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Mobilização precoce na UTI: benefícios, riscos e evidências atualizadas

Mobilização precoce na UTI: benefícios, riscos e evidências atualizadas
Mobilização precoce
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Tema é prioritário principalmente devido à fraqueza muscular adquirida na UTI que pode se prolongar até após a alta


A mobilização precoce de pacientes críticos internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) continua sendo um tema prioritário dentro da agenda de segurança do paciente. O motivo principal é a fraqueza muscular adquirida na UTI (ICU-AW), complicação neuromuscular frequentemente observada em pacientes submetidos à ventilação mecânica invasiva por mais de cinco dias, com impactos funcionais que podem persistir mesmo após a alta hospitalar.

Embora alguns estudos indiquem risco aumentado de eventos adversos associados à mobilização precoce, a literatura recente oferece uma visão mais ampla e equilibrada dos potenciais riscos e benefícios. Um ensaio clínico randomizado chegou a apontar possível elevação da mortalidade em pacientes mobilizados precocemente. Por outro lado, diversos estudos demonstram que iniciar a mobilização nas primeiras 72 horas de internação melhora desfechos funcionais, reduz o tempo de permanência hospitalar, diminui reinternações e custos assistenciais.

Para consolidar esse conhecimento, uma revisão sistemática publicada em 2024 no The Lancet (1) analisou quase 70 estudos, comparando taxa de eventos adversos e mortalidade entre pacientes mobilizados precocemente e controles.

Principais achados

  • A taxa média de eventos adversos associados à mobilização precoce foi inferior a 3%;
  • Não houve aumento na mortalidade atribuída à mobilização precoce;
  • A maioria dos eventos adversos foi leve ou moderada, como hipotensão transitória e queda da saturação de O₂, resolvidos com a interrupção da mobilização;
  • Eventos mais graves (como arritmias ou deslocamento de cateter) foram raros e exigiram apenas intervenções pontuais;
  • Apenas um caso de evento adverso com consequência permanente foi identificado, relacionado a complicação cerebrovascular.

Esses dados sustentam que, quando criteriosamente indicada e monitorada, a mobilização precoce em pacientes críticos é uma prática segura e com potencial de prevenir disfunções físicas prolongadas.

Relato de caso clínico: mobilização precoce por fisioterapia e terapia ocupacional

Um artigo publicado no Chest Clinical Care (2) ilustra, por meio de relato de caso, os impactos positivos da mobilização precoce. O paciente, homem, 68 anos, fumante, fisicamente ativo e portador de diabetes mellitus, foi admitido na UTI com quadro de choque séptico secundário à pneumonia, evoluindo para necessidade de ventilação mecânica.

Durante a internação, recebeu noradrenalina, fentanil e propofol. Após melhora nas configurações ventilatórias, foi submetido ao teste de despertar espontâneo, mas falhou no teste de respiração espontânea devido à taquipneia.

A equipe multidisciplinar iniciou sessões de fisioterapia e terapia ocupacional com foco na recuperação funcional. Após avaliação, descartou-se o diagnóstico de ICU-AW, e o paciente demonstrou força muscular preservada, com capacidade de vencer a gravidade em todos os membros.

Durante a evolução:

  • Sentou-se à beira do leito;
  • Realizou pausas para recuperação ventilatória;
  • Ficou em pé com assistência de enfermagem.

A intervenção precoce foi decisiva para a reabilitação funcional e favoreceu a alta da UTI com maior autonomia.

IBSP Conecta: Mobilização Precoce na UTI

Esse tema está presente no novo curso do IBSP Conecta, com uma trilha completa dedicada à mobilização precoce na UTI. A segunda aula foca na avaliação do paciente crítico e capacita o profissional a identificar critérios de inclusão e exclusão; realizar avaliações abrangentes; e aplicar escalas e instrumentos padronizados.

Com essa novidade já disponível para todos os assinantes da plataforma, o IBSP segue comprometido com a disseminação de práticas baseadas em evidências, que promovam a segurança do paciente, a reabilitação precoce e a redução da morbimortalidade em ambientes críticos.

Referências:

(1) Association of active mobilisation variables with adverse events and mortality in patients requiring mechanical ventilation in the intensive care unit: a systematic review and meta-analysis

(2) Early Mobilization in the ICU

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