Por Karina Pires
A segurança do paciente na atenção domiciliar é uma das instancias pouco estudadas, já que grande parte dos trabalhos publicados atualmente faz menção a dados analisados no âmbito hospitalar.
O que precisamos deixar claro é que o crescente envelhecimento da população tornará o contexto “cuidado” ainda mais complexo em nosso País. Mais de 20% da população terá acima de 65 anos em 2020 em países desenvolvidos, o que faz com que pessoas portadoras de câncer, doenças cardiovasculares, demências, problemas respiratórios e renais vivam por mais tempo.
O contexto “atenção domiciliar” define o cuidado realizado por familiares, cuidadores e principalmente profissionais de enfermagem. Este modelo está em franca expansão.
Quando estes pacientes sofrem uma internação por descompensação da doença de base, o risco de sofrer um dano no ambiente hospitalar fica ainda mais alto. Desta forma, um dos principais objetivos no cuidado domiciliar é evitar reinternações e manter uma boa qualidade de vida.
Pacientes e cuidadores ganham um papel importante em domicílio, já que precisam entender sinais e sintomas de descompensações relacionadas à doença para decidir quando e com que rapidez o tratamento deve ser intensificado por meio de uma avaliação complementar em um ambiente hospitalar.
Para pacientes e familiares, “estar em casa” é particularmente mais acolhedor, o que não acontece para os profissionais de saúde. As dificuldades são frequentes, pela falta de conhecimento, ambientes propícios para quedas, medicamentos fora de embalagens habituais, além do descarte improvisado de agulhas e seringas.
Neste contexto, fica difícil determinar padrões de segurança quando pensamos na perspectiva de prevenção de danos por meio da otimização de processos. Com isso, a atenção domiciliar pode gerar até mais eventos adversos do que o cuidado hospitalar.
Por exemplo, pacientes cuidados neste cenário, geralmente, tendem a ter uma idade mais avançada e um maior número de comorbidades, ou seja, há grandes chances de encontrarmos uma longa prescrição médica, o que está associado a um maior risco de erros de medicação ou eventos adversos (Lorincz et al. 2011). Nestes casos, a polifarmácia é bastante comum e praticamente não existe uma revisão sistemática desta prescrição médica com objetivo de identificar a necessidade de adequação de dose ou até mesmo interações medicamentosas.
Muitos pacientes em atenção domiciliar usam mais de cinco medicamentos, sendo que mais de um terço destes pacientes utilizam medicamentos fora do regime prescrito pelo médico que realiza o seguimento.
Dentre o roll dos principais eventos adversos no âmbito domiciliar, as quedas representam quase 50% dos casos, seguido de eventos relacionados à medicação, lesões por pressão e danos psicológicos (Johnson et al. 2005).
No contexto domiciliar, pacientes e cuidadores assumem a cada dia o papel dos profissionais de saúde, assim como a chance de cometer um erro que pode levar a um dano grave.
Fica claro que a responsabilidade na administração de medicamentos e diversos outros cuidados ligados diretamente à assistência à saúde é muito grande, não só pelo ato do cuidado propriamente dito, mas também pela falta de orientação, conhecimento claro do risco e compreensão de segurança.
Precisamos capacitar nossos profissionais, estabelecer uma comunicação efetiva com o paciente, cuidadores e familiares. Este é um exemplo de soluções simples e de baixa tecnologia, que pode otimizar a redução de erros.
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