Treinamento com foco em segurança do paciente melhora a comunicação, a integração paciente-família e muda a cultura de uma instituição de saúde
Uma das prioridades absolutas das instituições de saúde é prestar uma assistência com qualidade e segurança ao paciente. Porém, para se oferecer um atendimento centrado no doente e que cada vez menos ofereça riscos de ocorrer um evento adverso, é preciso investir na capacitação dos funcionários dos hospitais – da administração à linha de frente assistencial.
Troca de experiências melhora os processos dos núcleos de qualidade
O IBSP conversou com Michael Medeiros Coelho, coordenador de Projetos do Oswaldo Cruz Hospital Alemão, que salienta a importância da capacitação em segurança do paciente para a equipe multidisciplinar.
IBSP – Qual a importância de treinar a equipe multidisciplinar para alcançar resultados que tragam menos danos ao paciente?
Michael Medeiros Coelho – É extremamente importante, pois um time de alta performance só alcança bons resultados quando todos os profissionais envolvidos na assistência conseguem ver a segurança do paciente como o foco principal. No cuidado paciente-família, a segurança precisa estar inserida no contexto, no olhar, no dia a dia dessa equipe multi. Atualmente, a assistência ainda é fragmentada, onde cada um atua dentro da sua categoria, trabalhando pequenos processos de segurança do paciente. A importância de capacitar profissionais de várias categorias, áreas de atuação com esse olhar, mostrando que quanto menos se errar, quem sai ganhando é o paciente, as famílias e as equipes de alta performance.
IBSP – Que tipos de cursos você considera fundamental nesta capacitação da equipe multidisciplinar?
Michael – O CRM é um curso essencial para toda equipe que trabalha com pacientes altamente críticos, assim como os cursos que abordam a segurança do paciente. Acredito que as especializações em segurança devem ser feitas por todos que fazem parte das instituições de saúde, desde a administração aos profissionais de saúde que estão na assistência direta, como médicos e enfermeiras. Para completar, acredito que a comunicação e a liderança precisam fazer parte do escopo desses cursos.
IBSP – Quais benefícios uma capacitação em segurança do paciente traz na prática diária?
Michael – Melhora a comunicação, a integração paciente-família e muda a cultura. Trabalhamos em uma cidade, como São Paulo, que tem alta rotatividade de profissionais e que faz com que o mesmo profissional de saúde trabalhe em diversas instituições ao mesmo tempo, que têm culturas diferentes. Então, trabalhar a cultura de segurança do paciente é de suma relevância para a qualidade do serviço de saúde oferecido.
Esses treinamentos acabam por mudar pequenos hábitos que, no dia a dia, passam a ser rotina e comprometem a segurança. A revitalização contínua das questões de segurança do paciente é o principal ganho da capacitação multidisciplinar.
IBSP – Em relação especificamente à enfermagem, o que considera fundamental trabalhar na capacitação relacionada à segurança?
Michael – O principal ponto é a comunicação efetiva, principalmente os processos comunicacionais entre as categorias da enfermagem – auxiliar, técnico e enfermeiro, pois há uma fragilidade nesta relação. Com isso, se o diálogo e a troca de informações na área de enfermagem não ocorrem de forma clara, há grande dificuldade de comunicação com a farmácia, a nutrição, a área médica, o paciente etc. Porém se o enfermeiro, no papel de gestor da qualidade, compartilhar seu conhecimento, a cultura de segurança vai sendo cascateada ao técnico e ao auxiliar.
IBSP – Quais os pontos de críticos de melhoria entre as equipes de profissional de saúde?
Michael – Além da comunicação, a passagem de plantão é um momento crítico e, por isso, precisa ser padronizada. O plantão da noite não pode ir embora sem passar para a equipe do dia, os registros precisam ser realizados obrigatoriamente. Como a enfermagem é cerca de 80% do hall de profissionais de saúde de um hospital, isso faz com que este grupo acabe liderando alguns processos de gestão de qualidade e segurança do paciente.
IBSP – Quais os projetos de destaque na área de segurança do paciente do Oswaldo Cruz Hospital Alemão?
Michael – Temos o projeto “Reestruturação de Hospitais Públicos”, que funciona desde 2009 e funciona por triênio. Estamos no terceiro ciclo de implementação do Programa Nacional de Segurança do Paciente em instituições do SUS, trabalhando melhorias de processos no hospital inteiro.
Durante os três anos, passamos por todas as áreas, desde a unidade de terapia intensiva às de internação, além de atuar nos protocolos de gerenciamento de risco, metas internacionais. A realidade dessas instituições é muito diferente da do Oswaldo Cruz, por isso trazer a cultura de segurança para dentro de hospitais do SUS é um grande desafio.
IBSP – Quais os resultados desse projeto de Reestruturação de Hospitais Públicos?
Michael – Já passaram por esse projeto 21 instituições, sendo que atualmente há 18 em andamento. Houve diversas melhorias, como a criação do núcleo de segurança, a implantação do gerenciamento de risco, além de diversas melhorias.
IBSP – Quais as boas práticas de segurança no Oswaldo Cruz?
Michael – Somos acreditados pela Joint Commission, que exige uma série processos que precisam ser executados e controlados. Então, cada gestor trabalha em parceria com o setor de qualidade, que faz a gestão macro de qualidade e segurança do paciente.
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