Conjunto de manifestações graves em todo o organismo geradas por uma infecção, a sepse é uma síndrome que acomete mais de 670 mil pessoas por ano no Brasil. Fomentar o debate sobre maneiras de melhor diagnosticar e conduzir esses casos é o caminho para melhorar esse cenário. Segundo o Projeto UTIs Brasileiras, criado pela Epimed Solutions® em conjunto com a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), há um aumento no número de casos de sepse no Brasil nos últimos anos.
O estudo mostra crescimento de 19,4% em 2010 para 25,2% em 2016 no total de internações por sepse nas UTIs brasileiras. Atrelada à essa elevação significativa estão fatores como, por exemplo, o envelhecimento populacional. Com maior número de pessoas com doenças crônicas mais suscetíveis a infecções, maior o risco do surgimento da sepse.
Além da inversão da pirâmide etária, há também o resultado positivo de campanhas de conscientização que ampliaram o debate sobre o assunto promovendo diagnósticos mais assertivos e maior notificação da doença.
Por isso é tão importante alavancar as discussões sobre o tema. Para o doutor Luciano Azevedo, presidente do Instituto Latino-Americano de Sepse (ILAS), é indispensável bater nesta tecla. “Apesar dos números, a sepse ainda continua sendo relativamente desconhecida pelo público leigo e pelos profissionais de saúde. Por isso a importância de campanhas de conscientização junto aos diferentes públicos”, pontua ele que é médico intensivista.
Mas há um motivo para comemorar. Paralelamente ao aumento dos casos, há uma queda no número de óbitos diretamente relacionados à sepse: a taxa de mortalidade dos pacientes internados com sepse nas UTIs brasileiras caiu de 39% em 2010 para 30% em 2016.
Em outro estudo direcionado, o ILAS concluiu que a implementação de programas de qualidade com educação e feixes de cuidados pode diminuir a mortalidade. Essa observação surgiu após a análise de 21.103 casos do banco de dados do Instituto entre 2005 e 2014. A pesquisa apontou uma redução da mortalidade de 47,6% para 27,2% nos hospitais privados. Enquanto isso, nos hospitais públicos, o cenário não foi tão positivo já que a redução foi de 61,3% para 54,5%.
Segundo o estudo, essa diferença provavelmente está relacionada aos níveis de organização e qualidade dos processos desses hospitais.
>> Sepse: os erros mais comuns no tratamento e diagnóstico
Nos EUA, onde cerca de 1,7 milhão de pessoas enfrentam a sepse todos os anos, um estudo de coorte envolvendo 568 pacientes internados em seis unidades hospitalares apontou que a sepse foi a causa mais comum de morte imediata. De todos os pacientes, a síndrome se fez presente em 300 casos, levando 198 pessoas à óbito.
Considerando que as causas subjacentes das mortes estavam relacionadas a comorbidades crônicas graves (como, por exemplo, câncer, cardiopatias, doenças pulmonares crônicas, e demência), apenas 12% das fatalidades foram consideradas como evitáveis. Mesmo que tenham sido identificadas falhas como atraso nos antibióticos em 22,7% das mortes associadas à sepse.
Projetos de Lei em busca de melhorias
O tema, extremamente relevante, vem ganhando notoriedade no setor público. No dia 13 de setembro de 2019 uma audiência pública apresentou dois projetos de lei do vereador Aurélio Nomura que visam disseminar a informação sobre a sepse e melhorar os desfechos. O Projeto de Lei nº 665/2018 menciona a adoção de um programa de prevenção à sepse e de protocolo de diagnóstico e tratamento por instituições que atendam ao SUS (Sistema Único de Saúde) dentro do município de São Paulo.
Considerando que, segundo o ILAS, a taxa de mortalidade por sepse é duas vezes maior nos hospitais públicos do que nos privados, esse projeto de lei surge como um alento para o segmento.
“O cenário da síndrome no Brasil merece atenção e ações. A taxa de mortalidade em UTIs do país entre pacientes que são admitidos em unidades de terapia intensiva supera 50%, enquanto a mortalidade em nações desenvolvidas e mesmo em alguns dos melhores hospitais nacionais permanece entre 15% e 20%”, diz o doutor Reinaldo Salomão, que é professor titular do departamento de Medicina e Disciplina de Infectologia da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) e membro do Conselho do ILAS.
Nesta mesma audiência, o vereador também apresentou o Projeto de Lei nº 664/2018 que sugere a inclusão do dia 13 de setembro como o Dia da Sepse no calendário oficial de eventos do município de São Paulo.
Referências:
Mortalidade por sepse no Brasil em um cenário real: projeto UTIs Brasileiras http://www.scielo.br/pdf/rbti/v31n1/0103-507X-rbti-20190008.pdf
Evans L. A closer look at Sepsis-Associated Mortality. JAMA Netw Open. 2019;2(2):e187565
https://jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2724765
Dia Mundial da Sepse
https://diamundialdasepse.com.br/
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