Estudo mostra que o sistema SIPS melhora a transferência de informações sem aumentar o tempo das reuniões e está associado a menos eventos de segurança na passagem de plantão
Falhas de comunicação ainda são uma das principais causas de eventos adversos e óbitos evitáveis na assistência à saúde, e a passagem de plantão cirúrgico está entre os momentos mais críticos. Um estudo de coorte (1) realizado em dois hospitais universitários sugere que um modelo padronizado de transferência chamado Sistema SIPS pode melhorar de forma mensurável a segurança do paciente sem tornar o trabalho mais lento ou burocrático.
O SIPS, estruturado em quatro etapas, esteve associado a melhora dos sinais vitais dos pacientes nas primeiras 24 horas e a uma queda importante de eventos de segurança relacionados à comunicação. Os achados reforçam que a maneira como se passa o plantão é um componente central da segurança assistencial.
A padronização da passagem de plantão é recomendada há décadas, mas sua aplicação na cirurgia de urgência é desafiadora devido à alta variabilidade clínica, decisões rápidas e forte pressão de tempo, fatores que frequentemente levam ao abandono de protocolos complexos.
SIPS
Desenvolvido a partir de avaliação prática, revisão sistemática e consulta nacional a cirurgiões e residentes, o SIPS propõe passos mínimos e viáveis para qualificar a conversa entre equipes:
- Identificar os pacientes mais graves logo no início;
- Apresentar cada caso por meio do ISBAR;
- Deixar claras as prioridades do próximo turno;
- Encerrar com um resumo da equipe que assume.
Avaliação do SIPS
O estudo analisou 2.261 pacientes entre 2023 e 2024 em dois serviços de cirurgia geral de emergência em Dublin, na Irlanda. No período pré-intervenção, não havia protocolo; no pós, toda a equipe foi treinada no SIPS, adotado como parte de um programa institucional. As análises incluíram prontuários, observações de reuniões e questionários sobre eventos de segurança e percepção da equipe.
A qualidade da transferência melhorou expressivamente. A identificação de pacientes graves subiu de 4% para quase 99%; listas de prioridades, de 28% para cerca de 80%; e resumos finais, de 4% para quase 87%. Tudo isso sem aumento considerável na duração das reuniões, que variaram de 11 para 8 minutos, com número semelhante de pacientes discutidos.
Clinicamente, houve melhora dos sinais vitais nas primeiras 24 horas: 26,8% dos pacientes pós-intervenção apresentaram redução do Early Warning Score, contra 20% antes da implementação. Internação, mortalidade e transferências para UTI permaneceram estáveis.
Na segurança do paciente, os dias com eventos relacionados à passagem de plantão caíram de quase 20% para menos de 5%. Além disso, a equipe relatou menos informações incompletas e menos impactos negativos resultantes de falhas de comunicação.
Os autores destacam que este é um dos poucos estudos a demonstrar, com rigor metodológico, efeitos clínicos concretos de uma intervenção de comunicação na cirurgia. A estratégia estruturada de implementação foi essencial para garantir adesão e evitar que o SIPS se tornasse mais um protocolo pouco utilizado.
Em um cenário de equipes sobrecarregadas, o SIPS surge como uma forma prática de tornar a passagem de plantão mais segura e objetiva, sem exigir mais tempo da rotina assistencial.
Referências:
(1) A Surgical Handover System for Patient Physiology and Safety
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