desenvolvam estudos científicos e artigos para fortalecer, assim, a relevância dessa classe na construção de um país melhor, mais justo, e com mais qualidade na assistência para todos”, comenta.
Essa é justamente uma das recomendações grafadas no “The Future of Nursing 2020-2030: Charting a Path to Achieve Health Equity”. O texto diz que os sistemas de saúde devem incentivar a pesquisa e a construção de evidências sobre o impacto das intervenções de enfermagem nos determinantes sociais da saúde, na equidade e no bem-estar da força de trabalho.
Diretrizes e recomendações
De forma generalizada, as diretrizes apontadas no documento norte-americano direcionam à atuação conjunta de todos os atores da cadeia de saúde na educação dos profissionais de enfermagem e no incentivo para que eles possam atuar em prol da equidade. Esse incentivo envolve desde ações para ampliar as habilidades de liderança desses profissionais, até questões de remuneração e proteção à classe. Confira, abaixo, um breve resumo das nove recomendações listadas no documento:
Recomendação 1. Ainda em 2021, as organizações focadas na força de trabalho da enfermagem devem desenvolver e compartilhar uma agenda que destaque os determinantes sociais da saúde capazes de promover a equidade. Essa agenda deve apontar as prioridades como educação, liderança e engajamento das políticas públicas. Com apoio do governo e das fontes pagadoras, deve definir cronogramas para ação e métricas para medir os impactos das implementações.
Recomendação 2. Até 2023, os sistemas de saúde devem iniciar ações permissivas para que a enfermagem possa trabalhar nos determinantes sociais da equidade em saúde de forma mais abrangente, independentemente do ambiente em que atuam.
Recomendação 3. Ainda em 2021, os programas de educação, os empregadores, os líderes e as organizações de enfermagem devem implementar estruturas, sistemas e intervenções baseadas em evidências para promover o bem-estar dos enfermeiros, principalmente quando eles assumem uma atuação voltada à promoção da equidade em saúde.
Recomendação 4. Os sistemas de saúde precisam derrubar barreiras como limitações regulatórias, políticas restritivas, impedimentos legais, profissionais e comerciais que atravancam a atuação da enfermagem na construção de um sistema de saúde mais justo.
Recomendação 5. As fontes pagadoras – públicas e privadas – devem estabelecer modelos de pagamento sustentáveis e flexíveis apoiando a prestação de serviços de enfermagem.
Recomendação 6. Os sistemas de saúde devem incorporar, em suas plataformas digitais, inteligência artificial e tecnologias inovadoras, dados advindos da enfermagem que apoiam iniciativas capazes de contribuir com a busca pela equidade.
Recomendação 7. Os programas de educação, incluindo a educação continuada, devem preparar a enfermagem para abordar os determinantes sociais da saúde na busca pela equidade.
Recomendação 8. E, para permitir que os enfermeiros abordem a questão da desigualdade, eles precisam estar protegidos principalmente diante de emergências de saúde pública como a pandemia de COVID-19.
Recomendação 9. Para encerrar as recomendações, os sistemas de saúde devem incentivar a pesquisa científica sobre o impacto da enfermagem nos determinantes sociais de saúde.
Por fim, o documento mostra que muitas das percepções de especialistas sobre o território norte-americano se refletem em outras partes do mundo. Assim, as recomendações por eles traçadas podem ser úteis principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil.
Referências:
(1) The Future of Nursing 2020-2030: Charting a Path to Achieve Health Equity
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