Após um 2020 extremamente desgastante para os profissionais de saúde de todo mundo devido à pandemia de COVID-19 – cerca de um a cada três médicos está sofrendo com Burnout (1) –, debater estratégias para reduzir o esgotamento desses trabalhadores que seguem com árduas rotinas de trabalho mesmo mediante o início das imunizações globais continua prioritário.
Publicado em novembro de 2020 no The British Medical Journal, estudo (2) realizado pelo departamento de psiquiatria e ciências neuro comportamentais da Universidade de Geórgia, nos Estados Unidos, avaliou os resultados de três ações focadas em reduzir o Burnout e aumentar a resiliência de uma equipe interdisciplinar de saúde.
Lembrando que Burnout é, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma síndrome causada por estresse crônico no ambiente de trabalho devido a problemas da administração e que leva a sintomas como sensação de esgotamento, falta de energia, negatividade e inclusive redução da eficácia profissional; é unânime a compreensão de que neste cenário pandêmico muitos trabalhadores estejam vivenciando esse sentimento.
Para o estudo, foi selecionada uma equipe com oito profissionais de saúde atuantes no tratamento da fibrose cística adulta de um centro médico norte-americano, uma amostragem pequena, porém capaz de trazer insights interessantes. Ao longo de 90 dias, três intervenções foram aplicadas e avaliadas.
A primeira ação consistia em um exercício de resiliência e bem-estar. Os participantes eram incentivados a apontar três coisas boas que ocorreram nas últimas 24 horas. Esse exercício foi feito diariamente por duas semanas. Além disso, a equipe também dedicava cinco minutos de suas reuniões para compartilhar novidades positivas.
A segunda ação envolveu uma apresentação de um especialista em produtividade, membro do departamento de Recursos Humanos da instituição, que trouxe estratégias e ferramentas capazes de contribuir com a eficiência e a redução de estresse dos trabalhadores. Essa intervenção foi uma aposta, visto que a redução da produtividade é um sintoma comum de Burnout.
A terceira e última ação baseou-se na prática da meditação. Liderada por um psicólogo e um nutricionista, a atividade reuniu os profissionais de saúde que assistiram a um vídeo sobre os benefícios da meditação, participaram de uma sessão guiada e foram incentivados a aderir, por 10 dias, a um programa gratuito de meditação gerido pelo aplicativo Headspace. Paralelamente, foi implementado, durante as reuniões, um exercício de atenção plena com duração de um minuto.
Para avaliar como essas três intervenções impactaram a dinâmica de trabalho desses oito profissionais de saúde, o estudo utilizou uma escala de estresse e um índice de cumprimento profissional, aplicados antes do início do projeto e imediatamente após. Como resultados, houve redução significativa no nível de estresse de sete dos oito participantes do estudo e diminuição considerável no grau de exaustão desses trabalhadores.
Questionados sobre qual ação foi mais proveitosa, três indicaram a estratégia de destacar diariamente três coisas boas que aconteceram nas últimas 24 horas; dois apontaram as estratégias para ampliação da produtividade; e um selecionou a meditação. E metade da equipe confirmou que pretender seguir utilizando essas ferramentas.
Obviamente, temos que entender que este estudo serve como gerador de hipóteses e não como uma evidência definitiva de benefícios da intervenção. Mas sua importância é exatamente destacar que temos necessidade de intervenções randomizadas e controladas em ambiente de ensaio clínico para entendermos como investir para ajudar profissionais de saúde com Burnout a lidarem com a síndrome.
Além disso, um tempo maior de seguimento seria bastante interessante, incluindo desfechos em prazos maiores de tempo como meses ao menos. É inevitável também, que consideremos testes de intervenções múltiplas contra intervenções simples, e que estratégias personalizadas (que podem incluir, por exemplo, espaço para atividades de lazer físico e mental) precisam ser avaliadas. Por hora fica a mensagem de que devemos aprofundar os estudos e abrir possibilidades. Os profissionais de saúde impactados agradecem.
Referências:
(1) Burnout in Healthcare Workers: Prevalence, Impact and Preventative Strategies
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