O Hospital de Base, localizado em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, começou a trabalhar com segurança do paciente em 2006 através de um grupo de segurança de enfermagem. Atualmente, uma série de inciativas promove um cuidado seguro
O cenário da segurança é diversificado no interior do Estado de São Paulo. Muitas cidades estão bem engajadas e outras ainda iniciando práticas mais seguras. “Vejo uma preocupação cada vez mais frequente, pois as cidades com maior número de habitantes e instituições de saúde tendem a adotar as práticas de segurança mundialmente conhecidas, possuindo núcleos de segurança para modificar as culturas organizacionais”, diz Maria Regina Lourenço Jabur, enfermeira, doutora em Enfermagem pela USP / Ribeirão Preto, Superintendente Assistencial da Funfarme/HB de São José do Rio Preto, coordenadora do Pólo SP da REBRAENSP.
Segundo a enfermeira, cidades menores – com populações de até seis mil habitantes e com poucas unidades de saúde – apresentam maior dificuldade de implantação de medidas de segurança. “É preciso extrapolar a questão da segurança na unidade de saúde para dar foco às redes de atenção à saúde, no domicílio, na continuidade do cuidado”, comenta Maria Regina.
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IBSP – No interior de São Paulo, a enfermagem está comandando o movimento de segurança e qualidade? Como vê esse novo papel da enfermeira?
Maria Regina Lourenço Jabur – Particularmente, vejo a enfermagem como líder nas instituições de saúde. Quando surgem movimentos, a enfermagem está à frente, assume a liderança, o que não esta sendo diferente na qualidade e na segurança do paciente. No interior de São Paulo, percebemos isto claramente: são os enfermeiros que discutem, implantam e lideram a qualidade e a segurança nos serviços de saúde. Na nossa região e em outras partes do Estado, a Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente ajudou o enfermeiro a desenvolver este papel, pois surgiu antes do Programa Nacional. Já tínhamos comitês de segurança implantado práticas seguras em nossos serviços.
IBSP – O que considera importante na gestão da enfermagem para prestar um cuidado mais centrado na qualidade do atendimento ao paciente?
Maria Regina – O foco da gestão da enfermagem tem que ser o cuidado. E essa gestão existe para facilitar o trabalho da equipe de enfermagem, dando condições para que esta equipe fique focada na qualidade do atendimento e centrada no cuidado ao paciente. Para isto, a gestão tem que rever seu papel caso esteja fugindo deste foco, revendo as prioridades.
IBSP – O engajamento da liderança é fundamental para que a segurança do paciente se torne uma realidade aplicada no dia a dia nas instituições de saúde?
Maria Regina – É fundamental termos líderes focados em segurança, pois eles irão disseminar esta visão por toda organização, ajudando a transformar esta visão em ações concretas, em resultados para a toda a organização.
IBSP – Quais os principais desafios de implementar as políticas de segurança em um hospital como o Hospital de Base?
Maria Regina – Em minha opinião, temos três grandes desafios:
Primeiro: o tamanho, total de 700 leitos de adulto (HB) e 200 de criança e maternidade (HCM), refletindo em várias unidades assistenciais: temos oito UTIs, três Cacos, com um grande número de colaboradores. Com isso, o principal desafio é tornar a comunicação efetiva.
O segundo desafio, que está relacionado ao primeiro, é a capacitação da equipe multiprofissional em práticas seguras. Ou seja, por termos diversas gerações trabalhando concomitantemente, temos que utilizar múltiplas estratégias.
Em terceiro lugar, precisamos de uma parceria com as instituições formadoras para que haja rodízio de residentes, alunos, já que todo ano o quadro se renova por sermos um hospital escola.
IBSP – Os funcionários e colaboradores do Hospital de Base foram receptivos mediante a implantação da cultura da qualidade e segurança do paciente?
Maria Regina – No início, os colaboradores acharam que era uma nova forma de fazer, mas lembramos a eles que, na formação em saúde, queremos e somos formados para oferecer assistência segura. No geral, há sempre um grupo mais receptivo, e é com este que devemos avançar. À medida que o tempo passa, as práticas se incorporam no dia a dia da organização, e o que parecia novo, já não é mais e, neste movimento, a cultura vai se implantando.
IBSP – Qual a importância de ter uma área dedicada à qualidade? Quais as principais atribuições atuais de vocês e quais os desafios?
Maria Regina – Sempre foi importante e continua sendo, pois a instituição precisa ter especialistas nesta área. Mas os papéis se modificam e vejo que os componentes deste setor devem atuar como consultores internos, apoiando as lideranças na solução de problemas relativos à implantação de boas práticas de qualidade e segurança. Como a qualidade permeia todos os processos, deve ser vista como tal. O grande desafio da qualidade é entender este papel de ser articulador, formador, capacitar os colaboradores em práticas de gestão de qualidade, auxiliando na elaboração e acompanhamento de indicadores, além de propor melhorias contínuas.
IBSP – O que tem dado certo em termos de segurança do paciente no Hospital de Base? Há algum projeto, ação que vocês têm colocado em prática?
Maria Regina –No Hospital de Base, começamos a trabalhar com segurança em 2006 através de um grupo de segurança de enfermagem. Já estávamos na Rede Sentinela. Este grupo começou atuando com indicadores de queda e lesão por pressão, elaborando protocolos, implantando, treinando e medindo os resultados.
Em 2010, criamos o Comitê de Qualidade e Segurança com equipe interdisciplinar: novos protocolos foram implantados e iniciamos a notificação de eventos adversos. Das várias barreiras para tornar a prática mais segura, uma delas gerou um resultado muito positivo: a tripla checagem de hemocomponentes. Outro projeto que foi implantado há dois anos objetivando a continuidade do cuidado seguro, após a alta, que denominamos alta qualificada, tem tido bons resultados. Pacientes do Sistema Único de Saúde que necessitam de cuidados após a alta, além do treinamento do cuidador (família), a equipe interdisciplinar elabora um plano de alta com os cuidados, e, por e-mail, encaminhamos a unidade referência do paciente no município, para que tenha continuidade com os profissionais da rede. Além disso, treinamos estes profissionais para que se sintam seguros para prestar a assistência. Neste projeto, houve uma redução de 22% para 7 % nas reinternações deste grupo de pacientes.
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