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Inteligência artificial: “A percepção de que podemos evitar o erro é falsa”

Inteligência artificial: “A percepção de que podemos evitar o erro é falsa”
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Além do cérebro digital: tecnologias que superam a cognição humana mudarão como fazemos diagnósticos e zelamos pela segurança na saúde (Bigstock)
Além do cérebro digital: tecnologias que superam a cognição humana mudarão como fazemos diagnósticos e zelamos pela segurança na saúde (Bigstock)

O cérebro humano é a máquina mais fantástica – e misteriosa – de que se tem notícia. Mas até ele tem limites, desafiados por novas tecnologias capazes de armazenar milhões de dados , combiná-los e chegar a uma resposta que, até agora, estava na cabeça apenas de quem passava anos e anos estudando: os profissionais de saúde. Como essa nova interação entre inteligência artificial e profissionais mudará a saúde é o tema da palestra do pesquisador chileno Ricardo Mateo Duenãs, no II Seminário Internacional de Enfermagem para a Segurança do Paciente. O evento, promovido pelo IBSP – Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente, acontece em 19 de outubro, em São Paulo. Confira a programação completa e as informações sobre as inscrições.

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A especialidade de Duenãs, professor da Universidade de Navarra, na Espanha, é gerenciamento de qualidade e melhoria contínua – o que explica o seu interesse sobre o impacto da inteligência artificial sobre a saúde. Duenãs é otimista. “A inteligência artificial permite melhorar a segurança e, se bem gerida, economiza recursos para o hospital e melhora a qualidade do atendimento”, afirmou em entrevista ao IBSP. A tecnologia entra onde falha a mente humana: na disciplina (ou na falta dela) para cumprir adequadamente um protocolo, na memória (ou na falta dela)  para lembrar todos os itens de um checklist. “A inteligência artificial pode ajudar e muito, facilitando o protocolo e dando feedback imediato ao profissional a execução correta”. Leia a entrevista completa a seguir.

INSCRIÇÕES ABERTAS: II Seminário Internacional de Enfermagem para Segurança do Paciente

IBSP – A inteligência artificial é uma ferramenta para superarmos os limites da cognição humana. Como ela se aplica à saúde?
Ricardo Mateo Dueñas – Existem diversas dificuldades que afetam os profissionais de saúde na gestão de riscos: a exigência de entender sobre condições e pacientes diversos, a pressão do trabalho para atender a demanda e a percepção do erro. O erro é encarado como algo que o profissional pode controlar e evitar se tiver cuidado. Mas essa percepção é falsa.  É preciso entender o erro como algo multifatorial em um sistema complexo, como é o hospital. Isso exige uma gestão detalhada e em equipe para prevenir que o erro volte a ocorrer ou, ao menos, reduzir a probabilidade de que ele ocorra novamente. A inteligência artificial permite melhorar a segurança e, se bem gerida, economiza recursos para o hospital e melhora a qualidade do atendimento.

IBSP – Como a inteligência artificial zela pela segurança na saúde?
Dueñas – Os protocolos de segurança são cumpridos parcialmente em  muitos hospitais. Por exemplo, algo tão simples quanto a higiene das mãos é um problema na maioria dos hospitais do mundo, assim como o checklist antes de uma cirurgia e outros protocolos.  Ainda que exista um protocolo estabelecido para a lavagem das mãos e outros para o checklist, muitos profissionais têm dificuldade de aderir. A inteligência artificial pode ajudar e muito, facilitando o protocolo e dando feedback imediato ao profissional a execução correta.

IBSP – Os hospitais de hoje estão preparados para incorporar inteligência artificial ao seu dia a dia?
Dueñas – Os sistemas de inteligência artificial  exigem três elementos básicos para ter sucesso: capacidade de processamento de dados, capacidade de fazer algoritmos e acesso a um grande número de dados analisáveis. Os hospitais se desenvolveram paralelamente a esses três elementos. Todos eles dispõem de capacidade de processamento, de programação e dados. O segredo é saber integrá-los adequadamente para melhorar a assistência à saúde. Esses sistemas estão começando  a ser usados em hospitais públicos e privados em vários países do mundo – mas isso ainda não significa que já seja algo disseminado.

IBSP – De que maneira a inteligência artificial já é usada na saúde?
Dueñas – Em alguns casos esses sistemas interagem com o paciente e, em outros, com o profissional. Um exemplo de interação com os pacientes são os sistemas de diagnóstico que usam inteligência artificial. Trata-se de um sistema inteligente que faz uma série de perguntas. O doente responde e o sistema seleciona os diagnósticos mais prováveis. Esse sistema é usado por empresas de seguros para atender seus segurados. Atualmente, os mecanismos de aprendizagem supervisionada superam a capacidade humana de classificação e podem ajudar os médicos a melhorar a precisão de seus diagnósticos. Há sistemas que fazem a leitura de eletrocardiogramas, classificando o ritmo cardíaco observado. Outra área em que a inteligência artificial tem enorme potencial é nos serviços de radiodiagnóstico. Os radiologistas estudam e classificam imagens, contribuindo com os diagnósticos, mas essa capacidade pode melhorar com a implantação de algoritmos automáticos.

IBSP – Tecnologias como o Watson, o sistema cognitivo da IBM que também pode ajudar em diagnósticos, já foram encaradas como rivais dos profissionais de saúde. Há quem acredite que elas mudarão definitivamente o papel e a função que cabe ao médico, por exemplo, ao dividir com ele a autoridade sobre o saber. O senhor acredita que isso acontecerá?
Dueñas – A medicina é uma ciência a serviço das pessoas e algoritmos e inteligência artificial devem estar sempre sob o controle do médico, isto é, devem funcionar para ajudar o profissional de saúde a fazer melhor o seu trabalho. Os serviços médicos contam com pessoas muito bem formadas e com grande capacidade, e que devem estar constantemente aprendendo e atualizando seus conhecimentos. Essas características os tornam ideais para implantar novas ferramentas que facilitam a melhoria do atendimento ao paciente.  É essencial desenvolver uma cultura de melhoria contínua para os profissionais, baseada no uso de mais tecnologia e no compromisso de evitar erros na gestão da saúde. É essencial promover uma participação mais ativa de todos os profissionais em um ambiente aberto a melhorias e envolver os pacientes nesse processo é vital.

 

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