Em 2009, o ISMP (Institute For Safe Medication Practices), órgão norte-americano responsável por trilhar os caminhos mais profícuos para a medicação segura dentro das unidades de saúde, publicou a primeira versão das diretrizes para implementação e uso seguro de bombas de infusão inteligentes. Agora, passada uma década, o instituto está finalizando uma revisão dessas diretrizes.
Focado em um parecer sobre como otimizar a implementação segura e o uso das bombas de infusão, o documento (1) aborda a aplicação da tecnologia em qualquer área de cuidado em saúde, seja ela um ambulatório de atendimento, seja uma unidade de terapia intensiva. Além disso, traça expectativas para a utilização tanto em infusões contínuas quanto intermitentes, analgesia e para bloqueio peridural.
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Conectividade – Uma das abordagens das novas diretrizes apresentadas pelo ISMP diz respeito à necessidade de uma conexão sem fio de qualidade em toda a unidade para que as bombas de infusão inteligentes possam operar com confiabilidade. Essa conectividade será utilizada para atualização da biblioteca, obtenção de dados e relatórios e comunicação total com o prontuário eletrônico do paciente.
Envolvimento dos times – Outra diretriz apontada no documento prévio divulgado pelo Instituto diz respeito a necessidade de envolver os usuários das bombas de infusão, entre eles toda a equipe de enfermagem, na avaliação de risco para aquisição de novos equipamentos. A intenção é entender possíveis entraves ou dificuldades tendo, como balizador, justamente o profissional que mais utiliza o equipamento em seu dia a dia.
Relatar eventos adversos – O material indica, também, que todo e qualquer evento adverso deve ser notificado tanto internamente quanto externamente, ou seja, que as equipes apontem condições perigosas dentro da organização e para institutos que, como o ISMP, atuam para a melhoria da segurança no uso de medicamentos. A meta, aqui, é compartilhar informações que podem ser uteis para evitar erros, reduzir os riscos e preservar a vida.
Biblioteca de medicamentos – Manter a biblioteca atualizada é dever das instituições de saúde. Para tal, é preciso que seja formada uma equipe multidisciplinar, composta por farmacêuticos, enfermeiros e médicos responsáveis pelas prescrições, que a cada trimestre fará uma atualização dos dados e se responsabilizará por comunicar essas alterações a todos os usuários finais. Essa atualização é extremamente relevante para que sejam incluídas novidades da literatura médica, mudanças práticas e dados de melhoria contínua de qualidade. Além disso, a biblioteca deve contar com alertas clínicos capazes de fornecer às equipes informações importantes durante a programação da infusão.
Melhoria contínua da qualidade – Para garantir processos de melhoria contínua da qualidade, a cada trimestre as equipes devem revisar e analisar os dados provenientes das bombas de infusão. Essa análise deve envolver métricas como, por exemplo, taxas de conformidade; número total de alertas por nível, por tipo e por medicação; porcentagem de infusões interrompidas e de reprogramações.
Outras métricas mais avançadas também contribuem com a melhoria da qualidade: indicação de medicamentos com baixa frequência de uso, porém alta frequência de alertas; e percentual de medicamentos programados fora de concentrações predefinidas para identificação de práticas arriscadas.
Fluxo de trabalho – O guideline traz, inclusive, alguns direcionamentos sobre a prática clínica, entre eles a indicação de que o profissional deve sempre se assegurar de que as instruções do fabricante da bomba de infusão estão sendo seguidas a fim de evitar problemas no fluxo da medicação. Além disso, deve investir em uma dupla checagem envolvendo o paciente, a medicação, a concentração desses fármacos, a dose de infusão e a seleção de canais.
Interoperabilidade – A comunicação entre as bombas de infusão e o prontuário eletrônico também é mencionada nas diretrizes preparadas pelo ISMP. Essa interoperabilidade, segundo o manual, deve ser planejada e implementada por uma equipe multidisciplinar que envolva profissionais de enfermagem, farmácia, tecnologia da informação e gestão de riscos, além de médicos, engenheiros biomédicos, líderes e educadores clínicos. Fornecedores, tanto das medicações quanto dos equipamentos, também devem ser envolvidos neste processo.
Posteriormente, a equipe deve analisar os dados dos prontuários eletrônicos e das bombas de infusão a fim de prover melhorias para a interoperabilidade.
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Pesquisa aponta necessidade de melhorias na análise de dados
Antes de consolidar essas novas diretrizes, o ISMP realizou três pesquisas (2) com farmacêuticos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, entre 2017 e 2018, para entender mais a fundo as atuais práticas relacionadas a bombas de infusão. Como resultado, 96% dos entrevistados afirmaram acreditar que a revisão dos dados dos equipamentos é essencial para a melhoria da qualidade, porém um em cada dez participantes indicou que esses dados não são analisados.
Além disso, apenas 22% demonstraram confiança de que a organização tem tempo, experiência e ferramentas necessárias para analisar esses dados extraindo conclusões significativas.
Após a pesquisa, a fim de contribuir para que as organizações adquiram conhecimento e competências para entender os dados gerados pelas bombas de infusão, o Instituto listou as métricas básicas e as métricas avançadas que devem ser monitoradas trimestralmente.
Discussão com especialistas
As novas diretrizes de segurança no uso de bombas de infusão serão debatidas no III Seminário Internacional de Enfermagem para Segurança do Paciente, evento realizado este mês de outubro, dias 24 e 25, em São Paulo. Para abordar essa temática, o seminário receberá Michele Mandrack, diretora do ISMP que tem mais de 20 anos de experiência em ambientes de cuidados intensivos.
Hoje, Michele é uma das profissionais dedicadas à avaliação de risco de medicamentos em território norte-americano e à segurança de infusões intravenosas, incluindo o uso ideal de tecnologias de bombas de infusão. Trará, para a agenda de palestras do evento, toda sua expertise na elaboração de diretrizes capazes de ampliar significativamente a segurança do paciente que utiliza esses equipamentos em seus processos de saúde.
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Referências:
(1) Draft Guidelines for Optimizing Safe Implementation and Use of Smart Infusion Pumps
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