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Prontuário eletrônico deve viabilizar saúde baseada em evidências

Prontuário eletrônico deve viabilizar saúde baseada em evidências
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Modernizar o sistema de informação tem altos e baixos e precisa prever investimento a curto, médio e longo prazos

 

 

Sistemas de informação eletrônicos são facilmente associados à melhora na agilidade e ganho em qualidade, mas quando se trata de modernizar o sistema de prontuários, outros fatores devem ser levados em consideração.

De acordo com Cristiane Galvão, que é professora na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo e possui doutorado em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília, mestrado em Ciências da Comunicação e bacharelado em Biblioteconomia e Documentação pela Universidade de São Paulo, os prontuários eletrônicos podem ser vantajosos quando a equipe é altamente treinada e adequada para atuar no processo, além de ter uma boa relação com seus gestores, o que faz toda a diferença no resultado.

Outro fator importante a ser considerado são os custos altos para implementar e, ainda mais importante, manter tal sistema. Além de pesquisar com fontes diversas sobre o funcionamento do sistema escolhido, em vez de consultar apenas as informações do fabricante.

Confira a entrevista exclusiva com orientações de Cristiane Galvão para o IBSP:

IBSP – Um prontuário eletrônico ajuda na segurança do paciente? Por quê?
Cristiane Galvão – Não parto do pressuposto de que uma tecnologia sozinha pode aumentar ou diminuir a segurança do paciente. Em processos que envolvem tecnologias, como é o caso dos prontuários, há sempre o componente cultural dos profissionais de saúde. Por exemplo, se tais profissionais foram devidamente treinados para o uso da tecnologia, quais são os mecanismos para assegurar que a tecnologia seja corretamente empregada e também relações de poder, como o fato dos profissionais serem cooperativos ou estarem mais voltados a boicotar os sistemas implantados. Em síntese, quando falamos em prontuários eletrônicos, 20% das questões são tecnológicas e 80% são questões de ordem cultural, social e psicológica dos profissionais envolvidos. O gestor pode implantar um sistema de registro eletrônico de saúde, mas quando um profissional de saúde empresta sua senha para outro colega, de certa forma, o sistema é corrompido pela dimensão cultural.

IBSP – Quais as principais vantagens do prontuário eletrônico?
Cristiane – Para que a implantação do prontuário eletrônico tenha alguma vantagem é preciso primeiramente que tal prontuário siga padrões mínimos de qualidade especificados tanto nas legislações vigentes em cada país, quanto nas normas nacionais e internacionais. Aqui, no Brasil, por exemplo, temos a Associação Brasileira de Normas Técnicas, a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde e o Ministério da Saúde que apresentam normativas relacionadas ao prontuário eletrônico do paciente. Também os conselhos que regulamentam as diferentes profissões da saúde possuem diretrizes a serem seguidas para a implantação, manutenção e guarda de prontuários eletrônicos. Além disso, por se tratar de um documento eletrônico, as normativas do Conselho Nacional de Arquivos devem ser seguidas para fins, por exemplo, de preservação digital de longo prazo. No âmbito internacional, a International Organization for Standardization possui algumas dezenas de normas para garantir a organização, a confiabilidade e a segurança dos registros eletrônicos de saúde.

Assim, antes de adquirir um software para a informatização de prontuários, é importante verificar quais normas foram seguidas na sua produção. Posto isto, a principal vantagem seria ter dados mais consistentes e padronizados com foco na integralidade da assistência em saúde, resolutividade e qualidade.

IBSP – Existem dificuldades para implementar? Quais são elas?
Cristiane – Talvez, a maior dificuldade para se implementar sistemas de registros eletrônicos de saúde sejam os recursos financeiros. Não faltam instituições e países que investiram milhões de dólares em projetos de informatização, mas que, com o passar do tempo, não tiveram fôlego para sustentá-los. Assim, antes de começar qualquer projeto para transição tecnológica, minha recomendação é refletir sobre os custos. A instituição de saúde, o município, o Estado e mesmo o profissional de saúde precisam refletir muito se esses recursos existem e se estarão disponíveis no futuro. É importante ressaltar que não basta informatizar uma vez. É preciso de tempos em tempos adquirir novos equipamentos, novas infraestruturas tecnológicas, migrar dados. Todo esse processo deve ser pensado em curto, médio e longo prazo. Computadores quebram, falham, são invadidos. Assim, um projeto e seus respectivos planos de contingência devem ser estabelecidos de forma profissional e não improvisada.

IBSP – De quais tipos de prontuários eletrônicos os profissionais devem fugir? Por quê?
Cristiane – Recomendo que o profissional de saúde leia artigos internacionais produzidos por universidades ou empresas governamentais sobre os riscos e benefícios do processo de informatização dos registros de saúde. Estudos produzidos por indústrias de software podem conter vieses focando a comercialização, e, portanto, não recomendo uma leitura isolada desses materiais. É importante avaliar os conflitos de interesse e a metodologia que empregaram na avaliação dos softwares. Nos dias de hoje, softwares para prontuários eletrônicos precisam garantir a segurança dos dados, devem permitir a interoperabilidade de dados e devem contemplar uma preocupação com as terminologias a serem empregados a fim de que a informação produzida seja consistente, comparável e viabilize uma saúde baseada em evidências.

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